Tenho certeza absoluta de que as casas falam:
São jeitos e jeitos,
E cada uma se comunica como pode:
Vidros estalam, madeiras rangem, estruturas gemem,
Eletrodomésticos sussurram, gritam, reclamam.
Por toda parte, o falatório é grande:
Foi sol demais,
Frio demais,
chuva, vento, calor, geada …
Conhecia bem a conversa da minha antiga casa.
Eram sons familiares que aconchegavam no final do dia.
Na casa nova, a conversa é outra:
O idioma ainda é desconhecido.
Ruídos estranhos se perdem por andares e paredes,
Bombas sinalizam o trabalho programado.
Os vidros são silenciosos, as madeiras preguiçosas.
As portas batem de leve, o mar ruge ao longe.
A brisa flutua de mansinho.
Aos poucos, decifro um pouco do que ela tem pra me contar.
Coisas caem, racham, quebram, se perdem …
Estranhas e estrangeiras,
precisamos conversar sobre muitas coisas, minha casa e eu.
Assim, no tete a tete.