Buen Camino

IMG_2731

Fiz um trecho da Caminhada de Santiago de Compostela em 2010. Foram 200 Km em sete dias. Um grupo de amigos – cinco casais – desafiaram o frio, a neve e os próprios limites do corpo. Depois de todo sacrifício e êxtase da chegada, uma pequena reflexão daqueles dias memoráveis.

IMG_2768

Reflexão Compostelana: Soube da Caminhada de Santiago de Compostela, quando li “O Diário de um Mago” de Paulo Coelho, há trocentos anos atrás. A primeira vez que li, me apaixonei pela aventura mística e espiritual dos protagonistas. Quando decidimos fazer a peregrinação, vibrei e me imaginei tendo vários insights e revelações. Minha própria jornada espiritual. Alguns perguntavam qual seria meu objetivo com a caminhada. Sinceramente, estava apenas curiosa. Minha única certeza era a de que eu caminharia no meu ritmo e no meu tempo. Não queria nem me lesionar, nem fazer da caminhada um suplício. Desde o primeiro dia, saía com o grupo, e aos poucos, ia ficando para trás. Ao sair, a única informação necessária era saber aonde os encontraria no final do dia. E assim foi. Não me machuquei e fiz da caminhada, uma meditação diária.

IMG_2725

Contemplava a natureza, ouvia o canto dos pássaros (cotovias?), apreciava as flores, reconhecia meus próprios limites físicos e observava o que os outros faziam com os seus, procurava entender motivações e interesses de cada um, rezava, fotografava, conversava.

IMG_2728

Percebia que alguns queriam chegar na frente, outros não queriam ficar para trás. Alguns buscavam o desafio físico, outros apenas acompanhar ou rezar. Alguns apenas passaram pela estrada, focados que estavam no destino final. Cada um fez, do seu jeito, a sua própria jornada e se expressou por completo. Cada um foi com objetivos próprios e foi respeitado em sua busca e caminhada. Esta é uma revelação fácil de perceber e difícil de entender. É preciso respeitar seu semelhante em sua própria jornada, sempre.

IMG_2754

A caminhada revela como somos. Companheira inseparável, nossa mochila, mostra o peso que carregamos em nossas vidas. Carregamos mais do que podemos? Somos capazes de jogar fora o que não mais nos serve? Pedimos à outro que a leve por nós? Todas as noites era um alívio retirar a mochila das costas e jogá-la na cama. Assim como era angustiante recolocá-la todas as manhãs, e seguir em frente. Neste meio tempo, entre o retirar e o recolocar da mochila, o desequilíbrio e a leveza do corpo. O peso e a própria mochila acabam se incorporando e abraçando nosso corpo. E, por mais pesada que esteja, ela orienta, dá suporte e conduz. Ela traduz nossos valores, princípios e escolhas.

IMG_1792

As coisas úteis, fúteis, necessárias, desnecessárias e imprescindíveis que escolhemos para nossas vidas. Do que não posso (?) abrir mão? O que é realmente essencial? Quanto a mim, concluí que carrego mais do que preciso e posso. Eu sempre soube disso. Carrego minhas escolhas e não as abandono, por mais pesadas e dolorosas que sejam, mesmo que adoeça: minha bursite crônica do ombro, minhas ansiedades, enxaquecas e labirintites ocasionais são prova disso. Assim sou eu. Teimosa, talvez. Persistente, com certeza. Preciso aprender a desistir e abandonar o que é fútil e inútil, aquilo que não agrega, nem me satisfaz mais. Outra revelação do Caminho. 

IMG_3167

Deixe um comentário

Preencha os seus dados abaixo ou clique em um ícone para log in:

Logo do WordPress.com

Você está comentando utilizando sua conta WordPress.com. Sair /  Alterar )

Foto do Facebook

Você está comentando utilizando sua conta Facebook. Sair /  Alterar )

Conectando a %s