Escritor também sofre de preguiça.
Cansa de ler, escrever, garimpar palavras, estudar expressões, coordenar pensamentos, somar sentimentos.
A logística literária não depende só de talento e inspiração. Depende, e muito, de labuta e dedicação. De tempo e espaço. E quem diria, da própria preguiça! É nela e na lassidão dos dias, no sossego sonolento e no ócio do viver que se esgueiram criatividades e eurekas. Assim, em meio à atual fase de miséria literária e atividade produtiva ansiosa, muito vale o viver. É nele que surgem os primeiros garranchos. A observação e a atenção se encarregam das primeiras pinceladas que abastecem a alma e o coração. Pontos despontam e cutucam a preguiça, espantam o cansaço. Querem tecer e bordar seu espaço.
Tem hora que as palavras se libertam.
Ficam prontas para a criação.
É quando a preguiça vira arte.