“… Olho as folhas mortas no chão. Penso que, em Paris, já teriam sido recolhidas.Mas, estamos em Genebra, uma cidade muito mais rica, e elas ainda estão ali.
Algum dia estas folhas fizeram parte de uma árvore, que agora se recolheu e se prepara para uma estação de repouso. Por acaso a árvore teve consideração com aquele manto verde que a cobria, a alimentava e lhe permitia respirar? Não. A árvore só pensa em si: certas coisas, como folhas e insetos, são descartadas, quando necessário.
Sou uma dessas folhas no chão da cidade, que viveu achando que seria eterna e morreu sem saber exatamente por quê; que amou o sol e a luabe durante muito tempo assistiu àqueles ônibus passando, àqueles bondes fazendo barulho, e ninguém jamais teve a delicadeza de lhe avisar que existia o inverno. Elas aproveitaram o máximo, até que um dia foram se tornando amarelas e a árvore lhes disse adeus.
Não disse até loga, mas adeus, sabendo que elas não voltariam nunca mais. E pediu ajuda ao vento para soltá-las de seus galhos o mais rápido possível e levá-las para bem longe. A árvore sabe que só poderá crescer se conseguir descansar. E se crescer, será respeitada. E poderá gerar flores ainda mais belas”.
(Coelho, Paulo – Adultério Rio de Janeiro, Sextante, 2014 pg. 193/194)