Estas foram as palavras de Aluísio Dobes quando me ofereci para escrever um artigo para o jornal da AJIN. Isto soou como estacionamento vazio, buffet de comida, outlet em liquidação … são vagas demais pra escolher, comidas e roupas a perder de vista … e, de foco. Primeiro pensei em escrever sobre livros, sobre a própria Biblioteca que a AJIN mantém em suas dependências. Tem livro bom demais empoeirando nas prateleiras. Constam mais de 400 títulos cadastrados, a grande maioria, livros de excelente qualidade literária, outros, perfeitos para o simples deleite da leitura. Quem gosta de ler, vá lá. Você será bem recebido e servido.
Talvez esta seja uma “vaga” a ser preenchida mais adiante. Neste momento, as palavras insistem em me levar a um outro buffet: e se eu, nova moradora lhes mostrasse um pouco da Jurerê, que de pouco em pouco, estou aprendendo a amar? Ousadia minha, eu sei – mal consigo explicar onde fica a minha rua, que dirá qualquer outra – Uararas, com acento no ultimo A. Faz mais de 30 anos, que meu marido e eu, escolhemos envelhecer aqui, ou pelo menos, passar anos aprazíveis ao som das ondas. Pra quem já viveu em São Paulo, Rio e outras capitais, a sinfonia das marolinhas – normalmente inofensivas – tornam-se ainda mais vivazes com o rufar das gaivotas e os quero-queros, o estrilar das vozinhas infantis desafiando a vigilância dos pais, o zum zum dos caminhantes e veranistas … sem contar nas corujas e em todo o verde que nos cerca e abraça de encontro ao mar.
Me perguntam se estou gostando daqui. Cheguei pra ficar em meados de outubro de 2013, e desde então, minha vida tem sido construir e finalizar a nossa casa e consolidar um novo lar para viver. Ou seja, ainda estou engatinhando quanto a curtir o bairro. (Tenho de admitir que pensei inúmeras vezes chamar o caminhão de mudanças e dar marcha a ré nos nossos antigos planos, mas …) Tirando o barulho de obra e o infernal aspirador dos jardineiros, o silêncio, a segurança e a tranquilidade, tem compensado este período de adaptação e estranheza. Sem contar na enseada de areias limpas e do mar esverdeado que se fazem de quintal da casa de todos nós. Mesmo sem ir, sabemos do tesouro a céu aberto que temos logo ali, do ladinho. E o mar, o mais ilustre dos festeiros, nos convida o tempo todo. Concordo o quão difícil é sair da zona de conforto e de casa, quando o cansaço pede cama. A preguiça pede um sofá. A alma, repouso. Mas, vou. Todos deveríamos ir. Chegando na passarela que sobrevoa o verde entre as casas e o mar, sinto o ar revigorar os pulmões; o mar festeiro ruge, acalma e abranda as preocupações, a areia massageia os pés, a agua geladinha do mar do inverno lambe e acarinha a pele esquecida e maltratada. Catar conchas, além de exercitar o corpo, exercita o olhar perfeccionista. Você já reparou o quanto nossas conchas são imperfeitas, e infinitamente maravilhosas em seus formatos, cores e texturas? Temos um verdadeiro SPA para o corpo e para alma, ao alcance dos pés, das mãos e do olhar. Se permita este “break” na rotina, na vida, no dia. Seu sorriso vai agradecer.
Quanto aos vizinhos e amigos, preciso primeiro me desculpar pelo barulho e bagunça de obra. Estou quase terminando. Como bem disse uma vizinha, amiga de outra época e lugar: ninguém tem nada a provar pra ninguém. Todos chegamos aqui. Cada um por seus méritos e motivos. E fico feliz ao ser cumprimentada num gesto singelo de boas vindas por vizinhos – ainda – estranhos, no Passeio dos Namorados. Tem como não se apaixonar por Jurerê?