De Triacastela à Sarria, andamos 28 quilômetros pela pouco usada Rota Sendeirista. Passamos pelo Mosteiro de Samos e nos aventuramos (sem querer e sem saber) por um caminho mais longo e bucólico, com muitas trilhas numa mata fechada e uma sensação incômoda – pra não dizer angustiante – de estarmos perdidos. Cruzamos pastos e potreiros e em meio às vacas, pedras e matos, reencontramos a trilha. Chegamos às 16 horas em Sarria quebrados, doloridos e exaustos. À noite, confraternizamos com o grupo light num restaurante maravilhoso onde era fácil identificar outros peregrinos. O jeito alquebrado de caminhar e dolorido de erguer-se das cadeiras delatava a todos. Ríamos ao perceber que, já no segundo dia fazíamos parte de um grupo maior ainda. Éramos um TODO universal na Caminhada de Santiago de Compostela. Amanhecemos com cinco graus centígrados, no terceiro dia de caminhada. Os 23 km de Sarriá a Portomarín foram difíceis, com direito à cãimbra, distenção no tendão de Aquiles, dor, determinação, superação e 12 km na sola do confortável chinelo Havaianas, em ritmo de tartaruga. Por onde se olha, as setas amarelas indicam o caminho a seguir. Nas paredes das casas, nas pedras, nos muros, nas árvores, no chão. Onde há necessidade, há um sinal. Buen Camino, o cumprimento internacional entre os peregrinos, é muito mais que cumprimento. É estímulo e motivação. É cuidado e admiração. Chegamos todos, física e espiritualmente cansados. Entre pedras e flores, mais uma pérola: “E eu sou homem de tomar remédio?” Tomou. Melhorou. E na manhã seguinte, estávamos todos preparados para os 26,7 km entre Portomarin e Palas de Rei.