A sexualidade faz parte do nosso dia-a-dia desde que nascemos, época em que está centrada em nós mesmos. O interesse sexual centrado no outro, começa na puberdade/adolescência. É quando acontecem profundas mudanças físicas, psíquicas e relacionais, em parte, provocadas pela maturação hormonal, que dá forma ao corpo do menino, transformando-o em homem e a menina, em mulher. Os caracteres sexuais femininos e masculinos começam a desenvolver-se, como o aumento da genitália, surgimento dos pelos, aumento dos seios e a menstruação na menina, a primeira ejaculação e o engrossamento da voz no menino, etc. Este amadurecimento físico capacita a procriação. Além das mudanças físicas, ocorrem mudanças emocionais. Entre elas, o interesse sexual e afetivo por um parceiro. Homens e mulheres se buscam desde o início dos tempos, mas a forma de se relacionar mudou muito no decorrer dos séculos, em especial nos últimos 50/60 anos. Entre as causas desta mudança significativa está a industrialização, a emancipação feminina nos anos sessenta, a descoberta dos anticoncepcionais, liberdade sexual, o divórcio, a situação sócio-política-econômica mundial, etc, que provocaram uma verdadeira e inimaginável revolução social e cultural, afetando drasticamente os valores do casamento e da própria família. Querendo ou não, gostando ou não, o homem teve de mudar (junto com a mulher, o casamento, família e sociedade) pra conviver nesta nova realidade, onde homens e mulheres disputam, lado a lado, chances e oportunidades.
Antigamente a mulher conhecia de antemão seu futuro: casamento e família. Outras opções eram quase inexistentes. O relacionamento conjugal tinha normas claras, com o marido assumindo o controle total sobre a mulher e sua família. Questionamentos quanto à sexualidade e questões conjugais eram raros, já que no sistema paternalista, o homem tudo pode e sabe. Assim, o sexo no casamento estava mais a serviço da procriação do que do prazer. Nada incomum era a mulher atribuir ao sexo, categoria de obrigação matrimonial.
Felizmente hoje, a maioria das mulheres participa ativamente das questões sexuais e conjugais, ou pelo menos tenta, busca se esforça. Mas, nem todas. Muitas ainda reproduzem o modelo antigo de casamento com sexo por obrigação. Para as mulheres e/ou casais que buscam a satisfação sexual no relacionamento conjugal , importa saber que ela não depende apenas de vontade e desejo. Fatores individuais, relacionais e inter-geracionais podem interferir na plenitude da gratificação sexual. Legado, mitos e crenças familiares, bem como o modelo conjugal transmitido, de geração para geração, com suas atitudes e formas de expressão de afetos, poder, diálogo. A forma como a família transmite a ideia de sexo tende a ser incorporado e repetido. Sexo visto como pecado, algo nojento, leviano, coisa feia, carinho, amor, respeito farão parte da bagagem que o indivíduo levará para o casamento e poderá afetar a sexualidade individual e conjugal.
Geralmente, no início do casamento existe maior facilidade de diálogo e interesse, de parte a parte, no que se refere a sexo. Ambos querem causar “boa impressão” e agradar ao parceiro. Existe o desejo de ter um casamento único e gratificante. Com o tempo o casal vai se conhecendo como realmente é, já não mais idealizado, surgindo sentimentos de frustração, decepção, raiva, ressentimento, medo de envolvimento,controle e intimidade, que começam a interferir no relacionamento sexual, que por si só, já é uma forma de controle conjugal. Questões financeiras, profissionais, sociais e individuais também podem ter efeito sobre a sexualidade do casal. A conjugalidade pressupõe compromisso. Ambos os parceiros contribuem para o sucesso e fracasso da relação. Do ponto de vista sexual, informações incorretas sobre mitos sexuais (tamanho do pênis, orgasmos múltiplos) podem aumentar a culpa e ansiedade do casal, gerando disfunções sexuais. As mais conhecidas são a ejaculação precoce, impotência masculina, frigidez e disfunção orgásmica feminina. Existes outras disfunções sexuais menos conhecidas,mas não menos importantes. Suas causas são variadas. Embora a maior parte esteja ligada a causas ou efeitos de caráter emocional, é prudente uma avaliação médica, pois alguns distúrbios neurológicos, urológicos, ginecológicos, endocrinológicos e de circulatórios afetam o desempenho sexual. Nestes casos, a indicação de tratamento medicamentoso ou cirúrgico pode ser necessário. As disfunções sexuais podem deixar seqüelas emocionais e relacionais, reativando fantasias inconscientes dolorosas, sentimentos de inadequação e inferioridade, interferindo potencialmente no relacionamento conjugal total. Outro fator individual que pode minar a satisfação sexual conjugal é a relação com a própria imagem corporal. Numa sociedade em que a beleza física e supervalorizada, muitos casais vêem sua libido e desejo sexual diminuídos em função de uma imagem corporal inadequada aos padrões estéticos vigentes. Embora as maiores vítimas sejam as mulheres, muitos homens começam a se preocupar com a dupla imagem corporal/desempenho sexual. Estas questões, embora individuais, podem ser acentuadas pela observação e cobrança insistente do parceiro.
Sexo e afeto nem sempre são complementares, mas a confusão entre homens e mulheres resiste aos mitos e crenças. Um dos parceiros, geralmente o homem, acredita que o afeto é expresso através do ato sexual. O outro parceiro, geralmente a mulher, acredita que o afeto tem valor em si, e interpreta as manifestações de afeto do parceiro como tentativas de sedução sexual. Ou seja, homens e mulheres percebem o ato sexual de formas distintas e acabam negociando sexo para conseguir afeto, e o afeto pra conseguir sexo. A insatisfação pode ser o resultado deste intercâmbio. Quando a frustração cresce, crescem também a raiva e o ressentimento, inibindo o desejo e a gratificação sexual do casal.
A sexualidade humana é complexa demais. Cada ser humano é único, assim como sua sexualidade. Na relação a dois existe o somatório das particularidades de cada um. Nesta soma não existe um único resultado esperado. Cabe ao casal fazer suas escolhas e encontrar satisfação na vida a dois.