Sonho antigo do meu marido, que organizou, detalhe à detalhe, toda a viagem. (Quando digo, detalhe à detalhe, quero dizer: agendou e reservou bilhetes aéreos, hoteis e motos, fez o programa diário, garimpando as melhores atrações do nosso trajeto, providenciou camisetas e animou o grupo, desde a organização, preparação e durante toda a aventura.) E, como o marido é meu, sonhei com ele.
Viajamos entre quatro casais, todos lunáticos e sonhadores: três casais de Harley Davidson e um de camionete Nissan. Afinal, onde colocaríamos nossas malas e tralhas para os quinze dias de viagem?
28.04.2012. Vôo de São Paulo, com conexão em Houston. Destino: Albuquerque, Novo México, onde retiramos as motos Electra Glide, da Harley Davidson, previamente alugadas da Eaglerider cuja rede possui mais de 3000 motos Harley para aluguel, em todo território americano. Depois de comprar o intercomunicador de capacetes e rodar pela cidade – é preciso reconhecer a máquina entre as pernas – um saboroso “steak” no Restaurante Paul Monterrey. Alegria pura e muita disposição, apesar da noite mal dormida. Já o segundo dia foi agito puro.
Além de testar as motos e errar impublicáveis vezes o caminho (aliás, no Novo México, a Rota 66 é muito mal sinalizada) paramos em várias lojinhas de souviniers indígenas e atravessamos a Petrified Forest National Park, uma belíssima floresta petrificada, rumo a Hollbrok.
Depois do primeiro dia montada na moto, pernas, coluna, pescoço e os ouvidos, rangem. À noite, o prêmio é um talharim aos quatro queijos, vinho e cama. Nosso destino no terceiro dia é o Grand Canyon. Um desvio de + ou – 40 quilômetros no traçado da Mother Route americana. Impressionante a quantidade de canyons e formações rochosas jovens esparramadas pelos USA. No caminho, uma parada no Walnut Canyon.
Uma estranha e surpreendente formação rochosa, esculpida pela água e pelo vento e usada pelos índios como moradia e refúgio. O Walnut me fez lembrar do filme “Dança com Lobos” de Kevin Costner.
Uma escadaria escarpada conduz aos segredos e recantos mais inóspitos do canyon e um belo exercício para as pernas, inclementemente dobradas na montaria Harley. De lá, seguimos em direção ao Grand Canyon. A paisagem árida e seca é substituída pelos pinheiros e ciprestes, pelas montanhas e um restinho de neve do inverno. Enfim, O Grand Canyon!!! O que dizer?
Simplesmente, deslumbrante. Para onde o olhar se perder, sorrisos e olhares maravilhados e encantados pelas cores e formas que somente a natureza consegue imprimir e esculpir. Ficamos tontos e confusos. Tanto pela beleza, quanto pelo tamanho do parque. São 4.926,7 Km quadrados: quase 450 Km de extensão, largura variável entre 6 e 29 Km e profundidade em torno de 1,6 Km. Visitado por mais de 4,5 milhões de pessoas. O Grand Canyon é o segundo parque mais visitado dos EUA. Uma maravilha natural formada pelas forças corrosivas das águas e dos ventos ao longo de aproximadamente 6 milhões de anos. O ticket de entrada dá direito a uma semana de expedições e aventuras dentro do parque: trilhas, camping, canoagem pelo Rio Colorado. Para nós – turistas em trânsito – sentar e balançar os pés na arquibancada natural do canyon foi a grande aventura e dispensa comentários. Cadê o medo de alturas? Engolido pelo êxtase e pela plenitude.
Antes de prosseguir viagem, já na quarta manhã de Rota 66, o tão sonhado passeio de helicóptero. Fomos em três casais + o piloto Jason, que emocionou a todos com a música tema de Top Gun “Take my breath away”.
Cinquenta minutos inesquecíveis a bordo do helicóptero Maverick, músicas selecionadas para um grupo maravilhado pela paisagem inacreditável que nos engolia quilômetro a quilômetro, minuto a minuto. O dia prosseguiu com uma parada hippie em Selligman, uma cidade bem Rota 66 – cheia de motoqueiros, turistas, esquisitices, souvenirs e lanche, com pernoite previsto no Canyon Sky Walk.
Temos cruzado com muitos motoqueiros e todos se cumprimentam com o braço abaixado e os dedos na posição de paz e amor – ou V – de vitória. Uma emoção em cada cumprimento. Depois do dia agitado, catorze milhas de estrada de terra e calor, chegamos ao Canyon Sky Walk, no final da tarde.
A correria foi grande para ver as principais atrações – a ponte de vidro, o por do sol, a águia de pedra – sem hotel reservado. Já noite, saímos do parque e nos deparamos com O Rancho Avapay, da tribo Hualapai. Por enquanto, apenas dias ensolarados, quentes e muito vento – o pior trecho foi do Grand Canyon até SkyWalk. Até agora, apenas duas quedas de moto (imperícia dos motoqueiros na hora de parar e virar o guidon da moto) e todos tem adorado pilotar as Harley Davidson. Próximo destino? Las Vegas. Passando por Hoover Dam.
Chegamos ao Hotel Paris – Las Vegas, no final do quinto dia, carregados de tranqueiras, capacetes, malas, jaquetas, poeira e muito calor. O tempo está quente e seco e todos estamos ardidos. Jantar no “Mon Ami Gabi”, localizado no próprio hotel. Noite de escargots e outras delícias da culinária francesa.
Na manhã seguinte, sexto dia, desfilamos de moto pela Las Vegas Boulevar e fomos conhecer – e, apenas conhecer – a Stratosphere Las Vegas, com seus ousados e arriscados Big Shot, X-Scream, Insanity. Pizza ao meio dia e depois uma esticada ao Wall Mart (Michaels) para comprinhas de scrap. Antes porém, fomos barrados por duas viaturas de polícia por estarmos sem capacete. Imagina a situação! “Onde estão os capacetes?” Pediu o guarda. “Estão aqui”, mostramos para o bagageiro da moto. “Deveriam estar aqui”, apontou o guarda para a própria cabeça. Depois de esclarecermos que no Novo México não é obrigatório o uso do capacete na cidade, e sermos alertados de que em Nevada, seu uso é obrigatório, saímos sem multas.
À noite, foi a vez do “ O O´” do Circo de Soleil, no Hotel Bellagio, com seu show de águas dançantes, de 30 em 30 min. Um grande espetáculo onde teatro, musical, circo, contorcionismo, música, jogo de palcos alternados, na água e no solo, fogo e muitas coisas acontecem ao mesmo tempo. Simplesmente, fantástico e imperdível. A noite se estendeu – e diferentemente do que imaginávamos – a noite em Las Vegas para, e ficamos sem jantar. Ou melhor, tomamos uma sopa de cebola, morna e insossa, numa padaria, após a meia noite. Penúltimo dia de viagem. Saímos cedo em direção ao deserto de Mojave com destino a Los Angeles.
Dia quente e ventoso. Na Califórnia, a Rota 66 é bem sinalizada e seu trajeto faz juz ao termo “Historic Route”. Foi a jornada mais dura, com a estrada áspera e ventos cortantes. Paramos em Amboy.
Um posto de gasolina, uma confraria de motoqueiros. Chegamos ao píer de Santa Mônica, final (ou início) da Rota 66, na manhã seguinte. Um sábado ensolarado e fresco. Vibramos e comemoramos.
Chegamos cansados, felizes e inteiros. Realizados pela aventura que se estendeu por 8 dias, 4 estados e 3000 Km percorridos. Fizemos a metade da Rota 66. Poderíamos, muito bem, ter feito ela completa. Fica para uma próxima.
Emocionante Suzi !!!