Quais são os principais desafios enfrentados pelos casais modernos? Todos os casais, enfrentam desafios durante toda a jornada a dois. Os desafios somente mudam conforme avança o casamento e a idade de cada membro do relacionamento. No início, as questões mais desafiadoras dizem respeito às regras que regerão o casamento: quais valores e princípios familiares serão adotados pelo casal (os dele ou os dela?), existe uma disputa mais acirrada pelo poder na relação (é quem manda e decide: desde o sabão em pó comprado no supermercado, até o momento de ter filhos, comprar a casa própria ou uma simples bicicleta). Com o passar do tempo, vem a rotina e os problemas comuns da própria vida: filhos, dificuldades financeiras, doenças, crises variadas. Alie-se a tudo isso o fato de o casamento ter se transformado numa instituição frágil – meio “fast” para alguns casais com baixa tolerância à frustração – onde a possibilidade de divórcio é constante no horizonte; onde homens e mulheres – cada vez mais – insistem em seus próprios direitos; onde ceder representa submissão ou inferioridade. O vínculo amoroso tem que ser substancialmente maior do que qualquer ímpeto egoísta e individualista. Outras questões vem com a própria modernidade: as mídias digitais (tipo Facebook ou wathsapp) quando não bem discutidas e combinadas a dois, geram enormes dores de cabeça, cenas de ciúme e rompimentos; a urgência no “ter” faz com que casais desgastem o relacionamento pelo excesso de trabalho e distanciamento afetivo.
De que forma os casais vivenciam o casamento hoje em dia? Eu diria que com reservas. São raros os casais que vão com tudo pra fazer o relacionamento dar certo. É comum haver um Plano B (consciente ou inconsciente) em alguma gaveta do casamento. Hoje, o casamento é sempre uma possibilidade que pode dar certo. Ele, não necessariamente precisa dar certo. Se o casamento fracassar, outro pode se concretizar em curto espaço de tempo. Existe uma certa sensação de banalidade na autenticidade dos sentimentos que mantém muitos dos relacionamentos humanos. As pessoas confiam muito pouco umas nas outras, e qualquer mal entendido pode virar tempestade em copo d’agua.
Quais aspectos tem alterado o “padrão” dos relacionamentos ao longo das últimas décadas? Na década de 50/60 a liberdade sexual feminina se instalou com a descoberta dos anticoncepcionais (o sexo passou a representar prazer, além de fecundidade e procriação). Com a entrada das mulheres no mercado de trabalho, a independência financeira a libertou de casamentos desgastados e complicados podendo se divorciar e retomar uma nova vida. A necessidade da mulher competir e se sobressair no mercado do trabalho, levou a batalha dos sexos para a arena conjugal, dentro da própria casa. Existe pouca paciência e tolerância – feminina e masculina – para as questões do dia a dia.
Qual é o papel do homem e da mulher nas relações atuais? Me parece que a mulher entrou numa rota sem volta, e ela vai seguir em frente, em busca de maior independência prática e financeira. A mulher se fortaleceu como ser individual. Ela almeja depender o mínimo possível dos homens, tidos por muitas, como fracos e perdidos. Este “levante feminino” embaralhou tudo o que os homens pensavam e queriam das mulheres. E eles estão sim, em busca de um novo papel social. Óbvio que existem mulheres que preferem e se mantém submissas e dependentes dos homens. Óbvio que existem homens seguros e autoconfiantes. A verdade é que estamos num momento de encruzilhada quanto aos relacionamentos. A sociedade como um todo vive este momento. O certo é, que homens e mulheres precisam um do outro, e não apenas para procriar como espécie. Também não mais, como no tempo das cavernas, quando o homem saía pra caçar e a mulher cuidava da colheita e da prole; não mais como o homem que saía pra trabalhar e tudo podia, enquanto a mulher ficava em casa cuidando dos filhos e odedecia aos mandos e desmandos do marido; não mais como duas feras que competem no mercado de trabalho e se engalfinham na cama como machos e fêmeas em busca de sexo, estando o amor encolhido e escondido com medo de mostrar a fragilidade inerente à espécie humana. Um simples FF (Foda Fixa), Pau Amigo, Garota de Programa, Ficante ou a Transa de uma Noite, não dão conta da necessidade humana de carinho, amor, cuidado, segurança e afeto. O sexo pelo simples sexo escancara o grande vazio em que podemos transformar a relação a dois. Não acredito num modelo de papel feminino e masculino massificado que dê certo. Somos todos seres únicos e diferenciados, e assim devem ser nossos relacionamentos. Precisamos encontrar a melhor forma de viver a dois, respeitando a individualidade de cada um.
Como manter um relacionamento saudável, apesar das dificuldades? Basicamente com amor, diálogo e respeito. O amor é a base para absolutamente tudo na vida. O diálogo corrige enganos e acerta rumos. O respeito mútuo permite ser quem verdadeiramente somos enquanto seres humanos, enquanto casais. Quando um destes pilares da conjugalidade falha, a estrutura despenca, o relacionamento desaba, o casamento termina.
Quais são as maneiras significativas capazes de marcar uma conquista no relacionamento? A felicidade e a realização conjugal são a maior conquista de qualquer casamento: Filhos, gratificação sexual e afetiva, sucesso profissional e financeiro, uma casa para morar, uma viagem por ano ou de vez em quando, amigos, saúde, paz, etcetcetc são medidas para avaliar as conquistas no relacionamento. Talvez a grande questão seja como dimensionar estas conquistas. Tem o eterno insatisfeito que quer sempre mais. Tem sempre aquele que se contenta com pouco. A busca pelo equilíbrio é a grande conquista.
Celebrar as datas/bodas é importante, na sua opinião? Conte-nos histórias que possam inspirar outros casais… É importante celebrar, sim. O casamento é um ritual que demarca, tanto para a sociedade, quanto para o casal, uma mudança de papel e de status como indivíduos. Todas as formas de ritual tem esta função: batismo, festa de 15 anos, ida ao exército, vestibular, noivado, casamento, funerais, etcetcetc. O que está faltando é um ritual para o divórcio (até existem algumas tentativas individuais e pessoais, mas nada no âmbito social) Assim como o casamento anuncia à sociedade a união de um homem e uma mulher, não existe nada que anuncia o rompimento desta união.
Qual é a melhor forma de celebrar estas datas? A forma que o casal achar que combine mais com suas necessidades e interesses. Pode ser um jantar em família ou a dois, uma festa de arrasar quarteirão, uma viagem, a compra de algo significativo. Ambos devem conversar e definir o que melhor combina e agrada aos dois. Tem aqueles que preferem não fazer nada. Se a decisão de deixar passar a data “a ver navios” for conjunta, tudo bem. O que desgasta a relação é um dos cônjuges querer e fazer tudo a seu jeito, sem ouvir e respeitar o que o outro cônjuge gostaria de fazer. O diálogo na vida a dois é fundamental desde sempre.”
O texto ainda não chegou até Taciana, pois ainda não recebi o email dela. Se chegar, tomara que se transforme em matéria de jornal. Já estou curiosa pra ver como vai ficar. Curiosa também estou, pra conhecer Taciana.