Há anos, Raquel frequentava o Salão Nobel. Era lá que fazia, esporadicamente, pé, mão e cabelo, e onde encontrava a maioria de suas amigas. Caras novas nos lavatórios, sofás e cadeiras do salão, eram raridade. Coisas de cidade do interior, onde todo mundo se conhece desde sempre. Até surgir a loira de um metro e oitenta, ancas largas, seios fartos, cintura fina, cabelos longos levemente encaracolados. A sensação do salão, tão logo se acomodou no sofá. Raquel a olhou com o canto do olho e foi logo pensando, na amante de quem, seria aquela prostituta de luxo. Amanda percebeu o olhar de Raquel e foi até a cadeira onde a manicure terminava de pintar suas unhas.
– Quanto tempo Raquel? Não me reconhece?
– Você deve estar me confundindo com alguém.
– A Amanda. Do colégio. Fomos colegas na quinta-série….
– Amanda? Nossa, você mudou muito!
– É verdade. Foi pra melhor, não foi?
– Com certeza. Precisa me passar a receita!
Raquel ficou imaginando as cirurgias plásticas e lipoesculturas que Amanda teria feito ao longo dos anos. Trinta anos? Certamente, colocara prótese de silicone, usara botox e devia levar uma vida muito fútil entre academias, shoppings e clínicas de estética.
– Você também está bem. O que tem feito?
Raquel viu-se de relance no espelho e sentiu-se desconfortável com a figura envelhecida de cabelos brancos mal cortados e ressecados, o excesso de peso, o olhar amargurado e severo.
– O que mulheres de bem fazem. Cuidar da casa, do marido, dos filhos, do cachorro…….E você, o que faz por aqui?
– Ainda estou decidindo o que fazer…… separei há pouco tempo……talvez fique por aqui.
E Raquel fechou a cara. Tudo o que ninguém naquela cidade precisava era de alguém como Amanda.