Cuidado: Jurerê pode nos engolir!
Quando a gente vê, está de Havaianas e vestido rasgado no shopping,
calça apertada, cabelo espigado. Fora de corte.
Fora de moda.
Fora de cena. Em todos os sentidos e aspectos.
Tudo se resume à casa, praia, bairro.
Aqui a gente se basta.
Aqui a vida se compacta.
Jurerê se agiganta e nos completa.
Os vizinhos mais presentes são os lagartos,
as corujas, gaivotas e gralhas azuis. O mar.
Esporadicamente, golfinhos apontam no horizonte.
Absorvidos na bolha, o mundo nos assalta, quando chega a temporada.
Nos embrenhamos, todos,
de lagartos a golfinhos, em nosso mundinho
reduzido na mais íntima clausura.
A tranquilidade dos dias ganha a noite para revermos amigos, hábitos e vícios.
Somos engolidos pela humanidade que existe no simples existir.
Nos reconhecemos como iguais. E,
todos, absolutamente todos,
aguardamos a temporada acabar, o bairro silenciar, e a bolha, enfim,
se fechar.