Saia justa

Acontece cada coisa na vida, que até a gente duvida que é capaz de acontecer. Mas acontece.

Dias atrás reencontrei uma vizinha que me descobriu em meio a tintas e telas na garagem da minha casa. Assim que viu minhas telas secando ao sol, ela se aproximou e se apaixonou de imediato por minha pintura colorida e descontraída. Falamos um pouco, ela comentou que fazia um curso de pintura com uma renomada artista da ilha, mostrei telas de outras épocas, e assim, volta e meia, a gente se encontrava em algum lugar diferente em Jurere e ensaiamos uma amizade calcada numa paixão comum: a arte e a pintura. Volta e meia ela convidava pra conhecer seu grupo, o atelier onde acontecia o curso, quem sabe, participasse de um dos jantares que acontecia mensalmente em algum restaurante ou na casa de uma de suas colegas.

Uma vizinha querida e simpática, disposta a me introduzir na sociedade local. E foi assim, que entrei na maior saia justa dos últimos tempos.

O convite era pra jantar no japonês mais badalado da ilha. “Obrigada pelo convite, fulana! Tem certeza de que não vou atrapalhar? Não é confraternização de final de ano? “ teclava no whats. “ Será bem vinda. Até mais tarde”. Ok. Então tá. Programei meu dia, e em meio a noite, chuva, garoa e uma sensação de que deveria ficar em casa, fui até o japonês. Final de tarde, hora do rush, falta de estacionamento, cheguei lá . Na hora de escolher o que vestir, optei por uma roupa neutra ninja, uma bolsa Pink e um sapato estiloso. Sabe como é , a primeira impressão é a que fica. O restaurante estava quase vazio. Na minha frente, estavam duas senhoras conversando com a atendente que as conduziu até uma mesa preparada e reservada para oito a dez pessoas. Quando ela voltou para me atender, lhe disse apenas que havia sido convidada para participar de um jantar de pintoras. Minha amiga não estava lá. A cocoroca mais velha, olhou pra mim, de cima a baixo, de baixo a cima, e disse que aquele era um encontro para um grupo fechado que fazia aulas em seu ateliê. Virou as costas, se sentou na ponta da mesa, ficou cochichando com uma das convidadas e sequer olhou para mim. “Se quiser ficar, fica. Mas vou ter de falar com a fulana que isso não se faz, onde já se viu, e blablablabla.” Decidi esperar minha amiga chegar e me sentei `a mesa, pra horror da cocoroca de cabelos desfiados ao alto e armados em puro laquê. Foram chegando outras convidadas, todas sorridentes e simpáticas. E minha amiga que não chegava … Isolada como uma infectada pelo vírus ebola ou varíola, brinquei com meu celular e fiquei aguardando pacientemente a chegada da dita cuja, minha amiga. A tal pintora famosa da ilha, continuava naquele cochicho, e cada vez mais os olhares se voltavam para mim. Como sou um ser educado, retribui todos os olhares com um sorriso, assim, meio que esquisito: entre irônico, sarcástico, divertido, mas acima de tudo, determinado a esperar minha amiga chegar. Ela demorou, mas chegou. Assim que me viu, veio a meu encontro, me abraçou, feliz da vida me desejando boas-vindas, e eu, abraçada a ela, lhe disse que não ficaria, que só a estava aguardando, que a professora dela deixara muito claro que eu não era bem vinda, que o grupo era fechado, e blablablabla. Incrédula, ela me fitou e pediu que esperasse um pouco, foi até a mesa, cochichou ao ouvido da professora e me levou ao toillete. Gostei da expressão que ela usou: “não sabia que esta panela tinha tampa”. E conversamos, conversamos, conversamos. Pedi que ela ficasse. O grupo era dela, não meu. Iria para casa sem problemas. Jamais ficaria num lugar onde não fosse bem-vinda. E assim fiz.

Tadinha da minha amiga. No dia seguinte, ela não sabia como se desculpar pelo ocorrido. “ Não tenho palavras pra me desculpar com você, quero te dizer que foi muito difícil pra mim permanecer no jantar e só fiquei pelas outras pessoas queridas. A professora perdeu sua aluna, e a oportunidade de fazer uma nova amizade … espero que possamos superar … bjo”. Bjo e tudo vai ficar bem. Tenho certeza disso. Bendito Whatsapp.

Enquanto voltava pra casa, na noite anterior, tentei me colocar no lugar daquela professora, com jeito de proprietária de um grupo. Queria entender sua rejeição gratuita por alguém que ela nunca viu na vida. Ela sequer sabe quem sou, será que sabe o quanto magoou sua aluna? Conheço este tipo de pessoa e tenho pena da pobreza de sua alma, pena pelos medos que a assombram. Tirana e autoritária, dita regras e leis a um grupo que pinta pra relaxar e se divertir (ou, pelo menos, acreditou nesta promessa do curso).

Mas, quem sou eu pra criticar ou comentar? Apenas uma blogueira metida a escritora e artista. Pior é ser a professora de pintura. Peninha da tal artista renomada da ilha.

Um comentário sobre “Saia justa

  1. Maria Antonieta (Zeta)

    A “professora” logo vai saber que perdeu a chance de conhecer uma PESSOA 10+. Que eu saiba, pessoas RENOMADAS são providas de EDUCAÇÃO. Vai ver que nem boa “pintora” é. Suzete, muitas pessoas sabem da tua capacidade como blogueira, escritora (livro lançado), artista… Sem falar na excelente PSICÓLOGA. Eu que o diga. Fica tranquila. Maria Antonieta (Zeta)

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