A vontade

Vontade é coisa séria. Ando carente e convalescente dela. Olho à minha volta e vejo correspondência e livros empilhados, roupas e calçados desordenados e esparramados, a pia atulhada de xícaras e copos, prendedores de cabelo por todo canto……..Uma senhora bagunça. Uma senhora projeção do meu momento. Suspendi a fluoxetina. Enquanto meu Lexotan de carne e osso não chega, uso o alopático sem culpa. Ele me garante uma boa noite de sono – mas está com as horas contadas. Não me incomoda este momento rastejante, desprovido de paixões e energias, movido apenas pelas necessidades básicas. Pois, passageiro e necessário. Tenho tempo para este tempo. Não preciso acelerar nem pular etapas. Este tempo cicatriza e fortalece. Meu próprio inverno aguardando pela primavera, depois o verão. Só isso já me deixa felicíssima. Tenho tempo. Quantos tem este tempo? Poucos. Quantos podem invernar fora de época? Poucos. Vão a jato para o verão, via fluoxetina, sertralina, paroxetina e outros afins. Já fiz isso no passado. Hoje, não mais.  A vontade voltará quando estiver pronta. Já sinto ela coçando, macia, leve, sussurrante. Ainda está encolhida em si, embrionária, ganhando força para vir à tona. O tempo dela ainda não chegou.

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