Vulnerável e exposta. Quase transparente. É assim que me sinto nesta casa de vidro sem verdes, sem cortinas, sem muros. O mundo espia a vida dentro de paredes econômicas, corajosas e verdadeiras, onde a privacidade é o maior luxo. Casa nova tem este sentimento de não pertencimento, de exposição e falta de limites. Durante meses – ou anos, às vezes – o entra e sai do pessoal da obra, visitantes e curiosos retira o senso de propriedade e intimidade familiar. A casa parece ser de todos. O infame acabamento trucida a paciência e a perseverança, e o pós-obra coloca a última pá. O entra e sai e o eterno revezamento profissional acabam com o pouco que resta do privado. Quem sobrevive a esta maratona torna-se o feliz proprietário de uma casa zerada. Ando exausta de tudo isso. Queria paredes e azulejos, pias e armários velhos para restaurar. O novo exige escolha e compra de absolutamente tudo. O novo cansa: quando comparo a casa nova com a antiga penso num sapato de salto alto e bico fino com uma pantufa fofa e confortável. A pantufa anda fazendo muita falta.