Sempre que viajo ao exterior um dos problemas é o idioma. Belisco um pouco do inglês, do espanhol e do alemão. Já fiz cursos, li textos, e cheguei à conclusão de que minha inteligência linguística é lesada e que aprendo mais com os olhos e ouvidos do que com o cérebro e suas funções comprometidas. Assim, sempre que viajo ao exterior, os primeiros dias são como um caça palavras. Vou assimilando, de pouco em pouco, palavras, expressões e frases e, de repente, compreendo 60% do inglês, 80% do espanhol e uns 90% do alemão. Olhos e ouvidos atentos, eis o segredo da memória. Entender, eu entendo. Falar é outra história. Mas, quando viajo, falar não é minha prioridade … me comunicar, sim. E para isso, uso sem melindres, a linguagem internacional dos gestos. Lembro de uma vez, na África do Sul, em que eu precisava de uma colher e não encontrava a palavra em lugar algum (perdida num caça-palavras inglês) e, como já havia chamado o garçom, não me restou senão, fazer círculos sobre a xícara, olhar sorridente e dizer o inesquecível “Please” e olhar da xícara a ele, esperando que suas funções cerebrais não fossem lesadas. “Spoon?”. “Yes, spoon.” Problema resolvido. O que não pode faltar jamais na bolsa de uma lesada linguisticamente é um bloco de anotações, caneta, um minidicionário (desses, bem pequenos), óculos (pra ler as mini palavras do minidicionário) e uma calculadora. Normalmente nestes dicionários tem as frases mais comuns do dia a dia, e uma das que mais uso é “How much is this?” Aí vem a tragédia total: entender números naquelas palavras. Grego total invertido. É por isso que preciso da calculadora! Ou do bloco. O desenho do número é universal, graças a Deus! Depois de conversados, numerados e letrados, a calculadora faz as contas de multiplicação, divisão, adição e subtração. Hora das conversões da moeda. “Thank you” e sigo em frente. Ler mapas é sempre uma incógnita. Primeiro, preciso me localizar e orientar meu GPS interno. Se este primeiro passo é feito com sucesso, leio qualquer mapa e chego a qualquer lugar. Quando este primeiro passo não acontece, fico neurológica e turisticamente labiríntica. Perdida, sem saber onde é frente e atrás, esquerda e direita. O mapa pode estar invertido que não vou perceber. Só identifico o que está acima e abaixo, o céu e a terra. Raramente acontece, mas, acontece. E quando acontece, o jeito é dar a mão e se deixar levar, acreditando e confiando que meu companheiro saiba pra onde estamos indo. Aconteceu no metrô de NY e nas ruas numeradas da cidade. Fui infectada por um “tilt” inexplicável, já que todo mundo se acha por lá. Fiquei de mãozinha dada. Tão romântico. Não é preciso dizer mais nada.