Em algum momento, perdido entre minhas idas e vindas ao consultório, meu rebuliço nas tintas, entre o fogão, os livros e as mensagens de whatsaap, algo aconteceu. Não era nada daquilo que eu queria. Não que estas coisas não fossem importantes. Até eram. Mas não eram nem tão importantes, nem exatamente o que eu queria que fossem:
Retomar o consultório era resgatar o passado. Conhecido e bem sucedido. Será que ainda quero?
Pintar era conquistar algo novo, porém, jogado inadvertidamente em meu colo, sem consentimento ou querer bem. Um hobbie transformado em profissão? Quero realmente isso?
A cozinha sempre foi espaço meu de direito, desde que me conheço como neta da avó Anita. Entre bolos de cenoura com cobertura de brigadeiro, suflês de queijo e pipocas açucaradas, os anos desbotaram o sabor do delicioso trivial e exigiram moquecas e casquinhas de siri com azeite de dendê, macarrons, carne de paca com farofa de ameixa preta e vinho madeira, entre outras excentricidades com ares de sofisticação. Nos meus raros momentos de cerco ao palácio alquímico de casa, ando amassando massa pra fazer pastel recheado de carne moída com ovo e sem ar. De comer ajoelhada. E se for frita em banha de porco, beijo o chão.
Quanto aos meus livros, eles se bastam e se recolhem quando nada mais espero deles. Eles tem a delicadeza de esperarem sua vez. São companheiros fieis. Alguns, esnobes, entrincheiro entre os bons. Que aguardem!
Já minhas conexões virtuais – uma verdadeira epidemia universal – tem seu tempo e espaço, mas em hipótese alguma, dão conta do meu mundo e minhas necessidades. Coisas da modernidade líquida.
A casa, de repente, ganhou um novo general: marido aposentado tem disso. Acredita que precisa dar ordens e organizar tudo que está errado (e que sempre funcionou maravilhosamente bem).
Cedi, pra evitar a terceira guerra mundial entre vassouras e panelas. Cedi, mas não engoli tamanha intromissão. Estou areando as panelas.