Raivosa

Acordei com a pá virada.

Igual à pá dando patadas no terreno

da obra, eclodindo feito tempestade, do ladinho do quarto.

O dia mal surge por detrás das cortinas de linho 

acinzentado.

Salto da cama, tonta ainda.

O espelho confirma o temporal que se aproxima.

Os martelos se apresentam. 

Faço café e uma longa lista de afazeres.

“Pq vc não vai pra casa de sua mãe?” Fui. 

Seiscentos quilômetros de olhos esbugalhados,

Chorumela e raiva,

chego no meu refúgio. 

Ainda raivosa, descarrego o carro. Desabo inteira.

Abro portas e janelas. 

O silêncio me abraça. A brisa leve, afaga. O sol abranda e me embala.

Me acalmo. A longa lista de afazeres cresce.

Calmamente.

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