Nina, Chanel, Chanelita,
Nininha, Bebê.
Era menina peluda
negra, brilhante.
Jeito de gatinha manhosa, meiga e mimosa.
Chegou pequenina miando solto.
olhou o olho amarelo no meu,
e ficou.
Nos encantamos.
Meu olho azul e meu coração apaixonou.
Dormia junto. Ao lado. Aos pés. À volta.
O espaço era felino e afetivo.
Fingia acordar quando acordava – eu.
Descia escada, quando descia – eu.
Sinal de o dia começar.
Ela e eu a zanzar.
Queria ter também – ela – sua privacidade.
Debaixo do pinheiro, da roseta,
no banho de sol na floreira,
no sofá da sala,
na invisibilidade do dia, do tempo, do espaço,
ela sumia.
Ronronava ao toque,
espreguiçava gostoso, feito iogue.
Miava comida.
Miava rua.
Miava colo.
Miado cessado.
Nina voltou pra casa.
Voltou pra eternidade.
– onde vez ou outra se refugiava, desconfio –
Ela não esperou por mim.
O tempo dela era diferente do meu.
Perdi ela pra sempre.
Ela – agora – se esconde em mim.