
Todo mundo conhece a minha mãe. É só falar da casa de esquina de Colinas, onde sempre tem Coelhos na Páscoa e Papais Noeis no Natal subindo pelas paredes, dependurados em árvores, espiando pelas flores, enfiados em vasos, janelas e portas … dá entrevista na RBS, rege coral de idosos e cantores de igreja, e todo mundo sabe quem é. Ela também tinha um jardim maravilhoso com pinheiros frondosos, muitas algarves e orquídeas, ganhou prêmio de jardim mais bonito de Colinas.
Os anos passaram, minha mãe entrou na melhor idade – palavras dela – e o jardim a acompanhou. Aos poucos, as britas foram ganhando espaço, as plantas se agigantaram, a grama ficou mirradinha – e minha mãe, com o dedo verde – o que enfiava na terra, brotava, junto com vasos, esculturas, pedras, gatos, o que se pode imaginar num jardim que envelheceu junto com seu dono.
Como qualquer pessoa acima dos setenta, certas mudanças soam como ir pra lua. E, assim como joguei armários infestados de cupim no lixo, dei fim em xícaras sem alças e travessas rachadas ou lascadas, sumi com cortinas de gabardine bege com bandô marrom … achei que era hora de mergulhar no jardim e dar a ele o vigor de seus melhores anos. Jardins são benções e verdadeiros santuários em nossas casas. Assim como nós, precisam ser reciclados e revitalizados. Amo o verde do gramado, dos arbustos e árvores. Gosto do coloridos das flores e plantas permanentes, e torço o nariz para as florzinhas de época. Dão muito trabalho e duram pouco.
Como já reformei meu próprio jardim algumas vezes, me considero uma paisagista autodidata, que enfia a mão na terra, estuda as plantas, carrega pedra, planta, replanta, e principalmente, adora experimentar e inovar. Basta uma boa equipe de jardineiros, o olhar atento e observador, arregaçar as mangas, enfiar o pé na bota e não ter medo de errar. A natureza ensina. O básico – como tudo na vida – é o respeito. Cada planta tem suas preferências – existem as que gostam de sol, sombra, terra fraca, adubada, seca, úmida. Melhor respeitá-las.

Em tempos de mão de obra cara e falta de tempo, plantas de baixa manutenção, cactos e leguminosas, algumas pedras gigantes, e clean, é como o jardim deve ser. Nada de excesso de informação. O muito polui e ofusca a beleza dos detalhes. A natureza é bela na minúcia que só precisa de espaço para se mostrar.
Quando começamos a reformar o jardim da minha mãe, pensamos pequeno. Só um canteiro. Depois veio o replantio de cicas, bromélias, cactos, estrelitzas, recolher vasos, derrubar o coqueiro podre, sucatear as hortênsias azuis e japonesas, podar as azaleias, desfolhar palmeiras, cortar galhos secos, arrancar espadas de São Jorge, arrancar bubines, arrancar, arrancar e arrancar e replantar a grama, fazer um muro natural para as orquídeas, reposicionar os pisantes, e, ufa. ¼ do jardim ganhou roupa nova.
Como é fazendo que se vê como fica, decidimos relocar Juliana de pedra e os vasos romanos. O jardim, faceiro com tanto cuidado e atenção, foi se exibindo e ressurgindo, pedindo cada vez mais. Ele ainda quer mais. Sabe que pode mais. Mas, decidimos nos brecar e dar tempo. Agora é hora de crescer e florescer.
Concordo com o escritor Edgar Allan Poe “Fico surpreso que ninguém tenha descrito o jardineiro como poeta, pois a formação de um jardim oferece às musas a perfeita oportunidade de criação.” Também me surpreendo com a poesia que germina da semente e do universo que se cria quando nasce um jardim.
Contanto que a Jabuticabeira continue no jardim…. 🙂
Olá Suzete, curto muito jardinagem também adorei as plantinhas com flores roxinhas da sexta foto e gostaria de saber o nome delas. Se puder me informar ficarei muito grata.
Deve estar lindo agora o jardim da sua mãe, parabéns!
Abçs
Malu