As pessoas sempre me perguntam o que são minhas telas. O que elas – as telas – representam. Arte não se explica. Se sente. Digo que elas são o que a pessoa quer que sejam. Arte Moderna tem disso. Minha arte – nada mais é – do que um portal para meu inconsciente.
Espero sempre – que o inconsciente de quem ganha, compra ou admira as telas – sinta-se atiçado e reivindique expressão. Que transborde e aponte o que tem a dizer.
Preparei algumas telas para presentear no Natal. Algumas eram promessas antigas e precisavam ser cumpridas. Me tintei toda. Borbulhei inteira. Depois de prontas, admirei cada uma delas e pensei: o que cada uma teria a dizer?
Fuga
Se pudesse eu fugiria,
fugiria das grades, dos pântanos, do branco espectral.
Me confundiria com o céu azul e o vermelho alegria,
me lançaria em golfadas
para a vida, para o mundo.
Se pudesse …
Cá estou.
Abismo Sideral
O céu e o inferno se querem,
se buscam, se encontram.
Dançam no ritmo da Rumba, da Salsa. Lambada. Tango. Jamais uma Valsa.
Fazem gráficos. Tiram medidas. Avaliam-se.
Não importa o que conspira,
o que constela no vácuo, no espaço de pontos.
Estalactites, estalagmites.
A beleza do abismo. O encanto sideral.
Nana nenê
“Nana nenê que a cuca vem pegar
Papai foi na roça, mamãe já vai chegar.”
Chegamos, os dois.
Sonhe com os anjos azuis, com o sol de amarelo.
Vibre com o vermelho e o laranja da vida.
A Sombra existe. Respeite-a.
Nana nenê.
Estaremos sempre com você.
Flowers
Obra prima de Deus.
Fálicas e ginecológicas.
Flores. Flowers.
Um buquê.
Candelabros de Luz
Queria me acertar
Pra lá me fui, pra cá me perdi.
Quem sabe mais uma camada.
Mais cores, mais amores.
Mais uma tentativa.
A perfeição que não existe.
A harmonia que insiste. Persiste.
Ficarei
- – por ora –
perdida e deformada.
No pano de linho retangular,
tento, tento, tento, tento…
Retomo as tintas. Me jogo inteira.
Candelabros azuis surgem.
A luz me abraça.