A adolescência e a pós-modernidade

Este texto foi escrito em 2004, como atividade proposta num curso de especialização em Psicoterapia Psicanalítica da Criança e do Adolescente, realizado na UISINOS. Na época, já chamava a atenção o uso e recomendação de algumas bibliografias, que datavam da década de 60. Depois de 40 anos, muitos temas permaneciam atuais. O mesmo acontece agora. Passados mais de 10 anos, as citações e conclusões – daquela época – ganharam mais cor e tonalidade. O que na época parecia ameno, tornou-se hoje, de um colorido ululante e contagiante. A Internet, o WhatsApp, o Facebook e todos os recursos e aplicativos virtuais e tecnológicos tornaram-se mais rápidos e modernos. Tornaram-se virais, disseminaram-se por todas as faixas etárias e classes sociais. Passaram a fazer parte vital do dia a dia de crianças, adolescentes, adultos e idosos. Parte do processo adolescente adulteceu e dominou o planeta.

A adolescência e a pós-modernidade

  1. Introdução

Nunca antes na história da humanidade as mudanças aconteceram de forma tão rápida e universal. Aquilo que acontece aqui no Brasil é instantaneamente sabido no Japão. O mundo se tornou uma grande aldeia global. A tecnologia – mocinha e vilã – une a afasta ao mesmo tempo, nos libera e nos aprisiona, facilita e complica nossas vidas. A sociedade tornou-se essencialmente narcisista, com a adoração do belo, do magro, da eterna juventude. As relações humanas passaram a ser mais egoístas, individualizadas, superficiais e banais. A sociedade consumista gera a eterna insatisfação. A mídia, o cinema, a televisão, os clips, a internet, a música, a moda, os celulares, a gíria, a comunicação virtual, a violência, todos temas afins deste imenso universo teen. O adolescente contemporâneo sinaliza profundas alterações no processo da “Síndrome Normal da Adolescência”.

O adolescente do século 21 está de cara e roupagem nova.

Possivelmente ele seja fruto de mudanças sócio culturais globalizadas, e reflita os desejos e o momento atual de toda a humanidade. Assim como é o jeito adolescente de perceber o mundo – de forma fragmentada e dissociada – onde informações e sentimentos nem sempre parecem ter começo-meio-fim, os flashes teóricos em forma de citações de vários autores, suas linhas de pensamento, ideias e teorias, retratam este jeito de ser. Cada autor, com sua linguagem (semelhante à gíria do adolescente) demonstra sua identidade teórica.

“Temos hoje no Brasil aproximadamente 30 milhões de adolescentes …” (Osório, 1992, p.37)

“Podemos dizer que o adolescente é a modernidade. Modernidade no sentido de abertura para o novo, da invenção de novas possibilidades identificatórias, de construção. Ou seja, a adolescência, longe de se caracterizar apenas como um tempo cronológico de desenvolvimento, coloca o sujeito frente ao impasse de assumir seu próprio sexo e de poder realizar as fantasias edípicas infantis que até então ficavam limitadas ao campo da promessa. Este confronto com o possível, esta reatualização das cenas sexuais infantis faz da adolescência um tempo de “explosão”, nos dizeres de Winnicott, onde o adolescente tem que “assassinar” os pais da infância em sua fantasia, para poder crescer. (Congresso Internacional, 1999, p.281)

“ Calligaris coloca muito bem o dilema da contemporaneidade, onde aas crianças e os adolescentes são os representantes forçados dos sonhos dos pais, evidenciando, com suas questões e sintomas, o momento e o estado de nossa cultura narcísica. O autor assinala que o ideal proposto aos jovens não é mais a segurança de um quadro familiar ordenado por gerações, e sim modelos transitórios de consumo, onde o apelo ao gozo é inexorável.” (Congresso Internacional, 1999, p. 282)

“Se a adolescência encena um ideal cultural básico, é compreensível que ela se transforme num estilo que é cool para todos.” (Calligaris, 2000, p.58)

“Agora podemos perguntar se a adolescência não surgiu justamente porque os adultos modernos precisam dela como ideal.” (Calligaris, 2000, p.59)

“Se pensarmos na adolescência como um momento de suspensão, onde o sujeitonão mais se reconhece como “Sua Majestade, o Bebê”, imagem narcísica dos pais, mas começa a trilhar o percurso de uma singularidade radical, os sintomas fóbicos apresentados na adolescência podem indicar não só uma construção fantasmática frente aos significantes enigmáticos que vem do campo do Outro, como denunciar o mal-estar do jovem frente à demanda social e parental de uma felicidade instantânea e absoluta. Ou seja, se o mundo moderno desconsidera valores tradicionais, exigindo uma rápida adaptação a códigos e valores descartáveis, os sintomas fóbicos encontrados na adolescência podem ser pensados como um traço de união, como um espaço intermediário entre “aquilo que é excessivamente desejado e excessivamente temido e que é de um lado o espaço materno e de outro aquele que o pai seria susceptível a abrir-lhe”, como indica Penochet. (Congresso Internacional, 1999, p.285-286)

“Hoje vivemos numa sociedade de intenso consumo na qual possuir mais, além de demonstrar poder para os outros, significa também preencher um espaço vazio dentro de nós. Esta voracidade individualista expressa-se na extremada preocupação pelo corpo, que assume o papel de objeto de consumo social. Assim como temos que ter o carro do ano, comer a comida do momento, ainda temos que ter o corpo dos modelos para usar as roupas da moda.” (Axelrud&Gleiser&Fischmann, 1999, p.12)

“A sociedade de consumo explora esta ansiedade juvenil (medo da rejeição). Em cada banca encontramos jornais e revistas com artigos sobre emagrecimento, malhação e uma falsa ideia de que ter um corpo perfeito é inerente ao fato de estar vivo.” (Axelrud&Gleiser&Fischmann, 199, p.12)

“O comer pode muitas vezes preencher o vazio da falta de perspectivas e de ideais.”(Axelrud&Gleiser&Fischmann, 1999, p.13)

“A cultura do nosso tempo e a ciência por ela produzida e que também a produz, ao responsabilizar o indivíduo pelos cuidados de si, enfatiza a todo momento, que somos o resultado de nossas opções. O que significa dizer que somos os responsáveis por nós mesmos, pelo nosso corpo, pela saúde e pela beleza que temos ou deixamos de ter.” (Louro&Neckel&Goellner, 2003, p. 39)

“Um corpo não é apenas um corpo. É também o seu entorno. Mais do que um conjunto de músculos, ossos, vísceras, reflexos e sensações, o corpo é também a roupa e os acessórios que o adornam, as intervenções que nele se operam, a imagem que dele se produz, as máquinas que nele se acoplan, os sentidos que nele se incorporam, os silêncios que por ele falam, os vestígios que nele se exibem, a educação de seus gestos … enfim, é um sem limite de possibilidades sempre reinventadas e a serem descobertas. Não são, portanto, as semelhanças biológicas que o definem, mas, os significados culturais e sociais que a ele se atribuem.” (Louro&Neckel&Goellner, 2003, p.29)

“ Na sociedade contemporânea a estética pós-moderna do corpo, profundamente narcísica, cria um sujeito em que a redução da subjetividade e a ênfase na materialidade transformam o homem/sujeito em homem/objeto. (Outeiral&Cerezer, 2003, p. 85)

“O número de cirurgias plásticas e os transtornos de alimentação nos levam a pensar como a cultura pós-moderna, narcisista, incide sobre os adolescentes.” (Outeiral&Cerezer, 2003, p.89)

“A pós-modernidade é um mundo preso à imagem, no qual a visualização e a concretude resultante são fundamentais. Nada existe senão como imagem: uma pessoa é a sua imagem visual, não simbólica. O imaginário é um momento predominantemente narcísico, em que, como no mito, o indivíduo está preso, profundamente enamorado de sua própria imagem e não reconhece o Outro.” (Outeiral&Cerezer, 2003, p. 92)

“Os adolescentes, como vimos, se reúnem em grupos que podem ser mais ou menos fechados mas sempre apresentam ao mundo uma identidade própria, diferente do universo dos adultos e dos outros grupos. No mínimo, são comunidades de estilos regradas por traços de identidade claros e definidos, pois os membros devem poder pertencer a elas sem ter de coçar a cabeça se perguntando: Mas, o que será que os outros querem para me aceitar? Os grupos tem portanto em comum um look (vestimentas, maquiagem, cabelo), preferencias culturais (tipo de música, imprensa), comportamentos (bares, clubes, restaurantes, etc.).” (Calligaris, 2000, p. 57)

“O resultado disso é que cada grupo impõe facilmente a seus membros uma conformidade de consumo bastante definida. Por isso mesmo, todos os grupos se tornam também grupos de consumo facilmente comercializáveis. Os adolescentes, organizados em identidades que eles querem poder reconhecer sem hesitação, se tornam consumidores ideais por serem um público-alvo perfeitamente definido. A adolescência e suas variantes são assim um negócio excelente. O próprio marketing se encarrega de definir e cristalizar os grupos adolescentes, o máximo possível.”(Calligaris, 2000, p. 58)

“ Na idealização comercial e para maior proveito dos empresários da adolescência, praticamente todos os estilos adolescentes (seus produtos, seus apetrechos) são oferecidos e vendidos aos adultos, magnificando um mercado já interessante em si. Desde os anos 80, surge uma verdadeira especialidade do marketing da adolescência. Sua relevância está nas proporções do mercado dos adolescentes: eles são numerosos e dispõe cada vez de mais dinheiro. Mas interessam tão mercado também pela influência que exercem sobre a decisão e consolidação de modas, que transformam os modelos de consumo de muitos adultos.” (Calligaris, 2000, p.58-59)

“O grupo de iguais lhe proporciona um sentido de relação íntima e um sentimento de força e poder muito importante para ele. A fim de ingressar no grupo o jovem tende, amiúde, a conformar-se completamente com a indumentária, o corte de cabelo, o gosto musical e coisas semelhantes. O grupo de iguais, grandemente ampliado pelos modernos meios de comunicação, hoje constitui uma “cultura” adolescente com sua linguagem, seus costumes, suas instituições sociais, seus modos e métodos de resolver problemas e suas filosofias.”(Comitê sobre Adolescência, 1968, p.81)”

“ … – o adolescente constitui grupos e conformismos. É interessante notar que estes grupos mudam com extrema rapidez. Há uma constante invenção de novos estilos. Como se o adolescente tentasse correr mais rápido do que a comercialização, que quer descrevê-lo para melhor idealizá-lo e vender seu estilo. Como se ele fugisse da assídua recuperação de sua rebeldia pelos adultos, famintos de modelos estéticos de juventude, liberdade e rebeldia.”(Calligaris, 2000, p.60)

“A desvalorização do masculino, tão presente contemporaneamente, gera, especialmente neste adolescente masculino, uma overdose de insegurança, a qual parece contribuir decididamente para uma identidade postiça que o leva a ser uma caricatura, um travesti de homem caracterizado por manifestações de um heroísmo sem causa aparente, de um exagero expresso na violência de atos “radicais”, “animais”, mas também na busca existencial dos meninos de rua por roupas de marca, ligando o consumo ao autoconsumo.” (Zomignani, 2001, p. 17)

“Os meninos repetem comportamentos preconceituosos, violentos e antissociais para afirmar sua potência.” (Zomignani, 2001, p. 15)

“Cabe observar que os apontamentos realizados pelo autor referem-se mais especificamente a adolescentes masculinos em situação de risco. Mas tais referencias também são aplicáveis a adolescentes de classes mais favorecidas, pois os mesmos também tendem a exercer sua masculinidade muitas vezes de modo transgressor e onipotente, pois os chamados Bad Boys são em sua maioria sujeitos de classes favorecidas, sendo que os mesmos vivenciam uma sexualidade medida pela potência de seus carros (dirigem sem idade para tal) e de suas origens (sou o filho do fulano. Tu sabe com quem tu tá falando? E assim por diante. (Zomignani, 2001, p. 15)

“A família nuclear existe e resiste por ser fundada no amor. Amor entre pai e mãe, entre estes e as crianças que eles criam. A família – instituição que portanto sobrevive e vinga na modernidade – é a grande porta-voz do duplo vínculo moderno: ela pede às crianças todo tipo de submissão e obediência em nome do amor, mas também pede que, em nome do mesmo amor, a criança se liberte da família e ultrapasse a condição na qual se criou, para responder às expectativas dos pais. Particularmente, para dar continuidade (imortalidade) aos sonhos dos pais – sonhos frustrados antes de mais nada pela mortalidade dos sonhadores.” (Calligaris, 2000, p.64)

“ A maneira moderna de olhar para as crianças , este jeito de amá-las que faz da infância uma verdadeira divindade cultural, triunfou quando a sociedade tradicional cedeu passo ao individualismo.” (Calligaris, 2000, p.62)

“ … numa cultura individualista como a nossa, espera-se de antemão que qualquer sujeito se construa um lugar e se invente um destino contra o que a tradição e o berço onde nasceu lhe reservaram. Por isso, transmitir, ensinar, formar, são em nossa cultura, atividades tão problemáticas, pois a ordem transmitida (quer dizer, a tradição) é de contradizer a tradição.”(Calligaris, 2000, p. 63-64)

“ … outro traço bem específico da modernidade ocidental: a insatisfação fundamental do sujeito. O homem moderno não é insatisfeito acidentalmente com o que lhe acontece, infeliz porque choveu, a peste recrudesceu ou de novo a guerra vem por aí. É indispensável que ele seja insatisfeito constitutivamente, por definição.”(Calligaris, 2000, p. 64-65)

“Não há, não pode haver, objeto, façanha ou mesmo triunfo social que possa apagar esta insatisfação. Para o sujeito moderno, sua obra, seu trabalho de escalador social permanecerão sempre inacabados.”(Calligaris, 2000, p. 65)

“Graças a elas – as crianças – a insatisfação própria do sujeito moderno se torna suportável, pois o fracasso – inevitável numa corrida que desconhece linha de chegada – alimenta a espera de que as crianças façam revezamento conosco.”(Calligaris, 2000, p.65)

“A observação clínica me permite conjeturar que o período de latência, essencial ao desenvolvimento e tal como descrito por Sigmund Freus, se abrevis, invadido por uma adolescência cada vez mais precoce.” (Outeiral&Cerezer, 2003, p. 71)

“Num contraponto à invenção da infância pela modernidade, temos hoje, a “des-invenção” da infIuência pela pós-modernidade.”(Outeiral&Cerezer, 2003, p. 71)

“Se considerarmos os transtornos pela “abreviação da infância como “acontecimentos clínicos pós-modernos” , poderemos pensar que a velocidade e fragmentação, junto com outros elementos etiológicos, é verdade, configurariam como uma síndrome de zapping, “a dificuldade de concentração e a necessidade de ficar passando de um canal ao outro da televisão”, alguns dos transtornos vinculados ao déficit de atenção e à hiperatividade.”(Outeiral&Cerezer, 2003, p. 72)

“Hoje a adolescência se alonga cada vez mais, ocorrendo, inclusive, a adultescência, termo, veremos adiante, que designa o ideal de ser adolescente para sempre, como adultos tendo condutas adolescentes e faltando padrões adultos para os “verdadeiros” adolescentes se identificarem.”(Outeiral&Cerezer, 2003, p. 74)

“Meu enunciado é de que na sociedade atual não são oferecidos identificações suficientemente boas às crianças e aos adolescentes. Esse enunciado, se verdadeiro, significa o risco de termos uma geração de adolescentes presa ao ego ideal – excessivamente narcísica, atuadora, com dificuldades no reconhecimento do outro como um sujeito externo e com dificuldades na simbolização, e consequentemente, com o pensamento.”(Outeiral&Cerezer, 2003, p. 86)

“devemos pensar nos modelos e nas identificações que a sociedade contemporânea oferece: a família em rápida mudança de valores e perplexa, por um lado, de outro, revelando e transmitindo – pela mídia, política, etc. _ uma cultura, em alguns aspectos, perversa.”(Outeiral&Cerezer, 2003, p. 86)

“Como ficam os adolescentes tendo de lidar com modelos identificatórios inadequados e/ou com adultos que querem ser adolescentes? Onde encontrar modelos suficientemente bons?”(Outeiral&Cerezer, 2003, p. 87)

“Os heróis modernos tem sempre uma causa “justa, solidária e coletiva”: uma amor, uma religião, uma ideologia, etc., pela qual dedicam e sacrificam suas vidas. O herói pós-moderno, em oposição, tem uma causa estritamente pessoal, da qual deve obter o máximo proveito, não solidária, egoística; nunca deve se sacrificar ou oferecer a vida por ela. Deve, isto sim, desfrutar das benesses! O novo herói, o herói pós-moderno, é um super-herói narcísico, maníaco e predador.” )Outeiral&Cerezer, 2003, p. 89-90)

“Chegou a hora, em suma, de explicar porque e como a adolescência que nos interessa, é um fenômeno sobretudo dos últimos 50 anos.”(Calligaris, 2000, p. 60)

“Como será o adolescente do ano 2000? Antes de mais nada, será um indivíduo inteiramente alfabetizado pela informática, contando com um código semiótico que para seus pais ainda fora como uma linguagem estrangeira, jamais a materna. Por mais que nossa geração aprenda a dedilhar as teclas dos computadores, sempre falaremos nela com o sotaque de quem fez sua automação gráfica nas máquinas de escrever.” (Osório, 1992, p. 64-65)

“ A linguagem dos computadores será a língua materna e universal dos adolescentes na virada do século. A eles caberá então o privilégio de aposentar o mito da Torre de Babel. E no entendimento da fala virá, quem sabe, o dos povos e nações. Ao adolescente de amanhã tocará viver num mundo globalizado pelos meios de comunicação.” (Osório, 1992, p. 65)

“Aki a gente tah em ksa! (Veja Jovens, 2004, p. 68-69)

“Para se comunicar na Internet, os jovens utilizam um dialeto especial. Veja o que significam alguns termos:

  • Ae – Aí (também usado como saudação)             Flw – falou
  • Aki – aqui                  Kdvc – cadê você
  • Bj – beijo                                              Naum – não
  • Bora – vamos        Moh – maior
  • Ctz – certeza                    [ ] – abraços

(Veja Jovens, 2004, p.71)

“Vilela ainda aponta algumas particularidades da comunicação virtual tal como o fato de ao se usar letras maiúsculas significa que você está gritando com o parceiro de sala. Outra particularidade apontada por ele é o uso de emoticons, abreviações e códigos em suas mensagens.

Exemplos : Emoticons são aquelas “carinhas” formadas com letras sendo que as mesmas devem ser olhadas da direita para a esquerda.

🙂 = sorriso

😛 = mostrando a língua

=:-0 = assustado

I-0 = sono

d:) = garoto de boné

(.)(.) = tô de olho

😉 = piscar

😡 = beijinho

😦 = triste

😀 = gargalhada

^^ = gatinha

{:o3 = cachorro

e, assim por diante.” (Vilela, 2003, p. 15)

“Nos meios de comunicação multimídia várias dessas funções estão preenchidas e são oferecidas “prontas”, para geração “delivery” por um software e um hardware cada vez mais rápidos (embora também rapidamente tornem-se obsoletos), imediatamente, como é própria de uma cultura “fast food”, para serem consumidas por um “espectador” que assiste … Assiste caracteriza bem a questão, pois sugere algo passivo: ninguém assiste a um livro, nós lemos um livro.”(Outeiral&Cerezer, 2003, p. 80)

“Não é preciso imaginar e criar, pois tudo está criado pronto para o imput.”(Outeiral&Cerezer, 2003, p.80)

“A velocidade das coisas é, então, muito distinta entre duas gerações, entre pais e filhos. O advento da cibernética possibilita ao adolescente uma experiência vital de extrema velocidade: operações matemáticas, contatos imediatos com todo mundo pela Internet, acesso a uma quantidade de informações quase inesgotável, etc.”(Outeiral&Cerezer, 2003, p. 80)

“Esse contraste na referência velocidade/tempo entre a geração dos adultos e a dos adolescentes me leva a inferir que um dos vetores que nos levam a encontrar “hoje”, mais do que “ontem”, adolescentes “atuadores” se deve a esta quebra de paradigma: a tradicional, ou moderna, cadeia impulso-pensamento-ação cede lugar a um novo modelo caracterizado pela supressão do pensamento que demanda elaboração e, por conseguinte tempo, e que se configura “pós-modernamente” como impulso-ação, baixa tolerância à frustração, dificuldade em postergar a realização dos desejos e busca de descarga imediata dos impulsos. Há um frenético não paro, se paro penso, se penso, dói.” (Outeiral&Cerezer, 2003, p. 80)

“Viva e usufrua o dia de hoje porque amanhã você poderá ser a derradeira vítima da violência urbana ou de uma hecatombe nuclear – esta é uma mensagem subliminar que diuturnamente bombardeia a mente dos jovens de todo o mundo, perturbando-lhes a cristalização de seu sentimento de identidade e gerando-lhes uma insegurança prospectiva sem precedentes. É a queda do mito do futuro previsível (que possibilitava às gerações passadas vislumbrar seu futuro espelhado no presente de seus genitores), trazendo em seu bojo o combustível para todas as explosões e movimentos transgressores da juventude contemporânea das nações industrializadas.”(Osório, 1992, p. 37)

“O enunciado básico é de que o tempo das crianças e dos adolescentes hoje é muito mais rápido do que o tempo dos adultos: refiro-me, evidentemente, ao tempo interno, tempo de elaboração das experiências, e não apenas ao tempo cronológico, tempo do movimento dos astros, das estações, das colheitas ou dos relógios. Eles são fast kids, mas nós não somos fast parentes …” (outeiral&Cerezer, 2003, p. 78)

“Considerando que entre algumas das características da pós-modernidade encontramos a des-subjetivação e a des-historicização, as relações entre as pessoas também poderão ter características descartáveis: caricatamente, o sujeito será tomado como um gadget descartável.”(Outeiral&Cerezer, 2003, p. 81)

“Podemos imaginar o que ocorre na mente de crianças e adolescentes expostas, por exemplo, pela mídia, a uma noção banalizada da violência, David Levisky (1997) escreve, assim como Raquel Soifer, sobre os efeitos da mídia na estruturação psíquica de indivíduos em desenvolvimento: uma criança ou um adolescente, assistindo a vários assassinatos, diariamente, pela televisão, modificará sua maneira de perceber a violência da mesma forma que modificará sua erótica, se constantemente exposto a uma sexualidade, em todas as suas formas e matizes, desde quando assiste a um filme, uma novela ou uma propaganda.”(Outeiral&Cerezer, 2003, p.82)

“Este modelo de início-meio-fim é alterado na pós-modernidade: é possível se iniciar pelo meio, ir daí para o fim (ou para o início) e voltar ao meio. Há um andamento repleto de “idas e-vindas”, flash-backs (voltas ao passado), Flash-forwards (antecipações), fragmentações, simbologias e metáforas, elementos segmentados, etc.”(Outeiral&Cerezer, 2003, p.83)

“Os adultos se defrontam hoje com uma erótica diferente em muitos aspectos daquela que eles vivenciaram quando jovens, digamos nos anos 60 ou 70 … reunindo os quatro itens anteriores (1) rapidez; (2) banalização; (3) elementos descartáveis e (4) alteração na ordem da narrativa – é a questão do ficar.”(Outeiral&Cerezer, 2003, p.83)

“A situação atual cria uma erótica que, de certa forma, adquire autonomia em relação ao desejo: ou seja, o objeto está “pronto e oferecido” antes mesmo de ser desejado. Não existe mais então, este obscuro objeto do desejo” tão ao gosto dos modernos …”(Outeiral&Cerezer, 2003, p. 84)

“A banalização que envolve a sexualidade determina a necessidade da criação de estímulos mais intensos e diferentes: a simples imagem despida não é suficiente. É necessário, nos aproximando de uma cultura ao agrado do Marquês de Sade, ou gótica (lembrem-se que estamos em Gotham City), ou perversa como diriam alguns psicanalistas, criar fetiches, como a tiazinha ou a feiticeira.”(Outeiral&Cerezer, 2003, p. 84)

“Hoje em dia, me parece, esse tempo não tem sido levado em conta. Meninos e meninas estão tendo sua primeira experiência sexual com 12, 13 anos. Talvez seja muito cedo, mas virou moda. Ter 10 anos e nunca ter dado um “beijo de língua” é estar completamente por fora. Não ser mais virgem virou obrigação. É preciso transar logo para fazer parte da turma.”(Weimberg,2000, p. 72)

“O que acontece é que esses meninos e meninas sempre descrevem a sua relação sexual como uma coisa banal, sem graça. Como um dever cumprido. “(Weimberg, 2000, p. 73)

“Observa-se um contraste de concepções de ficar e namorar. O primeiro termo (ficar) indica o reconhecimento da atração física como único desencadeador do encontro entre os ficantes. O ficar é uma possibilidade “prática” de conhecer o outro, não fechando o espaço para o sentimento. Entretanto, o que está em jogo aqui não é ter ou não ter sentimento, mesmo porque o “tesão” que atrai os ficantes não é destituído de sentimento., apesar do caráter momentâneo da relação. O tesão vincula afetivamente os ficantes sem comprometê-los.”(Jorge Dória, p.22-23, texto Ficar, transar)

“A estética dos adolescentes impregnados pela estética da pós-modernidade é o vídeo clipe: breve, curto, fragmentado, desfocado, às vezes, sem início-meio-fim; não conta em termos de modernidade, uma história verdadeira.”(Outeiral&Cerezer, 2003, p.85)

“Pierre Levy (1995), pensador ligado à pós-modernidade e ao conceito de ciberespaço, escreve a propósito: A força e a velocidade da virtualizaçãoo contemporânea são tão grandes que exilam as pessoas dos seus próprios saberes, expulsam-nas de sua identidade.”(Outeiral&Cerezer, 2003, p.88)

“O telefone é o instrumento ideal para a distância física e a proximidade erótica simultâneas … De mais a mais, o telefone proporciona ao adolescente um meio maravilhoso de satisfazer a necessidade de fugir dos pais para os iguais sem precisar sai de casa. Basta lhe chamar um igual e ei-lo transferido de um mundo para o outro, escapando a um envolvimento familiar demasiado estreito pelo simples fato de voltar-se para outros nas mesmas circunstâncias. “(Comitê sobre Adolescência, 1968, p.82)

“A dança tem ocupado um lugar central nos costumes de muitas culturas. A rítmica atividade física satisfaz a uma série de necessidades. Há o deleite proporcionado pela simples realização do movimento físico e a sensação de alívio que advém da descarga das tensões na atividade. Por outro lado, a dança proporciona um meio de expressar impulsos sexuais e agressivos mais específicos, tanto em forma simbólica quanto em ação. A dança pode ser um afrodisíaco, uma parte, as carícia preliminares que constituem o primeiro passo para a união sexual. A “cultura” adolescente serve a qualquer um a todos os propósitos acima enumerados.”(Comitê sobre Adolescênscia, 1968, p. 82)

“A ocupação do espaço, doméstico ou público, pelos adolescentes é uma das formas que eles utilizam para lidar com as transformações físicas, psicológicas e sociais e com as fantasias e ansiedades que este processo acarreta.”(Outeiral&Cerezer, 2003, p. 93)

“A arrumação do quarto de um adolescente (ou a forma como “recheia” sua mochila escolar) nos dá uma dimensão bastante aproximada de seu mundo interno …”.(Outeiral&Cerezer, 2003, p. 94)

“Os adolescentes estão neste mundo, que os convida a ser uma metamorfose ambulante.”(Outeiral&Cerezer, 2003, p.93)

  1. Conclusões

A adolescência que vemos e vivemos hoje, no dia-a-dia pessoal, profissional e familiar, apesar de todas as mudanças, mantém características próprias e pertinentes a qualquer adolescência, de qualquer tempo e lugar: no Brasil, como no Japão, ou mesmo em uma aldeia indígena. O que muda é a cultura.

Questões típicas do adolescer mantém-se inalteradas, como a questão da elaboração dos lutos – a perda do corpo infantil, a identidade infantil e os pais da infância – continuam sendo absolutamente atuais e necessárias, a serem elaboradas para a evolução normal da adolescência.

O que parece ter mudado é a embalagem, a apresentação, o período de tempo, a rapidez e até a importância que o adolescente pós-moderno, passou a ter sobre toda a sociedade ocidental.

Até alguns anos atrás, era comum nos referirmos aos adolescentes como “aborrecentes”, fato que hoje, quando mencionado, é de forma carinhosa e transmite um certo “orgulho” com a condição de ser aborrescente.

Ou seja, ser adolescente apesar de complicado, dá um certo “status”.

Isto não impede que internamente o jovem viva seus conflitos e sofra muito. Talvez até mais do que quando nós mesmos, fomos adolescentes. A quantidade de distúrbios de alimentação (obesidade, anorexia, bulimia), fobias, ansiedades, pânicos, etcetcetc, aumentou consideravelmente. Assim como a eterna insatisfação com sua imagem corporal, sua postura e atitude, com o que tem e com o que é. Ele reproduz seu entorno social.

Parece que todo o entorno do adolescente, vive uma grande crise adolescente, com uma mudança significativa nos valores, costumes, conceitos, etc. É muito comum vermos pais com seus filhos adolescentes, quase clones um do outro, ficando difícil, às vezes, identificar quem é quem, pois pais e filhos apresentam enormes semelhanças em seus corpos, vestuário, adereços e atitudes. Tanta semelhança parece estar dificultando o processo de diferenciação e elaboração dos lutos adolescentes.

Cabe ao adolescente criar novos padrões de diferenciação. Os adolescentes pós-modernos estão cada vez mais audaciosos e criativos na sua forma de vestir e se construir. Piercings, tinturas de cabelo, combinações exóticas. Vale tudo, para ser único e diferente de todos, principalmente dos próprios pais.

A gíria, própria dos adolescentes – e hoje incorporada por todos – ganhou vocabulário e formato novo. Basta navegarmos na internet, nas salas de bate-papo, para vermos a criação de um novo código de comunicação. Além do computador, outro instrumento de comunicação muito utilizado pelo adolescente, é o telefone celular. Nele se fala, se joga, se contacta o outro e a si mesmo, através dos torpedos. O celular muitas vezes é uma ponte, um cordão umbilical. E está mais presente no dia a dia de milhões de adolescentes. Passou a ser produto de primeira necessidade.

O ficar, apesar de tão banalizado e popularizado, demonstra como ainda é complicado ingressar no mundo adulto dos relacionamentos. A relação com alguém do sexo oposto, continua complicada, o que mudou foi a maneira de lidar com esta dificuldade. Hoje vemos que não há envolvimento afetivo, e sim, a coisificação do outro. O afeto existe e apesar de ser tão maltratado, parece que o jovem – após o impacto inicial de entrada no mundo dos sexos opostos – mais amadurecido e menos temeroso, parece encontrar uma maneira mais “adulta” e coerente de lidar com seus afetos. Cabe lembrar, que também na área afetiva, os adolescentes pós-modernos parecem inovar para poder se diferenciar e se reestruturar. Muitos vivem a desestrutura familiar, o divórcio, e a banalização dos afetos. O ficar elabora questões afetivas mal resolvidas dos pais.

A busca por uma identidade continua sendo a tarefa básica da adolescência. Os grupos, porta-vozes desta identificação, traduzem extremos dos valores e problemas sociais atuais. Os “bad boys”, as patricinhas, os nerds, parecem traduzir a violência, o narcisismo e a virtualização, respectivamente. Todos querem ser alguém, ter sua identidade. O excesso, o extremo, parecem refletir a insatisfação, a necessidade de grandes emoções, aquilo que o jovem adolescente se autoriza e é inconscientemente autorizado a fazer.

Pensar, conviver e trabalhar com adolescentes na pós-modernidade exige que se olhe para a grande aldeia global, na qual se transformou o nosso planeta, para entendermos que ser adolescente é refletir este todo, é perceber o jovem adolescente como um ser único, em busca de si mesmo.

A adolescência, admirada e invejada, pela geração anterior e posterior – crianças e adultos – precisa ser cuidada e protegida. Existe muito expectativa e cobrança sobre ela, e o adolescente tem mostrado o quanto isto pode ser destrutivo para ele.

As depressões, suicídios, violência, distúrbios de conduta, de alimentação, nos dão a ideia de quão complicado pode ser, ser um adolescente pós-moderno.

  1. Referência Teóricas:
  1. OSÓRIO, Luis Carlos.   Adolescente Hoje Porto Alegre, Artes Médicas, 1992.
  2. OUTEIRAL, José; CEREZER, Cleon.   O mal estar na escola.   Rio de Janeiro, Revinter, 2003.
  3. LOURO, Guacira Lopes; NECKEL, Jane Felipe; GOELLNER, Silvana Vilodre.   Corpo, Gênero e Sexualidade – Um debate contemporâneo na educação.   Petrópolis, Editora Vozes, 2003.
  4. CALLIGARIS, Contarde.   A Adolescência. São Paulo, Publifolha, 2000.
  5. COMITE SOBRE ADOLESCENCIA DO GRUPO PARA ADIANTAMENTO EM PSIQUIATRIA (E.U.A) – Dinâmica da Adolescência Octavio Mendes Cajado.   São Paulo, Editora Cultrix, 1968.
  6. AXELRUD, Elaine; GLEISER, Débora; FISCHMANN, Janice.   Obesidade na Adolescência – Uma abordagem para pais, educadores e profissionais da saúde.   Porto Alegre, Mercado Aberto, 1999.
  7. CONGRESSO INTERNACIONAL DE PSICANALISE E SUAS CONEXOES – O Adolescente e a modernidade. TOMO II   Rio de Janeiro, Companhia de Freud, 2000.
  8. VEJA JOVENS   São Paulo, Editora Abril, 2004.
  9. WEINBERG, Cybelle.   Porque estou assim? Os momentos difíceis da Adolescência.   2ed.   Sâo Paulo, Casa do Psicólogo, 2000.
  10. REVISTA VIVER PSICOLOGIA. No. 102   São Paulo, junho de 2001. Artigo: Filhos: vivendo de emoções, de Sylvia Cavasin.
  11. REVISTA VIVER PSICOLOGIA. No. 107   São Paulo, dezembro de 2001.   Artigo: Desafio à Masculinidade , de Maurício de Araújo Zomignani.

 

 

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