Durmo com o rugir das ondas do mar, acordo com o rugir de serras e martelos.
Uma casa erguendo-se do fundo da cratera recém construída,
outra sendo demolida.
Depois reformada.
Vivo em meio a este inferno.
Barulhos demais onde outrora vivia o silêncio.
Há de chegar a hora do silêncio voltar a imperar.
Por enquanto,
resta acompanhar a evolução das obras barulhentas
e contar nos dedos os dias que faltam para isso acontecer.
Algo em torno de 550 dias.
Um ano e meio.
À minha direita o gesso despenca e jaz em duas caçambas.
Ao fundo, as formas para a concretagem da cortina sobem em tons de amarelo madeira. Semana que vem, a concretagem. Já vivi esta fase.
Me assusta a demolição da casa da vizinha Cátia.
Sabe-se lá como estava por dentro o que por fora parecia perfeito.
Me assusta a demolição.
De qualquer demolição.
Não há contenção.
Tudo cai, se espatifa no chão.
Que dele suba uma nova casa para os novos vizinhos.
Sobreviverei a tudo isso.