Por que sair de casa

As novas gerações pouco brigaram com as gerações mais velhas. Pouco precisaram conquistar! Estão ganhando tudo de mão beijada. Quem não ouviu estas expressões? Afinal, com toda a liberdade e mordomias que tem na casa dos pais, por que sair de casa? A pergunta é simples. A resposta mais complicada. A realidade é esta em muitas famílias que também se questionam: Porque nossos filhos devem sair de casa, quando é mais econômico, seguro e afetivamente mais tranquilo que eles permaneçam em casa? Antigamente, se é que se pode ir tão longe no tempo, sair de casa era uma conquista. Com ela vinham outras: o primeiro emprego, a primeira casa (quem se importava em viver num muquifo sujo e desconfortável?), a liberdade de ir e vir sem dar explicações a ninguém, as primeiras experiências sexuais. Era ter a vida nas próprias mãos. Com todas as mudanças sociais e culturais, estas deixaram de ser conquistas e passaram a ser garantias que muitos desfrutam sem qualquer esforço: o emprego é servir de motorista, de companhia ou de cola para o relacionamento conjugal. O que dizer sobre sexo e liberdade para ir e vir? Conforme a classe social, tanto uma como outra, começam cedo demais, quando nem corpos, nem cabeças estão prontos. Os pais não apenas permitem, como estimulam estes comportamentos. Justificativas explicam o inexplicável. Mantemos nossos filhos infantilizados e agarrados a nós até não os aguentarmos mais. Permitimos que fiquem conosco, enquanto nos convém, enquanto não estamos prontos para jogá-los do ninho e lançá-los ao mundo. Temos medo da nossa cria. Estará ela pronta para os desafios da vida? Saberá sobreviver sozinha? Não suportamos a dor deles. E assim, covardemente, delegamos a eles o sofrimento do corte do cordão umbilical. Esta necessidade um dia surgirá. Para muitos o corte derradeiro será a morte dos pais protetores. E assim, pela primeira vez sozinhos, tornam-se duplamente desamparados: perdem ao mesmo tempo os pais e a vida vivida até então. Sobra pra eles a árdua tarefa de viver e sobreviver por conta própria – sem estarem preparados – já que não poderão mais desfrutar da sombra fresca patrocinada pelos pais.

Quando meus filhos chegaram nesta fase, meu lado mãe falou mais alto que o lado psicóloga. Não fosse o pai, talvez nossos filhos ainda estivessem em casa conosco. Segundo ele, na natureza os pais jogam os filhotes dos ninhos para que eles aprendam a voar. Deveríamos fazer o mesmo. Eu alegava que eles ainda não estavam prontos. Com mais ou menos traumas ambos saíram de casa e ganharam o mundo. Meu lado psicóloga acabou falando mais alto, permitindo que meus filhos se tornassem adultos livres e responsáveis. Prontos pra agarrar a vida com as próprias mãos.

 

 

 

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