No beiral de casa, uma rave.
Na jardim de casa, um soutien preto sobrado e esquecido
dependurado na corticeira.
No quintal junto ao mar azul esverdeado,
oferendas pra Iemanjá, pernas entrelaçadas, beijos vorazes, corpos descontrolados, mãos bobas, gritos, gemidos, poses na escuridão, farofada de branco e amarelo. Indecências e leviandades.
Lixo. Luxo. Luxúria.
Jurerê se transforma por estes dias.
Como lembrou a amiga Ivone. Uma quase
– Sodoma e Gomorra –
Tempos Bíblicos em pleno século XXI.
O sol queima. O ácido da inveja infesta olhares e perfura pneus dos carros esportivos exibidos junto às putas, prostitutas, modelos, garotas de programa, desfilando em saltos maiores que saias. Namoradas?
A gula que transborda num excesso de tudo: volumes, tamanhos, quantidades.
A orgia pagã reina absoluta
em cada minuto do primeiro dia do resto do ano que está por vir.
Consolo e grito pela dor do desconhecido
Da vida que atropela,
da guerra que pode ser o viver
– com o outro, consigo mesmo, com a própria humanidade –
Melhor festejar cada minuto do primeiro dia e noite de 2017,
As luzes dos fogos, a ilusão da festa da vida.
Porque do resto do ano nada se sabe.
Comemoremos, então.