Sumiço

Enquanto organizava o armário, um fio de ouro com uma bolinha na ponta e uma argola na outra ponta, desapareceu bem diante dos meus olhos. O fio faz par com outro e ambos dão um toque especial em alguns brincos pouco especiais. É só encaixar o fio que o brinco se transforma. Tudo aconteceu quando retirei minha caixa de quinquilharias e bijuterias do esconderijo entre as caixas de mantas e cachecóis e bolsas de sair à noite. As bolsas são aquisições de mais de 30 anos, das ruas José Paulino e 25 de Março, em São Paulo, outras foram trazidas de viagens. Todas pequenas no tamanho, mas enormes no charme. A maioria, vintage. Os cachecóis seguem a mesma moda. Antigos, exclusivos, de boa qualidade e baratos. Especialmente, lindos. As caixas de quinquilharias, que é como as chamo, tem de tudo que cabe nos dedos, pulsos, garganta, cabelos e orelhas. São duas. Uma para o dia a dia, outra para eventos, ocasiões especiais, coisa tipo chick. É nesta caixa que estava meu fio de ouro com bolinha. Estendi um lençol sobre a cama e despejei braceletes, anéis, relógios, brincos e outros apetrechos tão abandonados quanto minha dieta. Fui limpando e conferindo o estado de cada peça. Selecionei as que ainda combinam comigo, separei e as recoloquei na caixa, agora limpa e refrescada com pano úmido e vinagre e arejada ao sol. Uma a uma fui realocando as peças que prometi voltar a usar, quando me deparei com apenas um dos fios com a bolinha na ponta. De tão pequeno e insignificante que é, imaginei que pudesse estar enroscado em algum bracelete ou brinco. Enquanto guardava as quinquilharias, fiquei de olho no fio sumido. Lembrei de um anel perdido, de brincos e tarraxas de brincos desaparecidos … Logo eu que sou atenciosa e cuidadosa com este tipo de peça de valor sentimental (lembro da vez em que levei um pingente de rubi, que na verdade era de acrílico, presente de primeira comunhão que ganhei da minha avó materna, para compor com uma pedra ametista, presente de uma grande amiga, numa joalheria reconhecida. Guardo esta peça até hoje e só a uso em ocasiões muito especiais.) Enfim, tem coisas que simplesmente somem, como se um buraco negro as engolisse. São meias, grampos e livros que somem como num passe de mágica. Quase conformada com este destino inevitável, vibrei ao encontrar o fio de ouro com a bolinha na ponta, agarrado na barra do lençol. É preciso ficar muito atento ao mexer com as quinquilharias de valor sentimental. Como num passe de mágica, elas podem sumir e reaparecer.

Feliz da vida, devolvi o fio a seu par. Devem estar felizes da vida, juntinhos agora, na caixa de quinquilharias e bijuterias.

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