- Amor da minha vida, tudo bem?
- Tudo bem mesmo?
- Hã, hã. Por que? Alguma coisa errada?
- Errada?
- É. Errada. O que está acontecendo?
- Acontecendo? Nada.
- Fala logo. Te conheço.
- Tá. Liguei pra sua mãe.
- E?
- Pedi pra ela ficar num hotel. Eu não aguentaria conviver com ela um mês inteirinho, com você viajando o tempo todo. Você sabe como ela pega no meu pé. Critica tudo. Diz que minha comida é horrível, que parece uma lavagem, que não cuido bem de você. Vive cobrando netos e insinuando que sou estéril e egoísta. Ela me detesta. Você sabe disso, não sabe?
- Você está exagerando.
- Exagerando? Eu? Você é um insensível!É fácil falar quando se sai segunda-feira às oito horas e volta no sábado pela manhã. É fácil falar quando se é o filho perfeito e favorito…. o queridinho da mamãe.
- Isso não é verdade.
- É verdade e você sabe disso.
- Em que hotel ela vai ficar?
- No “Aconchego Inn”. Me perdoa?
- Na pensão da dona Marcelina?
- Foi o mais em conta que encontrei. É por um mês, lembra?
- Mamãe vai me matar! Você tem coragem de me chamar de insensível?
- Ela vai adorar. Você vai ver. Tem sempre uma fofoquinha….
- Você já falou pra ela?
- Mais ou menos. Ela sabe que reservei um hotel pra ela ter mais privacidade. Mas não disse que seria na pensão da Dona Marcelina. Me perdoa?