Quando a casa se enche de gente
– com suas necessidades e obviedades,
suas ladainhas e lamentações, sofrências e maledicências –
me esvazio de energia e sintonia,
engolida numa estranha mesmice desinteressante.
O olhar se perde na busca de algo que não vê,
não sabe o que é, nem o que quer.
Sabe apenas que não gostaria de estar onde está,
consumido e sugado,
neste espectro nebuloso, cheio das mais duras realidades.
Apeteceria mergulhar no vácuo do silêncio, em terra de ninguém,
onde o nada é a melhor companhia.
Porque tem gente que enche e preenche.
Se infla e se expande desvairadamente,
devorando solenemente o ar, consumindo a alma e todos os instantes.
Suspiro agoniada.
Me refugio em quatro paredes.
“Com licença, preciso descansar. Vou ler um pouco. Dar um cochilo.”
Puxo a descarga. Depois volto.
Preparo o jantar.