tão corajosa eu fui.
engravidei num colégio de freiras.
casei no funeral do meu avô.
pari sozinha dois filhos prematuros.
mudei de casa, de cidade, de roupa, de identidade.
tantas e tantas vezes, que perdi a conta e o rumo.
mantive o prumo, apesar dos solavancos.
fui escudeira do adoecer de tanta gente.
a jornada, por fim, me acovardou.
não sei se saio da cama, abro a janela, respiro o ar de um novo dia,
de um novo mundo, de novos quereres.
não sei se puxo o edredom e me asfixio na dor.
talvez deva erguer o escudo da coragem e abraçar a covardia.
a cautela acena, me chama desvairadamente.
ela sabe do que a coragem é capaz.