A morte já era esperada
Ansiada e suplicada, até.
O gozo final de uma vida terminal.
Ela era digna de uma morte misericordiosa.
Precisava dar e receber perdão,
Precisava de permissão pra partir
e abandonar a nau de toda uma família.
Já não era mais, nem bússola, nem leme.
Era mais uma âncora ostentando
à deriva,
o barco.
Soltar-se era perder-se do inferno
– conhecido e protegido –
A expiação de todas as culpas e todos os pecados.
Não há inocentes quando o tormento define quem morre.
A morte traz a promessa de outro caminho.
De preferência que passe longe. Ao largo. A perder-se do horizonte.
Seria um revés grande demais cumprir o mesmo caminho
a mesma sentença de vida na morte.
Imploro aos anjos e demônios:
Que haja caminho na paz e uma vida que respire aliviada
o perfume dos frangipanis e anis estrelados.
A tampa baixa, os parafusos atarraxam.
O ataúde se fecha. Para sempre.
Lacrado abaixo da terra
Fechado por toda eternidade.