Adolescer e envelhecer: ciclos que se repetem

Sensibilidade ao toque, ao olhar, no sentir e viver.

Um momento de vida,

A sensibilidade aranhando a alma.

Meno Pausa = menopausa = última menstruação = fim de um ciclo.

Antes dela, o Climatério.

Soa cemitério. Morte de um ciclo.

O renascer se inscreve.

Um novo ciclo está por vir.

Tempo de encontros e desencontros.

Um adolescer tardio.

Que identidade servirá neste momento?

Tenho um amigo que escreve de frente pra parede, num quarto pequeno e mal arejado. Já eu escrevo de frente pro mar. Ando escrevendo pouco. Já ele, escreve muito. Acho que ando me perdendo nas ondas e nas cores à minha frente e à minha volta. Ando me perdendo também, de mim mesma.

Ando às voltas com meus hormônios.

De novo.

Da primeira vez – e faz tempo isso – os hormônios bagunçaram toda minha vida.

Adolesci e adulteci num piscar de olhos.

Caí de cabeça e me afoguei no universo de gente grande.

Tive uma vida pra me adaptar. Algo em torno de quarenta anos.

Não conto mais com este elástico temporal.

Conto apenas com a maturidade.

Algo, por demais subjetivo,

que julgo ter alcançado.

Em partes. Talvez plenamente.

O tempo de agora é de costurar a vida vivida

E se preparar para algo maior ainda.

A própria morte.

Como da primeira vez

Meu todo luta bravamente.

Não quer deixar nem o momento,

Nem a vida vivida.

Conto com o elástico temporal.

Enquanto isso …

Minha atenção e minha memória andam pregando peças. Permito-me a contemplação. Me disseram que isso passa. Deus te ouça. Ando farta de esquecer nomes, palavras, números, compromissos. Ando farta de esquecer o que fui buscar, o que eu queria dizer ou fazer. A sensação beira um pré-alzheimer. Bato na madeira. Ainda não. Para sempre Alice (o filme) não está em nenhum dos meus planos. Percebo também a falta de paciência com as pequenas coisas, com quase todas as pessoas. Talvez o maior motivo de não estar clinicando. Tratar da dor do outro exige carinho, atenção, cuidado e tolerância em doses cavalares. O que tenho a dar são parcas migalhas. Alguém me disse que este momento era meu. Osho, um guru indiano, diz que devemos ser – primeiramente – egoístas e nos deixar transbordar. Pra só então se doar. Ando em compasso de espera para este transbordamento. Tem também coisas idiotas que me tiram do sério. A política, por exemplo. A corrupção. A violência. A pobreza. As doenças.

Ando farta disso tudo.

O mundo teve tempo de sobra pra melhorar. Porque não melhorou?

O mundo somos nós.

O que fizemos com o mundo em que vivemos?

Me decepciono com a raça humana.

Me decepciono comigo mesma.

O que eu posso fazer pra melhorar o mundo em que vivo tem sido um dos meus grandes questionamentos. Ainda estou tateando a direção a seguir.

E quanto à escravidão das dietas? Ando farta de todas elas. Ando mesmo é me deliciando com o prazer da boa mesa e dos bons vinhos. Sem culpas? Só quando me olho no espelho ou não entro numa roupa que adoro. Mas já não me incomoda tanto quanto incomodava tempos atrás. Estar saudável importa mais que estar bonita. O corpo precisa de combustível e energia. A alimentação ganha uma nova conotação. O equilíbrio também. Pena que a ansiedade não percebeu nada disso e continua sendo uma grande vilã. Concluí que meu problema não são os quilos extras, mas sim, o processo insano e mirabolante, de inflar e desinflar de tempos em tempos. Ok. É a maldita retenção de líquidos + o metabolismo lento. Por conta dessa piada de mau gosto da evolução humana, meu guarda-roupa aposentou de vez o tamanho P. Continuo com as roupas M e G, e horrorizada, vejo o GG se instalando em cabides e gavetas, sem nenhuma cerimônia ou educação. Estou em dúvida se volto ou não ao endocrinologista. Eu bem que avisei que aqueles quase cinco quilos perdidos em quase um mês, ou eram erro da balança, doença desconhecida ou perda de líquidos. Podia ser pior, sei disso. Mas não estou a fim de reconhecer nos olhos do meu médico o que o espelho cruelmente me esfrega nos olhos. Também não estou a fim de sermão. O fato é que minha calça de veludo azul mal sobe os quadris.

Para as dores generalizadas, descartei a hipótese de fibromialgia. O colapso hormonal que me domina por inteiro repercute no corpo, na alma, na mente. Tudo dói. Tenho feito automassagens. Meu corpo agradece. Mesmo assim, dói. Vai passar, me disseram. Enquanto isso, desmarco academia, tomo analgésicos. Quando dá faço Pilates. Quando dá é quando tenho vontade. Vontade e desejo tem sido reféns da oscilação de humor e da depressão. As mais do momento.

Tem também a insônia. Um assunto recorrente. Um sintoma enervante.

Vocês não estão com calor? Enfim, depois de perceber que todos andam muito confortáveis em blusões e casacos e salas fechadas, cheguei à conclusão de que o problema com o calor é comigo mesma. Nada a ver com janelas trancadas ou pouca ventilação. A sensação de estar sufocando ou entrando em combustão é somente minha. Por enquanto algo que presumo serem mini-fogachos. Não quero nem imaginar os fogachos normais. Minha mãe não teve nem fogachos, nem cólicas menstruais. Dizem que estas coisas do feminino são genéticas. Já eu tive cólicas menstruais homéricas uma vida inteira … e, parece não ser da minha mãe minha herança genética para as coisas do feminino. Estou otimista e um pouco realista. Fazer o quê!! Do limão uma limonada!! Resolvi fazer uso de leques charmosos e exóticos, souvenirs trazidos de muitos lugares e viagens. Mas é só sacar o leque e começar a me abanar que todo mundo olha. Sem contar os comentários: tá na menopausa? Eu não senti nada. Tenho amigas que sofrem muito. Vai fazer reposição hormonal? Chá de amora branca ajuda bastante. Cápsulas de prímula, também. E por aí vai. Já não me incomodo mais com o olhar masculino, nem mesmo do meu marido. Leques lembram matronas gordas e ultrapassadas. Espalhei os meus pela casa toda. No carro. Nas bolsas. Decidi fazer dele o mesmo que fiz com lenços e mantas. Uma marca pessoal. Um jeito de ser. Pode parecer que os melhores tempos estão se perdendo. Penso que estão se reciclando. O processo de entrar na menopausa e envelhecer me remeteu ao processo de me tornar adolescente. A busca por uma nova identidade, as mudanças corporais, as alterações de humor (irritabilidade, depressão) são comuns aos dois processos. Um se encontra na subida do desenvolvimento humano, o outro, na descida. Um reporta à extroversão, a busca do outro, as conquistas materiais e afetivas. O outro reporta à introversão, a busca de si mesmo, a preservação do que foi conquistado e a manutenção dos vínculos afetivos. Pode parecer que o processo de subida é melhor (e penso que é) mas é no topo e na descida que vislumbramos melhor o todo.

Ando fazendo uma retrospectiva da minha própria vida, avaliando escolhas, repensando atitudes e valores. Sei que meu elástico temporal começa a cansar e lassear. As coisas que ainda quero fazer e sentir pressionam por decisões e atitudes. Querem acontecer ou ser deixadas em paz. O bom de se estar na descida é que é agora ou nunca. O que os outros vão dizer ou pensar conta cada vez menos. Ainda bem.

Diferentemente da subida

  • quando o esforço é grande –

A descida sugere um deixar rolar e acontecer,

Aprecie a paisagem

deixe o vento acariciar o rosto e bagunçar os cabelos

Grite de alegria

Levante os braços e comemore.

Sinta o coração palpitar

O estômago embrulhar

Viva o momento.

Sinta a vida!!!!!

Do jeito que for

Deixe acontecer.

Aproveite a vida e a paisagem.

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