Mentes Depressivas

Li o livro Mentes Depressivas – as três dimensões da doença do século, de Ana Beatriz Barbosa Silva, por estes dias. Ao longo dos anos, foram vários os livros lidos e apreendidos sobre o tema, que lê-lo neste momento, teve sabor de revisão e descoberta. Entre a infinidade de tópicos já conhecidos (causas, sintomas, diagnósticos diferenciais (depressão X tristeza), tratamentos e comorbidades) algumas surpresas, atualizações e novas perspectivas.

Além de ser vista como uma questão epidêmica de saúde pública, a depressão adulta tem aparecido cada vez mais cedo, a partir dos 20 anos, em vez de 30 anos ou mais, como era observado nas décadas de 1980/1990. Ou seja, cada vez mais a depressão aparece mais cedo

A autora discorre sobre os vários tipos de depressão:

  1. Depressão Clássica (Depressão Psicótica, Depressão Atípica, Transtorno Afetivo Sazonal – TAS);
  2. Distimia;
  3. Depressão Bipolar;
  4. Depressão Circunstancial (pós-luto, por esgotamento profissional, episódica (natalina e ano novo), de desajuste social e pós-trauma).

Distribui também democraticamente a enfermidade no ciclo vital, enfocando a depressão infanto-juvenil, a depressão feminina e a depressão na terceira idade. Cada etapa com seus transtornos típicos e combinações perigosas (drogas, dor crônica, AIDS, câncer, doenças cárdio-vasculares, insônia crônica, suicídio):

  1. Depressão Infanto-Juvenil (Transtorno de Ansiedade de Separação, Pânico, Fobias, TOC, TDAH, Transtornos Alimentares, de Stress Pós-traumático (TEPT);
  2. Depressão Feminina: Transtorno Disfórico Pré-Menstrual (TDPM), Depressão na Gravidez e Pós-Parto, Depressão na Menopausa.
  3. Depressão na Terceira Idade: Doença de Parkinson e Alzheimer.

Chamou minha atenção o Transtorno Afetivo Sazonal (TAS ou SAD, em inglês). O tipo de depressão que ocorre em determinadas épocas do ano (inverno ou verão). É quatro (4) vezes mais comum entre as mulheres do que homens, acontece a partir dos 23 anos. É mais comum no inverno do que no verão. Os casos de depressão de verão representam ¼ dos casos de TAS, que ainda não é bem compreendida pelos médicos. A combinação de baixos níveis de serotonina, níveis oscilantes do hormônio melatonina e ritmos circadianos anormais, sem contar a percepção de que o calor do verão, parece aquecer o cérebro e provocar episódios depressivos, aparecem como causas para a TAS.

Outro tópico interessante é a constatação de que na natureza, diversos animais se fingem de mortos frente à situações que ameaçam sua sobrevivência e para as quais não percebem nenhuma possibilidade de saída. Diante de nossa condição animal, podemos entender a depressão como uma fuga na qual simulamos um estado de morte em vida. Essa situação corresponderia a um desligamento da parte mais evoluída do cérebro, que passa a funcionar sob o comando da parte mais primitiva e emocional. Essa parte aciona nosso instinto de sobrevivência, que nos coloca numa espécie de estado de choque, onde corpo e mente tendem a uma paralisia, algo semelhante a uma morte fictícia. Esta reação é uma defesa acionada pelo cérebro em depressão para enfrentar situações estressantes que ultrapassaram seu limite de suportabilidade vital. Nem todas as pessoas reagem a longos períodos de estresse dessa forma; no entanto, entre aquelas que apresentam maior vulnerabilidade genética ou psicológica, esse comportamento pode ser interpretado como uma espécie de desistência pessoal frente às adversidades da vida.

Para a autora, viver na depressão é como descer ao limbo espiritual, onde encontramos trevas e desespero. Os deprimidos são os viajantes errantes dos tempos modernos, onde o destino é o lado sombrio da vida; onde o sentido da existência não é percebido e a luminosidade, escassa. Realizar a viagem de ida (voluntária ou não) e, também a viagem de volta de nossos vazios existenciais é um dos feitos mais revolucionários que podemos realizar em nossas vidas.

Recomendo a leitura. Tanto para profissionais, pacientes e/ou interessados no assunto. O texto é de fácil compreensão, recheado de exemplos pessoais e estudos de caso, tópicos culturais e espirituais.

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2 comentários sobre “Mentes Depressivas

  1. Olá excelente post e já sigo o blog eu sofro de uma depressão mas só está semana publiquei que sofria de uma depressão senti varias diferenças nas pessoas umas apoiaram-me outras tiveram pena de mim e outras afastaram-se bjs visita o meu blog Bjs Linda

    1. Também sofro, de tempos em tempos. Aprendi a reconhecer os gatilhos que detonam as crises. Fiz um longo tratamento medicamentoso e psicoterápico, alguns anos atras. Hoje, fico atenta e quando percebo os primeiros sinais, tomo alguns dias de medicação anti-depressiva. Sob orientação médica. Retomo meu pique e volto a ter uma vida normal. Sou psicóloga e sei o quanto existe o estigma social quanto à doença. Não se intimide. Quando tive minha primeira crise séria, compartilhei com meus pacientes, sem drama. Me tornei uma terapeuta melhor e uma pessoa mais compreensiva com a depressão de todos. Em algum momento da vida, ela atinge a todos nós. Grande abraço e, jamais se envergonhe de sua doença. Aprenda com ela.

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