– Maria, você viu minha caneca que eu trouxe da Califórnia?
– Não senhora, não vi nada.
– No mínimo, alguém quebrou.
– Não fui eu, Dona Larissa.
– Não estou dizendo que foi você.
Larissa já estava perdendo a paciência com Maria. Não fosse ela indicação da sogra, já a teria dispensado há tempo. A recomendação veio por escrito e só faltou uma estrelinha pra comprovar idoneidade e competência (mas o que dizer das taças de vinho, do vaso de cristal, do Chanel no. 5, que simplesmente apareceram quebrados? E agora, sua caneca preferida! )Isso sem contar no melhor cabeleireiro, na melhor doceira, a melhor agência de viagens, o melhor ginecologista, o melhor encanador…… Tragédia. Era o que cada uma destas indicações representava. E não era exagero: sua sogra, ou era ingênua, ou uma grande sacana.
– Maria, você viu ……
– Não vi nada, não senhora. A senhora tá querendo encontrar coisa que é pra me dispensar.
– Quem está pensando em dispensá-la, Maria? – Eis que chega o filho da guru dos desastres domésticos. O filho eternamente encantado pela mãe.
– Ninguém quer dispensar a Maria. Só estou perguntando por coisas que não encontro.
– Querida, é essa sua eterna bagunça. Se você fosse um pouco mais organizada, não perderia as coisas dentro da própria casa.
Larissa simplesmente se fez de surda.
– Acabei de passar na casa de mamãe pra tomar um cafezinho, e ela, indicou um ban-ban-ban em “fertilização in vitro”. O que você acha? Vamos tentar mais uma vez?
– Decidi que não quero mais ter filhos.
– E eu não tenho nada a ver com isso. E Maria sumiu pela cozinha.