Enfim, a maltrapilha sobrevivente terá seus dias de Cinderela. Tempo, inspiração e fé. É preciso acreditar na ideia pra que ela aconteça.







Não sei quantas vezes esta cadeira antiga (de vinte anos atrás?) já esteve na fila, na porta da garagem, para ser sucateada. Sempre aparecia uma mão e a carregava de volta ao depósito. “Talvez eu possa usá-la quando for mexer com os caixilhos de cera das caixas de abelhas”. E assim, a maltrapilha foi sobrevivendo.
Dias atrás, reorganizando o ateliê depois do Natal, senti falta de uma poltrona para aqueles momentos de esticar a coluna, espichar as ideias e dar asas à imaginação. Percorri a casa em busca de alguma cadeira/poltrona e não encontrei nada que atendesse minha vontade, até que abri a porta do depósito. E quem eu encontro? A maltrapilha.
Levei-a rodando pro sol, virei de ponta cabeça pra ver o estado dela em termos de estrutura: impecável. Nenhuma pinta de ferrugem, rodas saudáveis … tecidos e couro deploráveis. Pedi que Sabrina lavasse com mangueira, esponja, bombril, sabão em pó, água sanitária. Enfim, a parafernália toda. Depois a maltrapilha tomou banho de sol e ficou feito esfinge na sala de casa. O tamanho dela é perfeito para o pequeno canto do ateliê, e o encosto deitado dará vertigens e se houvesse alguma chance, eu veria a lua e as estrelas do subsolo de casa.
Os dias foram passando e fui imaginando o que poderia ser feito para transformar a dita cuja. Fui pesquisar no Pinterest. É lá que um mundo de ideias desfila sem cerimônia nem preconceito. Num vapt vupt, visualizei a cadeira giratória adequada ao meu ateliê. Escolhi sobras dos fios de malha azul marinho e roxo para o apoio dos braços. O trabalho é simples. Nada além de enrolar os apoios detonados, cuidando apenas para que os fios seguissem lado a lado, de ponta à ponta. Tanto pra iniciar como para finalizar, deixe uns 10 cm de fio por baixo da trama que seguirá por cima, mantendo todos os fios firmes.
Depois foi a vez do encosto. Lembrei do trabalho inacabável e juntei as bolachas circulares de crochê com alfinetes, depois costurei com agulha de tapeçaria e fio preto, frente e verso. Imprescindível fazer bom acabamento na parte de baixo da cadeira, onde costurei as bolachas de crochê da frente com as de trás. É importante fazer no local da aplicação, pois o trabalho fica firme e bem encaixado.
Foi trabalhoso? Foi. Mas adorei o resultado.
Por último, o assento.
Escolhi um fio de lycra preto (comprado para fazer bolsas e biquinis) e comecei a crochetar com agulha de 9 mm. Desmanchei 3 vezes até ficar na largura certa, no ponto certo, sem deformações. Depois foi fazer os acabamentos finais e “voialá”!!!!!
A maltrapilha reina majestosa no ateliê.
