Sobre a mulher

Há mais de 50 anos, nossas mães e avós sabiam exatamente o que se esperava delas no casamento. Os homens escolhiam as moças bonitas, virgens e sexualmente inexperientes, prendadas, que soubessem cozinhar, cuidar da casa, dos filhos, e se possível, ajudá-los a subir na vida.

Depois da pílula anticoncepcional e do feminismo, o mundo mudou.

A emancipação feminina em pauta desde os anos 60 nasceu em decorrência da invenção dos anticoncepcionais, que separaram definitivamente sexo/prazer de sexo/reprodução, e também, da crescente absorção das mulheres no mercado de trabalho, o que significa independência financeira.

O que é a Emancipação Feminina? Emancipar é dispensar do poder paterno ou da tutoria, tornar independente, dar liberdade à. Emancipação feminina é liberdade e independência femininas.

Como os anticoncepcionais provocaram a emancipação feminina? Sabe-se que as mulheres – no início da história da humanidade – eram o centro, o núcleo da sociedade matricêntrica. Como davam a luz e perpetuavam a espécie humana eram importantes e valorizadas. Não se sabe quando o homem descobriu seu papel na reprodução, mas, segundo estudiosos e antropólogos – a partir desta descoberta – passaram a controlar a fecundidade das mulheres e também a controlá-las como pessoas.

Na antiguidade, a elite romana usava bexiga de peixe como preservativo. Com a Revolução Industrial no século 19 surge o atual preservativo, barato e seguro e ao alcance de todos. Quem continua controlando a reprodução é o homem. O preservativo não mudou a maneira de viver das mulheres. Permanecia intacta a estrutura familiar patriarcal e a dependência feminina. Com a pílula, ocorre uma mudança radical na maneira de ser da mulher, pois a partir de então, é ela quem passa a controlar sua fecundidade. Imagine o que isto significa: a mulher decide quando e quantos filhos quer ter. Pela primeira vez, a vida sexual da mulher não se limita só à reprodução, mas também ao prazer.

Durante milênios a mulher dependia do homem, principalmente por causa de sua força física. No período pré-histórico ela dependia da caça; depois, passou a depender da colheita com o arado. Esta dependência decorria do fato da mulher não ter condições de sobreviver nos períodos de gestação, parto e pós-parto, pois precisava de alguém para fazer as tarefas que exigiam força bruta.

A Revolução Industrial – que desencadeou todas os progressos e facilidades que conhecemos hoje (energia elétrica, máquinas à vapor, os eletrodomésticos, etcetcetc) – criou uma indústria moderna que não exige força física de quem trabalha. Atualmente a mulher consegue se manter e manter seus filhos.

Desta forma, o papel da mulher começou a mudar significativamente a partir da década de 60, consequentemente a estrutura familiar e o casamento. Surge – aqui no Brasil – o divórcio em 1977 e com ele mudanças sociais profundas. Com a legalização do divórcio, as mulheres não são mais obrigadas a se submeter a um marido opressor ou a um casamento sem amor. Com a separação do casal, a família também se divide. Novas famílias são formadas, onde os pais, os filhos dos pais separados são levados a formar uma nova família. Todas estas modificações na estrutura familiar levaram a uma mudança de valores morais.

A sociedade brasileira, assim como em todo mundo, é essencialmente patriarcal. O homem é o chefe da família, o centro, a autoridade máxima. O patriarcado não se limita apenas ao âmbito familiar, se estende também a outros segmentos da nossa sociedade, como a vida pública e econômica, onde ainda a esmagadora maioria dos chefes e postos de nível elevado é ocupado por homens. Na vida econômica, pense quantas donas de fábricas, diretoras de empresas, gerentes femininas de grandes corporações você conhece? Na vida pública, quantas prefeitas, vereadoras, deputadas, senadoras, governadoras, ministras e até presidentes você conhece? É verdade que cada vez mais mulheres ocupam estas posições na atualidade. Mesmo assim, elas representam uma grande minoria. Isso porque numa sociedade patriarcal existem várias divisões. Uma delas é a divisão entre o Público e o Privado. Cabe ao homem o lado público da vida, e à mulher, o lado privado (o lar, os filhos, o marido). Quanto à mulher, esta também era/é dividida em Pública e Privada. A mulher pública era a prostituta, a que vendia favores sexuais e podia expressar sua sexualidade. A mulher privada era/é a mulher fria que só tinha relações sexuais para fins de reprodução.

A mulher já está inserida no mercado de trabalho há vários séculos, porém, como acontece ainda hoje, seu trabalho é muito mais explorado e menos valorizado que o do homem. Em 8 de março de 1857, 128 mulheres fizeram uma greve por melhores salários (recebiam 50% a menos que os homens) e redução de jornada de trabalho, de 16 para 10 horas diárias. Vendo a fábrica parada, o patrão trancou as portas com as mulheres decididas a sustentar a greve e incendiou o local matando todas as trabalhadoras. Este acontecimento é lembrado sempre e marca o 8 de março como o Dia Internacional da Mulher.

Sabe-se hoje que muitos, senão todos os traços que chamamos de femininos ou masculinos são fracamente ligados ao sexo, como por exemplo as roupas, as maneiras, o penteado, etcetcetcetc. que é adotado diferentemente, conforme a sociedade e a época. Ou seja, estas características são um produto cultural que varia de cultura para cultura. Nos Tschambuli, tribo indígena africana, as mulheres são a cabeça da família. Enquanto os homens se dedicam quase que exclusivamente a atividades artísticas – confecção de artigos ricamente ornamentados, estudo de danças cerimoniais, representações teatrais, etcetcetc. – as mulheres fazem todo o trabalho que forma a base econômica da sua sociedade. É delas que se espera necessidades sexuais indomáveis. São elas que escolhem os maridos, não se arrumam, raspam a cabeça. Os homens cuidam do seu físico, especialmente de seus complicados penteados com grande dedicação. Ali os socialmente inadaptados entre os homens correspondem a caracteres que chamaríamos de masculinos, e igualmente, são as mulheres femininas as que contrastam inadequadamente em seu ambiente.

Talvez a única inferioridade feminina seja a física. A capacidade intelectual da mulher é igual a do homem. As conquistas concretas da mulher terminaram com este preconceito, enraizado desde o início da história da humanidade. Ela demonstrou que podia competir de igual pra igual com o homem. Frente ao fato de igualdade em todos os campos, os homens sentem-se inseguros, temendo perder sua virilidade (vigor, energia) se perderem seu predomínio social sobre a mulher. Esta por sua vez, sente-se virilizada, masculinizada em seu novo papel de mulher independente, que ganha sua própria vida e sustenta seu próprio lar.

Toda esta liberdade sexual e social adquirida pela mulher, impõe graves restrições à maternidade, que é transcendente à ela, instintiva e também, o maior desejo de realização pessoal para a maioria das mulheres. Antigamente, nossas avós pediam socorro frente a um rato, mas não tinham dificuldades para amamentar seus filhos. Atualmente, as mulheres dirigem até aviões, mas é comum não saberem como alimentar seus filhos, adotando muito cedo a mamadeira em detrimento da amamentação. Na época de nossas avos e bisavós eram comuns as famílias numerosas. As mulheres viviam muito ocupadas com as inúmeras gravidezes e cuidados com tantos filhos. A mulher vivia plenamente sua maternidade.

Com os avanços da medicina e os anticoncepcionais, a mulher – já com número reduzido de filhos -, começou a se sentir inútil num lar vazio. Lançada no mercado de trabalho, teve seu lado maternal afetado. A mulher moderna tem problemas nas suas funções femininas: menstruação, concepção, parto, fertilidade, amamentação, etcetcetc., problemas que nossas antepassadas também tiveram, em escala consideravelmente menor. A mulher moderna é mais doente e complicada. Sempre que ela não consegue conciliar realização profissional com o papel de mãe/mulher/companheira ela tende a somatizar, descarregando no corpo esta incapacidade de realização plena.

Antigamente a mulher sabia que a finalidade de sua vida era casar-se e ter filhos. Atualmente, a maternidade não é mais tão desejada, a maioria das mulheres trabalha por necessidade (seu trabalho é fundamental para o sustento de sua família) e a gravidez é sentida – frequentemente – mais como um estorvo econômico e social, do que como uma alegria.

A maternidade foi substituída por outros ideais: trabalho, estudo, viagens, independência, etcetcetc., ideais que – normalmente – rivalizam com a maternidade. Mesmo aquelas que casaram, tiveram filhos e decidiram trabalhar ou estudar, sabem das dificuldades para conciliar todos estes papeis, além de muitas vezes conviverem com um homem à moda antiga, que pouco ajuda em casa e critica a mulher por abandonar a casa e a família em busca de outras gratificações. Espera-se que a mulher que trabalha fora de casa dê bom atendimento ao marido, filhos e casa. Ela normalmente enfrenta exigências maiores do que o homem. Além de cumprir um horário de trabalho igual ao do homem e conciliar família/casa, vê-se obrigada a manter-se elegante, estar na moda, ter bom gosto, estar informada, etcetcetc.

A mulher que prefere ser dona de casa, poderá viver uma vida estritamente feminina. No entanto, nem ela nem a mulher que trabalha fora conseguirão gozar bem desta maternidade. A mulher que trabalha fora culpa-se por não estar presente no dia-a-dia do filho, e aquela que optou por ser dona de casa temem que seu carinho e dedicação possam prejudicar seu filho. O que acontece atualmente é que a mulher vive numa sociedade extremamente civilizada, com medo do contágio, do contato, da desordem (mania de limpeza e organização). A mulher tende a reprimir sua ternura maternal e duvidar dos seus impulsos e instintos maternais, e somente com autorização profissional (professor, médico, psicólogo) irá demonstrar estes sentimentos a seu filho.

A dona de casa enfrenta também outros problemas. Sente-se pouco atraente e interessante. Todos lhe dão a entender que ela não trabalha ou que o trabalho que realiza é de pouco valor, pois não resulta em dinheiro, nem ajuda no sustento do lar. Com o tempo tornar-se-á frustrada. Seus filhos buscarão rapidamente a independência, buscando sua própria casa e família, diferente de antigamente, quando os noivos permaneciam na casa dos pais. As filhas e noras preferem educar seus próprios filhos sozinhas, sem a ajuda da avó. Atualmente não é raro o homem trocar sua mulher (mais velha) por uma mais jovem.

Entre os motivos que levam a separação do casal, a traição é o que desponta em primeiro lugar nas estatísticas dos escritórios de direito, chegando a atingir metade dos casos. Em 99% das vezes a traição é do homem e quase sempre com mulheres mais jovens. Mesmo assim, os homens casam mais vezes que as mulheres, pois os homens divorciados tem 4 vezes mais chances de se casar novamente que as mulheres em condições iguais. É o que os demógrafos chamam de Poligamia Sequencial. Ao longo da vida eles terão várias esposas, cada vez mais jovens. Existem para cada mulher na faixa dos 35 a 39 anos 4 homens; para cada homem dos 35 a 39 anos, 8 mulheres. Isso porque os homens escolhem mulheres mais jovens e as mulheres, homens mais velhos. Assim os homens tem mais chances de reconstruir a família depois da separação.

Existem também as mulheres que preferem não ser mães, ou por opção, ou por incapacidade física. A mulher sem filhos poderá ser feliz desde que encontre uma forma de canalizar e sublimar seu instinto maternal, permanecendo – mesmo assim – uma estranha sensação de vazio.

A mulher no mundo:

O planeta Terra é imenso. Dentro desta imensidão, surgiram diferentes culturas. Mundo afora a mulher sofre preconceitos, violência física e psicológica, para mantê-la submissa e conformada. A emancipação feminina, tão difundida e aceita no Ocidente, ainda está engatinhando no Oriente e países africanos.

Em Bangladesh, escolher o marido das filhas é obrigação dos pais. 50% das vítimas de assassinato são mulheres mortas por seus companheiros. O governo obriga as mulheres a fazer um implante anticoncepcional (NORPLAN) em nome do controle populacional.

Em vários países do Oriente Médio e em algumas regiões da Indonésia. Malásia, Índia e Paquistão e em mais de 20 países africanos, estima-se que 85 a 114 milhões de meninas vítimas de mutilação genital (cirurgia em que é extirpado o clitóris). A cirurgia é feita para tornar as mulheres inorgásticas desde crianças. Não conhecendo o prazer sexual, não se revoltarão contra seus maridos.

Em 26 países muçulmanos, entre eles o Sudão, Nigéria, Quênia, Tanzânia, Djibuti, Península Arábica, ainda existem 80 milhões de mulheres infibuladas. A infibulação consiste em costurar os grandes lábios da vulva, deixando um pequeno orifício por onde a mulher urina e mantem relações sexuais. Cada parto é doloridíssimo. Primeiro os pontos tem que se rasgar, para só depois, o parto – como nós o conhecemos – poder prosseguir. Tão logo acaba o resguardo a mulher é novamente infibulada, pois os homens preferem mulheres infibuladas. As que não são infibuladas não conseguem marido são fadadas à prostituição. As mulheres que são violentadas desta forma demonstram total silêncio e falta de opinião própria. Por terem perdido o contato com o próprio prazer, perdem a própria identidade.

Na África negra, principalmente no oeste africano, existe a poligamia. Nestas regiões, cada mulher excedente é mais uma riqueza para o homem e um alívio para a primeira esposa, pois a segunda dividirá o trabalho da terra e da casa. O homem vive sem fazer nada. Apenas administra suas mulheres.

No mundo árabe também existe a poligamia, permitida pelo Islã. Qualquer homem pode ter tantas mulheres quantas puder sustentar.

Na China, o aborto de fetos femininos está provocando um desequilíbrio na relação entre homens e mulheres. Para cada 100 meninos nascem 85 meninas.

Outros países tem costumes exóticos com as mulheres. O grande objetivo destas práticas é a anulação e a submissão da mulher ao homem.

No mundo todos, recebem de 30 a 40 % menos do que os homens pelo mesmo trabalho. Entre as negras, esta diferença pode chegar a 60%.

A dupla jornada de trabalho feminina é uma realidade em todo mundo. Segundo a ONU as mulheres dedicam pelo menos 30 horas semanais às tarefas domésticas, enquanto os homens dedicam – no máximo – 10 horas.

Ainda hoje, as mulheres constituem 2/3 dos analfabetos do planeta.

A cada ano, 3 a 4 milhões de mulheres são espancada no mundo.

Observação: este texto foi escrito por volta de 2003 e 2004. Possivelmente alguns dados tem valores alterados.

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