A terra que me deu raízes,
me convida a regressar e me replantar.
Saí menina ainda. Era a vida convidando
a conhecer um universo chamado Terra.
Onde o ar, a água e o fogo me completariam.
Me tornariam inteira.
Escolhi a vida com meu elemento oposto.
O ar. Escorpião.
Os opostos que se atraem.
Se complementam. Se completam.
Meu homem. Meu ar. Minha sombra.
Meu eu. Terra.
As tempestades me esparramaram.
Me perdi. Perdemo-nos um no outro.
Me perdi de mim mesma.
E meu elemento, minha essência, enfim, cansou de ventos.
Quer repousar naquele leito de rio.
Quer o ar apenas para respirar.
Água de rio marrom de terra.
Gosto de mato. De pedra, cascalho. Infância.
O rio que me viu nascer e crescer, chama. Clama.
Me quer de volta.
Quer me parir outra.
O mar que se avizinha, logo ali do lado, largo e imponente,
Vem e vai, num eterno balanço de ondas,
A areia que me toca, porosa e esfarelada,
não me nutre.
Ando tão faminta do barro, da argila, da terra vermelha, preta, marrom.
De terra que firme meus pés,
e me sustente.
Meu elemento água é o rio.
Sinuoso. Arterial. Denso.
Nada de precipícios e inconstâncias.
Nada de marés. No mar, a água se dispersa.
O vento se agiganta.
Preciso de terra pequena. Nada de crosta e costas.
Preciso de beira de rio à vista.
De terra molhada. De verde de mato.
Já pari meus filhos. A Terra agradece.
Minha eternidade. Meu melhor legado.
O fogo.
Meu último elemento.
Ronda sempre.
Acompanhado de inverno. De toco e lenha de mato.
Travestido de lareira, vinho e aconchego.
Fogo grande que hipnotiza e me funde inteira.
Quando me for de vez,
Que o fogo me consuma,
Que a água me leve,
Que o leito do rio me regenere.
Mas, enquanto estou aqui,
Hei de me parir outra.