Ato III
Lola não sobreviveu. Foi decapitada, trucidada e atropelada. Mataram-na como personagem. Na autópsia, verificou-se resquícios de laudo e perícia psicológica. Ela não se sustentou com palavras pouco expressivas, e, sem ação, confundiu-se numa descrição de possibilidades, sentimentos e obviedades totalmente dispensáveis. O que complicou a sobrevida de Lola foi a prescrição de antidepressivos ao invés de carbolítium. Talvez, se a medicação estivesse adequada, sua morte pudesse ser evitada. E como ninguém viu a bipolaridade de Lola, mas sim, uma personagem confusa, sem uma persona forte e definida, concluiu-se que o melhor para seu futuro, seria a morte. Também os sonhos, loucuras e clichês, onde Lola foi ambientada, foram considerados ambientes inóspitos, não recomendados e proibitivos no universo literário em questão. Assim, no obituário de Lola aparecerão mais algumas considerações: o texto precisaria se bastar, com início, meio e fim (embora criado para dar continuidade a um projeto considerado promissor); a primeira frase deste texto precisaria – necessariamente – ser estratégica (é nela que Lola deveria cativar por sua graça e complexidade; e ela fracassou retumbantemente), sem contar que ela precisaria ser percebida como um ser ativo e objetivo, e não como um ser sensitivo e subjetivo. Tenho de reconhecer que esta morte fez-se necessária, mas não será em vão. Lola foi fruto de outra formação e função. Psicologicamente falando, um excelente estudo de caso. Literariamente falando, nasceu fantasma sem jeito e sem estrutura. Teve que morrer.