“Maldita hora em que fui mexer no celular”. Deveria ser o reencontro perfeito, mas foi o celular de Renato tocar e Paula não se controlou. Atendeu no segundo toque e, ouvindo a voz melosa no outro lado da linha, não se conteve e jogou o aparelho no sofá. Indignado, Renato pegou o telefone – perdido entre o sofá, a mesinha de centro e o tapete da sala – olhou quem era e retornou a ligação. “Alô Mariana, algum problema?” E falaram sobre juros e aplicações financeiras. Sua gerente de conta o aconselhava a tirar seu bônus anual da poupança e aplicá-lo em CDBs.
Paula, envergonhada, acompanhava a conversa enquanto ajeitava a manta do sofá, as revistas, as almofadas. O ouvido atento engolia o olhar perdido em nada. Aos poucos a conversa comercial ganhou tom e sorrisos. O olhar viu Renato se esgueirando feito gato, lambendo com dedos os cabelos e Paula foi se achegando cada vez mais ……. Renato afastando-se ……. e mostrando claramente, o quanto Paula estava sobrando naquela sala.
-Tá procurando alguma coisa?
– Não.
– Não tá vendo que estou tratando de negócios?
– Não parece.
– Não vai começar. Achei que você soubesse que não suporto mulher ciumenta e possessiva.
– Eu? Ciumenta e possessiva? Até parece!
Renato nem respondeu. Pegou a chave do carro e a carteira e, antes que chegasse à porta da sala, foi agarrado por Paula.
- Onde você pensa que vai?
- Chega. Eu. Não. Aguento. Mais. Pra mim, chega. Deu.
Paula olhou e viu no rosto irritado e frio de Renato que ela passara dos limites, de novo.
– Amor da minha vida, você me perdoa? Exagerei, né? Não sei o que aconteceu. Mas não vai mais acontecer. Eu prometo. Me perdoa, vai?
Renato afastou Paula com cuidado, abriu a porta, saiu e foi ao banco. Sequer olhou para trás.