Pode parecer um tema espinhoso. É e não é. Porque o terapeuta é gente como a gente. Passa por perrengues, perdas, decepções, se entristece, adoece. O terapeuta também se deprime. Consulta terapeuta, psiquiatra, médico, toma medicamento, faz tratamento. Assim como dentista tem cárie, médico tem câncer, advogado pode ser processado e por aí vai.
Já tive crises de depressão, ansiedade, angústia. Já fiz tratamento e acompanhamento médico/medicamentoso e psicológico.
Quando fui surpreendida pela primeira crise – e lá se vão 20 anos – entendia o que estava acontecendo, mas não compreendia.
Como? Pq eu?
Hoje, pressinto a nuvem negra se aproximando, a energia se esvaindo, a tristeza puxando a cadeira, o desânimo levantando pesos. Compreendo todo o processo e o aceito como ser humano. Imagino as causas, amaldiçôo meus hormônios, repenso a vida e os sentimentos. Procuro o fio da meada. É através da própria dor que entendo a dor do outro. Quando o terapeuta se deprime ele alcança a depressão do seu próprio paciente. Passa a entender o espanto, as dúvidas e questionamentos.
Torna-se humano, demasiado humano, como diria Nietsche. Torna-se psicoterapeuta com P maiúsculo. Nem sempre a experiência nos torna melhores, mas a vivência, sim.
Não tenha vergonha de reconhecer o processo que se inicia, que crava as garras, que escurece os dias e tira o colorido e a vivacidade de estar bem. Quanto antes você reconhecer quem está dando o ar da graça e souber nomeá-lo, melhor.
Mas, jamais esqueça: tristeza não é depressão.
Busque ajuda profissional para conseguir distinguir uma da outra. Ficar triste faz parte de existir.
Depressão é doença. Tem tratamento e cura.
Busque ajuda.