Depois de anos convivendo com o Mal de Parkinson que evoluiu para Alzheimer, fiquei imaginando se meu destino seria igual ao de meu pai. Ele agonizou por meses, com uma infecção generalizada decorrente da paralisia do corpo e das emoções A morte do corpo foi a última etapa de um martírio de muitos anos. Meu consolo era vê-lo inconsciente, na maior parte do tempo, nestes últimos meses. Acreditava que ele pouco ou nada sentia ou sabia. Diferentemente de nós, que sofríamos a dor da perda e a morte lenta e desgastante de alguém que amávamos demais. Quando ele morreu, fiquei aliviada. Por ele, por mim, por toda família.
Sua sina, minha sina? Fui buscar um norte nos livros. “Um Otimista Incorrigível” de Michael J. Fox, “Onde deixei meus óculos?” de Martha Weinman Lear, “Fique de bem com seu cérebro” e “O cérebro nosso de cada dia” de Suzana Herculano – Houzel foram minhas leituras pra elaborar meus lutos. Sei que carrego uma nano bomba relógio biológica. Posso retardar, evitar ou ativá-la. É nisso que acredito. E é por isso que sigo algumas recomendações: cuidar da saúde física, cultivar prazeres, aprender coisas novas, ouvir minhas emoções, ser otimista, combater e transformar o stress em algo positivo, dormir e alimentar-me bem, assumir responsabilidades, cultivar relacionamentos e, sempre que possível – e nisso preciso melhorar – me exercitar fisicamente. Além destas atitudes, concordo com um dos autores: muita coisa precisa dar errado – ou eu fazer de errado – para que a bomba seja acionada.
Quanto à memória, não tem como a gente lembrar de tudo. Mas, problemas com ela são sinal de alerta: dano neurológico, senilidade, stress, depressão, Alzheimer, mero esquecimento ou negação de fatos ou bloqueios preventivos e criativos. Hoje, vivo em paz com meus esquecimentos e os entendo como uma seleção do que realmente é importante lembrar. Excesso de informação inútil pode ser mais prejudicial do que alguns lapsos de memória providenciais.
adorei a mensagem