Em parte é isso mesmo. Quem trabalha não tem que se preocupar com o que fazer no dia – tem o trabalho em si por fazer (o que quer que este seja) o que demanda tempo, dedicação e esforço. Os amigos vem junto ( e se não tem amigo do trabalho, você é um chato antissocial ou seu trabalho é uma droga). Bem ou mal, final do mês a grana cai na sua conta. O trabalha obriga a sair de casa, tomar sol, chuva e ficar antenado ao que acontece a sua volta. Ele obriga – e dá – tudo isso e muito mais. Difícil é acordar pela manhã e se deparar com a imensidão do dia, e ter de encontrar ocupação, objetivo e gratificação por conta própria. As armadilhas nesta condição “parada” são muitas. Quando parei de trabalhar entrei numa crise braba. Fiquei meio deprimida, insegura, quis voltar atrás (e voltei), sentia-me uma reles inútil desinteressante desempregada. O trabalho me definia e me identificava. Assim como definia e identificava minha vida e meu dia-a-dia. Aos poucos fui me permitindo fazer outras e novas coisas, e hoje, faço muito mais do que quando trabalhava. Normalmente minha agenda é tão cheia e diversificada que não sinto mais saudades dos nomes e compromissos na minha agenda de trabalhadora (sinto saudades da convivência com as pessoas envolvidas no meu fazer: colegas, pacientes, equipes), nem do corre-corre do meu dia de folga. Hoje me programo com mais folga e elasticidade e me ocupo de manhã à noite. Meu mundo expandiu-se de forma surpreendente e hoje acredito que o trabalho me sufocaria e limitaria. Talvez, na época, eu devesse ter me organizado pra poder acomodar mais atividades; meu dia começava cedo ( das 7 às 19 horas) e era de casa pro trabalho, do trabalho pra casa, especialização nas sexta-feiras e fim-de-semana dedicado à família. Faltava tempo pros amigos, “hobbyes”, família extensa, livros, cinema, atividades físicas, etcetcetc. Uma simples ida ao supermercado já tumultuava minha agenda, normalmente apertada. Minha vida era o trabalho, marido e filhos. Hoje, além do marido e filhos, me envolvo com academia, livros, blog, internet, escrita, cursos variados, idas a cinemas e museus, viagens, cafés, encontros, jantares e almoços com amigas(os), TV, “scrapbooking” e tudo o que se pode imaginar que uma mente curiosa e um corpo saudável possam querer. O perigo continua sendo a acomodação e a repetição das atividades criando rotina e estagnação, o que acontece também quando trabalhamos, já que nos acomodamos à rotina diária do emprego e/ou do trabalho. Por isso, sempre que possível, navego na internet (coisa rara nos tempos de trabalho) e verifico possibilidades: Exposições, filmes, livros, amigos, cursos, faxinas, etcetcetc. O dia acaba ficando curto como quando eu trabalhava “out”. Hoje meu trabalho “in” me absorve tanto quanto. Quando não mais.