Casas são tagarelas
Assim como coisas são bisbilhoteiras.
Elas nem sempre se contentam em ficar onde as colocamos.
Às vezes – raramente – elas concordam.
Insistem em conhecer a casa
- – de ponta à ponta, de cima a baixo, de canto a canto –
bibelôs, quadros, abajures, porta-retratos, cadeiras, sofás, poltronas, tapetes, plantas, velas, almofadas, bandejas, vasos, esculturas,
excursionam pela casa, bisbilhotam espaços, escolhem e sacramentam:
aqui é o meu lugar.
E a gente, que carrega a casa
- de ponta à ponta, de cima a baixo, de canto a canto –
É chamada de louca-inconstante- não tem o que fazer-nem sabe o que quer.
Mal desconfiam estes, do poder da bisbilhotice da matéria.
Quando a excursão termina e a bisbilhotice é saciada,
Vivemos todos, felizes para sempre, por algum tempo.
Sabe como é:
De tempos em tempos a matéria quer se certificar dos espaços.
Talvez tenha chegado a hora de trocar de vista.
E assim, mantemos a fama de loucas e bisbilhoteiras.