Era uma vez uma bola macia e fofa, que nutria e acalentava um pequeno ser. Um ser ainda em formação: uma Linha Cheia de Possibilidades. Ela poderia ser o que quisesse. Uma bola, uma estrela, um sol. Qualquer coisa. A linha brincava e corria e sorria e comia e dormia e desenhava e cantava e sorria … ela serpenteava e se embrenhava por toda parte. Livre, leve e solta. Nestas andanças ela encontrou outras linhas. Todas diferentes dela em cor, espessura, textura, comprimento, formatos … a única coisa que elas tinham em comum é que todas eram linhas cheinhas de possibilidades. E todas queriam ser Alguém. Apenas isso. Um belo dia a bola macia e fofa se partiu, se dividiu, estilhaçou-se inteira, sumiu, ganhou o eterno e a deixou pra trás. Quando a linha percebeu o sumiço da bola, ela se escondeu dentro de uma toca e se fechou. Chorou, chorou, chorou. Depois que chorou todo o choro do mundo, ela seguiu em frente, percebendo outras novas e antigas linhas. Até que, num belo dia, numa tarde ensolarada, um era uma vez aconteceu e ela encontrou uma linha de um tipo absolutamente novo e diferente, do tipo e viveram felizes para sempre, por quem ela se apaixonou perdidamente. O mesmo aconteceu com a outra linha. Elas se encaixaram e cruzaram e desse encontro surgiram novas linhas. Todas cresceram e se transformaram. De onde veio a linha de possibilidades, haviam muitas outras, formando um emaranhado de fios que deslizavam suavemente entre si. Começaram a surgir nós, e depois de muito estica e puxa, o emaranhado se partiu. Outros emaranhados se formaram e as linhas ganharam o mundo mudando de forma, sempre que necessário. Tornaram-se pássaros, estrelas, sois, triângulos, bolas, borrões. De vez em quando a linha se perdia toda. Mas, na maior parte das vezes, ela encontrava o caminho de volta. Os nós que ela encontrava pelo caminho – que não foram poucos – ajudaram-na a se tornar quem ela precisava ser, lembrando-a sempre de quem era, de onde veio, o que queria, para onde ia.
A Linha Cheia de Possibilidades se transformou muitas e muitas vezes.
Ela sempre sofria nesse processo de mudança:
De flor pra estrela, pra bola, pra lua, até que as linhas do seu emaranhado saíram pra ganhar seu próprio mundo, seu próprio emaranhado.
Mas a linha entendeu que criara outras linhas Cheias de Possibilidades.
No fim, ela percebeu que se transformou tanto e sempre, que estava toda perdida em si mesma.
Ela ainda não sabia quem era esse Alguém que ela tanto queria ser.
Talvez nunca descobrisse.
Mesmo assim, ela sabia que estaria sempre se buscando.