Assisti ao filme dirigido por Clint Eastwood, nesta quarta-feira, depois de horas de curso de MAC: informação demais, tempo de menos. O filme com Angelina Jolie interpretando a mãe Christine Collins também é demais. Ótimo excelente. O filme conta a história verídica do sumiço de Walter (filho de Christine) enquanto esta trabalhava como telefonista, a corrupção da polícia de Los Angeles, a determinação e obstinação maternas, a insensibilidade da psiquiatria da época, um “serial killer”, a sentença de morte por enforcamento. O ano? 1928. Vários são os temas que merecem destaque. Escolhi dois: 1. Logo no começo do filme, quando a mãe comunica às autoridades policiais o desaparecimento do filho, esta pergunta o horário em que a criança desapareceu. Christine diz que não sabe: poderia ser tanto pela manhã como à tarde, pois ela trabalhou o dia todo e o filho, de 9 anos, ficou sozinho em casa. Se fosse hoje, esta mãe estaria em maus lençois. Seria acusada de negligência e abandono de menor e estaria ela própria enrolada juridicamente. Lembrei das vezes em que eu, com filha pequena, família e amigos distantes, sem empregada ou babá, aproveitava os momentos em que ela dormia e saía para resolver pequenas questões externas. Oito anos depois, com a chegada do segundo filho, responsabilizei-a pelos cuidados ao irmão, inúmeras vezes. Normalmente coisa rápida. Mas nem sempre. Óbvio que uma mãe não quer deixar seu filho sem cuidados, mas muitas vezes as circunstâncias a obrigam a correr certos riscos. Toda vez que vejo a mídia crucificar mães ou pais “relapsos” por causa de acidentes ou tragédias acontecidas nestas condições, fico imaginando quantos pais e mães naquele mesmo dia tiveram outra sorte com suas circunstâncias e poderão dormir tranquilos, pois nada aconteceu a seus filhos, deixados temporariamente à própria sorte ou em mãos de pessoas ainda não plenamente confiáveis. Centenas, talvez milhares. 2. O segundo momento impactante é a hora da execução do “serial killer”: as famílias das crianças assassinadas assistem de pé a execução do criminoso sentenciado à pena máxima pela barbárie perpetrada aos filhos. A sensação é de um acerto de contas, de punição à altura. O poder público, a sociedade, representada pela polícia age de forma a fazer justiça para estas famílias, sofridas com a perda e a crueldade com que seus filhos foram fria e barbaramente aniquilados. Deus queira que jamais passemos por isso, mas diariamente vemos famílias dilaceradas com a perda de seus entes queridos e a impunidade da justiça. Famílias que veem ou sabem dos assassinos de seus filhos soltos, amparados por direitos humanos e beneficiados por leis retrógradas e injustas. Mesmo que nada traga o filho de volta à vida, imagino que ver a justiça acontecendo ameniza a dor da perda e auxilia o processo de luto. Infelizmente o que mais vemos é um duplo luto: a perda do filho e a perda da crença na justiça. Lamentável. Quase 100 anos depois do desaparecimento de Walter a sensação é de que involuímos.