“Podem ser esquisitos mas dão certo … Imagine que é perfeitamente possível engomar anáguas aproveitando … a água em que foi cozido o macarrão. Também dá certo usar o mesmo líquido em tecidos mais leves: basta acrescentar mais água. Outra coisa bem esquisitinha é o modo de limpar faca enferrujada: basta fincá-la … numa cebola, lavando-a em seguida com sapólio. E se você nunca pensou nisso, vai estranhar: fubá de milho tira mancha de mofo. Ferva a roupa mofada num pouco d’água com duas colheres de fubá, e deixe quarar um pouco. No domínio ainda do estranho: esfregue as mãos manchadas de cera com sal de cozinha e sabão.” (Correio para mulheres, Clarice Lispector – p. 218/219)
Para quem não sabia, Clarice Lispector escreveu colunas para mulheres usando três nomes diferentes: Tereza Quadros, Helen Palmer e Ilka Soares, entre os anos de 1959 e 1961. O livro com quase 400 páginas problematiza “futilidades” das mulheres da época, evidenciando embriões de contos, crônicas e romances. Temas que constituem em parte a base da ficção clariceana.
“Bolo e gelo: Conselhos de minha vizinha”
“Sabe como minha vizinha quebra gelo? Pois coloca o bloco sobre um pano limpo e bate com um martelo num prego cuja ponta fica pousada exatamente no lugar que ela quer dividir. Engenhoso, simples, sem perigo. Um dia desses vi, ela passando a ferro um vestido preto do seguinte modo esquisito: ela passava sobre papel de jornal molhado e torcido. Perguntei o que era aquilo. Respondeu: “Se eu não fizer assim, qualquer vestido de seda escura fica todo lustroso nas costuras.” Outra coisa que ela sistematicamente faz, ao assar um bolo: põe no forno, na prateleira de baixo, uma bandeja de folha de água. Diz que assim o bolo assa por igual.”(Correio para mulheres, Clarice Lispector – p.228)