Moio (na língua zulu significa o que vem do coração) foi nosso guia. Os machos Kitsua, de 13 anos e Kaspa, de 26, os elefantes do santuário. Primeiro uma aulinha básica sobre alimentação – sabe o que é comer 500 kg por dia e digerir apenas a metade? – fisiologia e algumas curiosidades paquidérmicas. Depois, um encontro tete a tete com direito a beijo, toques e sonoros puns. Céus, cheguei à conclusão de que o elefante é um porco gigante: fedorento, sujo e punzento. A pele dura e áspera, a língua macia como espuma da NASA, o jeito moleque de Kitsua e nem aí de Kaspa, me deixaram nervosa e temerosa. O beijo no pescoço foi inesquecível: levei um chupão (mistura de ração e baba de elefante) melequento e fedido. Sobrevivi. Mas, ainda tinha o passeio. Até então, meu elefante havia sido o indiferente Kaspa. Toques, beijos, passeio com a mão dentro da tromba – eca, que meleca – e alimentá-lo jogando a ração dentro da tromba. Pro passeio individual, prepararam-me o Kitsua. Para o passeio em dupla, Kaspa, por ser maior e mais forte, era o indicado. Compreensível. E lá se foi o casal de canadenses com meu grandalhão! Em ambos, o elefanteiro é um guia preparado. E lá fui eu, montada no Kitsua, abraçada ao guia Richard. O elefante adolescente se portou como tal. Além do que, ele não estava nem aí, e foi comendo sem cerimônia os agrados (ração) que recebeu como estímulo. Cocozando e punzando – certo, o pobrezinho digere apenas a metade dos 500 Kg que come, a outra metade, tem passagem direta – fomos fazer nosso passeio. Kitzua era repreendido com uma vara o tempo todo, andava, empacava, e eu lá, a cinco metros do chão no lombo de um elefante indisciplinado e mal comportado. Soube depois, que ele se portou melhor nos passeios seguintes. O pobrezinho ficou embodocado. Aí imagina: caminhar, obedecer comandos, comer, punzar, fazer cocô era demais para um cérebro de 5 Kg inundado de informações e tesão. Saí ilesa da experiência. Algo pra se fazer uma vez na vida. Duas, nem pensar! Mas aí conheci a Tailândia, e veio a informação – ilusão talvez – de que o elefante asiático é mais servil, obediente, comportado e manso. Será menos fedido e porco também?