Cadarços – Estudo de Caso

 

“Qualquer semelhança é mera coincidência.” Um estudo. Uma história. Não é minha. Não é sua, nem nossa. Se Bem que poderia ser.

I. CASO CLÍNICO

 George é um jovem de 16 anos, transferido para o hospital a partir de um centro de detenção juvenil, após uma séria tentativa de suicídio. De algum modo, ele atara cadarços de sapatos e tiras de tecido em torno de seu pescoço, causando prejuízo respiratório, sendo encontrado cianótico e semiconsciente. O jovem dera entrada no centro de detenção naquele dia e os funcionários haviam percebido que ele se mostrava bastante retraído. Na admissão, George relutou em falar, exceto para dizer que iria matar-se, e ninguém poderia impedi-lo. Entretanto, ele admitiu uma história de 2 semanas de humor deprimido, dificuldade para dormir, diminuição do apetite, menor interesse por tudo, sentimentos de culpa e ideação suicida. De acordo com seus pais, George não teve dificuldades emocionais até os 13 anos, quando então se envolveu com drogas, principalmente LSD, maconha e sedativos não-opióides. Suas notas caíram drasticamente, ele fugiu de casa em diversas ocasiões após discussões com seus pais, e fez um gesto suicida tomando uma superdosagem de aspirina. Um ano depois, após uma discussão com o diretor, foi expulso da escola. Incapaz de controlarem seu comportamento, seus pais fizeram com que fosse avaliado em uma clínica de saúde mental, sendo recomendada a colocação e um albergue de grupo.Ele, aparentemente, saiu-se bem ali, e seu relacionamento com os pais melhorou imensamente com aconselhamento familiar. Ele era bastante responsável, mantendo um emprego e freqüentando a escola, e não esteve envolvido em quaisquer atividades ilegais, incluindo o uso de drogas.

Seis meses antes da admissão no hospital, entretanto, George novamente começou a usar drogas e, ao longo de duas semanas, engajou-se em 10 arrombamentos, sempre sozinho. Ele recorda que na época estava deprimido, mas não consegue recordar se a alteração no humor ocorreu antes ou depois da volta ao envolvimento com drogas.

Então foi enviado para o centro de detenção juvenil, onde se saiu tão bem que recebeu alta e foi colocado sob a tutela dos pais 3 semanas antes. Um dia depois de voltar para casa, saiu impulsivamente com seus colegas em um automóvel roubado, para uma viagem ao Texas, sendo detido e readmitido no centro de detenção. A depressão de George começou logo depois, e, de acordo com ele, a culpa com o que fizera aos pais o levou à tentativa de suicídio.

  1. DINÂMICA DO CASO

Apesar de não haverem dados suficientes para formular um entendimento psicodinâmico detalhado, várias são as observações e reflexões possíveis, levando-se em consideração os dados conhecidos.

Segundo os pais de George, este não tivera nenhuma dificuldade emocional até os 13 anos. Foi somente após o envolvimento com o uso de drogas que houve uma mudança significativa no comportamento de George.

Como nada sabemos sobre suas relações familiares, sobre o seu grupo de amigos nem sobre seu desenvolvimento emocional anterior, pode-se pensar que a entrada na adolescência, um período normalmente marcado por mudanças físicas, psíquicas, familiares e sociais, possam ter despertado sentimentos tais que levaram o menino a buscar refúgio nas drogas.

Uma das tarefas básicas, senão a grande tarefa da adolescência é a busca de uma identidade. Para Kalina, esta é uma fase que pode ser marcada por muita angústia e desolação, e é quando o adito potencial busca formas de evitar este encontro consigo mesmo. Assim, vítima de sua fraqueza, ele não demora a descobrir que a vida além de oferecer gratificações, também oferece frustrações que podem ser sentidas como devastadoras.

Eduardo Kalina afirma que “O drogadito é sempre dominado por angústias e temores cuja qualidade e intensidade os transforma em sentimentos inteiramente insuportáveis para seu ego. A insegurança em si próprio e o medo de ser destruído demonstram, pela constância com que se evidenciam e a intensidade com que se apossam deste tipo de personalidade, que a estrutura de ego do toxicômano potencial é notavelmente fraca.”( texto p.78, do livro Drogadição Hoje)

Ou seja, para Eduardo Kalina existe um tipo de personalidade aditiva com características próprias, que justificam o envolvimento com as drogas e toda a destruição posterior, oriunda deste envolvimento. Para ele, “a maneira como o adito potencial sente esta fragilidade não é outra coisa que a vivência que, em última instância, tem de sua morte” (p. 78). Para este autor, o adito em potencial pré-sente o “alto grau de inconsistência de sua identidade”.

 Diariamente todos temos a consciência de nossas limitações como seres humanos. Mas em geral quanto maior a fragilidade egóica, maior o desejo de ser poderoso. Kalina afirma que sob o efeito da droga, “a sensação de fragilidade é substituída por um sentimento de extraordinária consistência e força”.

A Síndrome de Popeye, reflete este pensamento. A droga seria o equivalente simbólico do espinafre de Popeye. Quando o indivíduo se droga, ele vive de forma parcial ou total a ilusão de ser Popeye. A droga – espinafre – lhe permite viver a ilusão transitória de ser outro: forte, perfeito, invejado, etc. É a onipotência do tudo querer e tudo poder do adolescente.

No entanto, o efeito da droga é transitório. Logo o adito se dá conta da realidade, e sua intolerância à frustração, cresce numa proporção direta à satisfação que a droga oferece. Isto prossegue até que a dose da droga não dá mais o prazer buscado, quando então, existe o risco da overdose, para atingir o mesmo bem estar, o mesmo prazer.

Kalina afirma que ”no clímax de seu desespero, o drogadito descobre que não há tóxico mais eficaz contra o risco de morte que a própria morte”. (p.84) A morte surge como a melhor alternativa para acabar com a incerteza, a angústia e o risco opressor da frustração sem limite. Para este autor, o adicto constrói um projeto de morte, claramente suicida, cujo objetivo final e radical é acabar com o sofrimento e com todos os problemas, o que reflete uma conduta abertamente psicótica. A morte é então vista como o saldo de um extermínio implacável ao qual o jovem se submeteu desde o momento em que iniciou o consumo de drogas, e mesmo antes disso.

Mas o que leva um adolescente de 13 anos, a enveredar por um caminho tão destrutivo, tão suicida?

Várias são as causas da etiologia do abuso e dependência de substância. As teorias iniciais, segundo Kaplan & Sadock, nasceram dos modelos psicodinâmicos. Posteriormente foram incluídas as variáveis comportamentais, genéticas e neuroquímicas. Atualmente, acredita-se que todas estas variáveis podem estar presentes.

A escolha das drogas usadas por George, o LSD ( um alucinógeno), a maconha (psicoativo) e sedativos não-opióides, podem sugerir que George buscava algo para se afastar dele mesmo, das suas angústias, incertezas, inseguranças, para se anestesiar das suas dores (físicas?, psíquicas?), para fazer parte e ser aceito por um grupo de amigos, para se diferenciar do todo, para ser reconhecido e visto como único, para experimentar o proibido. Na adolescência vários são os atrativos que a droga oferece. Bem como, várias podem ser as funções da droga para o adolescente.

Segundo Kaplan& Sadock, “ O início de um transtorno de humor na adolescência pode ser difícil de diagnosticar quando visto pela primeira vez, caso a adolescente tenha tentado automedicar-se com álcool ou outras substâncias ilícitas. Em um estudo recente, 17% dos jovens com transtorno de humor buscaram atendimento médico primeiramente como abusadores de substâncias. Apenas depois da desintoxicação os sintomas psiquiátricos puderam ser adequadamente avaliados e o diagnóstico correto de transtorno de humor pôde ser feito”. ( 1997, p.1041).

Pensar em George como um jovem depressivo parece justificar o seu comportamento de humor deprimido, dificuldade para dormir, diminuição do apetite, menor interesse por tudo, sentimentos de culpa e ideação suicida.

Da mesma forma, Kaplan&Sadock afirmam que “Na adolescência, um comportamento negativista ou francamente anti-social e o uso de álcool ou outras substância ilícitas pode estar presente ou justificar os diagnósticos adicionais de transtorno de oposição desafiante, transtorno de conduta e abuso ou dependência de substância.”(1997, p. 1040)

Sukhamani K. Gill e colaboradores,relatam que enquanto as crianças e adolescentes estiverem deprimidos, eles sofrem habitualmente das seqüelas como desempenho escolar insatisfatório e comprometimento das relações interpessoais, como também risco elevado de suicídio, pensamento homicida, fumo, abuso de álcool e de outras substâncias, gravidez precoce, etc.

Sabe-se que as porcentagens de depressão maior na população jovem têm aumentado na última década e as taxas de suicídio entre adolescentes quadruplicaram na última metade do século( Lafer, Almeida, Fráguas & Miguel, 2000, p. 241)

Solomon afirma que “ A depressão e o abuso de substâncias formam um ciclo. Os deprimidos abusam de substâncias numa aposta para se livrarem da depressão. Elas perturbam suas vidas a ponto de ficarem deprimidas pelo dano causado. “ (2002, p.201) Para ele “4% de adolescentes que tiveram depressão na infância cometem suicídio. Um enorme número tenta o suicídio, e tem altas taxas de quase todo tipo de problema grave de ajuste social. A depressão ocorre entre um bom número de crianças antes da puberdade, mas chega ao auge na adolescência. Nesse estágio, é quase sempre combinada com abuso de substância ou transtornos de ansiedade” (p. 174)

III. DIAGNÓSTICO

Pelos dados do caso clínico em questão surge um questionamento:

O que aconteceu antes: um comportamento depressivo como gatilho para o abuso de substância, ou, o início do abuso de substância levando ao conseqüente comportamento depressivo. Segundo os pais, George nunca apresentara dificuldades emocionais antes do início do uso de drogas; o que não é difícil acontecer numa família drogadita, pois os pais tendem a negar as dificuldades do filho, e vêem o ingresso no mundo das drogas com estupefação.

Vários são os sintomas encontrados que nos remetem a pensar num quadro depressivo grave para George, como o humor irritável e deprimido, agressividade, condutas anti-sociais, comportamento destrutivo, insônia, baixa auto-estima, isolamento, recusa escolar, baixo rendimento escolar, tentativa de suicídio, etc.

George apresenta características de um adolescente envolvido em drogas com comportamentos claramente anti-sociais. No entanto, estes comportamentos podem estar associados ao quadro depressivo de George, e estarem funcionando como defesa para a personalidade frágil de George.

Pela gravidade dos sintomas e principalmente pelas tentativas recorrentes de suicídio, pode-se pensar num quadro depressivo maior.

  1. INDICAÇÃO TERAPÊUTICA

Como George está internado devido à sua séria tentativa de suicídio, é importante que ele permaneça internado, a fim de que possa ser melhor avaliado e observado, de forma a poder controla-lo e conte-lo, devido às ameaças de consumar o suicídio. Assim pode-se auxilia-lo a conter seus impulsos, aliviar sua culpa e preservar sua vida.

Penso que o tripé para o acompanhamento para George seja o acompanhamento psiquiátrico medicamentoso, psicoterapia individual e acompanhamento familiar.

O acompanhamento psiquiátrico medicamentoso deve ser, neste momento, o carro-chefe, devido à sintomatologia depressiva e ao risco sério de suicídio.

A psicoterapia individual mostra-se necessária devido ao estado confusional de George, seus sentimentos de culpa, sua desestrutura e fragilidade psíquica, sua desesperança. O tipo de psicoterapia utilizada pode ser variável podendo num primeiro momento ser psicoterapia de apoio, cognitivo-comportamental num segundo momento, e, por último uma psicoterapia psicodinâmica. Cada uma num momento distinto do processo de recuperação e reestruturação de George. Cada qual com seus objetivos e foco de alcance.

O acompanhamento familiar é sempre uma conduta terapêutica adequada, principalmente por se tratar de um paciente adolescente. Além de poder auxiliar os pais com relação ao quadro psicopatológico de George, também poderá auxilia-los a lidar com a adolescência deste filho, sua recuperação, como também poder ver, de que forma, a sintomatologia do filho pode estar a serviço de outros conflitos familiares encobertos.

V. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1.  DSM-IV – Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, Trad. por Dayse     Batista. 4ª ed. Porto Alegre, Artes Médicas, 1995.

  1. KAPLAN, Harold I.; SADOCK, Benjamin J.; GREBB, Jack A. COMPÊNDIO DE PSIQUIATRIA – Ciências do Comportamento e Psiquiatria Clínica Trad. por Dayse Batista. 7ª ed. Porto Alegre, Artes Médicas, 1997.
  1. KALINA, Eduardo.   Drogadição Hoje Texto: cap. 5 “ O significado do corpo e da               morte na experiência drogaditiva.
  1. KALINA, Eduardo.   Clínica e Terapêutica das Adicções. Porto Alegre, Artes Médicas, 1997.
  1. LAFER, Beny; ALMEIDA, Osvaldo P.; FRÁGUAS JR., Renério; MIGUEL, Eurípedes C. Depressão no Ciclo da Vida Porto Alegre, Artes Médicas, 2000
  1. SOLOMON, Andrew.   O DEMÔNIO DO MEIO-DIA – Uma anatomia da depressão.   Rio de Janeiro, Objetiva, 2002.

 

 

 

 

O Transtorno de Conduta, na visão Winnicotiana

 

O transtorno de conduta caracteriza-se essencialmente pelo padrão repetitivo e persistente de comportamentos nos quais são violados os direitos básicos dos outros ou normas ou regras sociais importantes apropriadas à idade. Segundo Kaplan & Sadock o transtorno de conduta é razoavelmente comum durante a infância e adolescência. Aproximadamente, entre 6 a 16% dos meninos e 2 a 9% das meninas, com menos de 18 anos, podem apresentar o transtorno, sendo mais comum entre os meninos, na proporção de 4 para 1 (entre os meninos) e 12 para 1( entre as meninas). O transtorno de conduta é mais comum em famílias onde os pais tem personalidade anti-social e dependência de álcool, bem como parece estar significativamente relacionado a fatores econômicos. Os fatores etiológicos que parecem estar associados ao surgimento do transtorno são multifatoriais, e nenhum fator isolado é capaz de explicar o comportamento anti-social e o transtorno de conduta, sendo que uma variedade de fatores biopsicossociais contribuem para o seu desenvolvimento, como:

  1. Fatores parentais:Algumas atitudes dos pais e manejos falhos de educação podem influenciar o desenvolvimento de comportamentos mal-adaptativos nos filhos. A desestrutura familiar,, especialmente a tensão entre os pais, e não somente o lar desfeito, pode contribuir para o transtorno de conduta. A psicopatologia parental, abuso infantil, negligência, sociopatia, dependência de álcool e abuso de substâncias nos pais estão associados ao surgimento do transtorno de conduta nos filhos. Possivelmente muitos destes pais também tiveram privações em sua infância.
  2. Fatores sócio-culturais: Teorias atuais sugerem que crianças com privações socioeconômicas, na busca para atingir o status social valorizado em sua cultura, utilizam-se de meios ilegítimos para alcança-lo.
  3. Fatores psicológicos: Como a criação destas crianças acontece de forma precária, tornam-se rancorosas, exigentes, perturbadas e incapazes de desenvolver um grau de tolerância à frustração, tão necessária para os relacionamentos maduros.
  4. Fatores neurobiológicos: Existem poucos estudos, no entanto, alguns estudos sugerem que existe um funcionamento noradrenérgico diminuído no transtorno de conduta. Pesquisas mostram que freqüentemente existe uma inter-relação entre o transtorno de conduta e o transtorno de déficit de atenção/hiperatividade(TDAH).
  5. Abuso e maus tratos na infância: Crianças expostas à violência por longos períodos tendem a comportar-se agressivamente. Muitas vezes pela dificuldade de verbalizar seus sentimentos, estas crianças se expressam por meios corporais.
  6. Outros fatores: O TDAH , disfunções ou lesões do SNC e extremos de temperamento precoces podem predispor uma criança ao transtorno de conduta. Estudos longitudinais do temperamento sugerem que muitos desvios comportamentais,são, inicialmente, uma resposta direta a um fraco ajuste entre, por um lado, as necessidades emocionais e o temperamento da criança, e por outro lado, as atitudes parentais e práticas de criação dos filhos.

O transtorno de conduta não se desenvolve da noite para o dia, evoluindo ao longo do tempo, até chegar a um padrão consistente de violação dos direitos alheios. A idade média de início do transtorno de conduta é menor em meninos que em meninas. Entre 10 e 12 anos, para os meninos, e entre 14 e 16 anos para as meninas. Crianças com transtorno de conduta expressam seu comportamento agressivo de várias formas, podendo ser expresso por provocações, agressão física, crueldade, hostilidade, abusos verbais, obscenidades, mentiras persistentes, gazetas e vandalismo. Nos casos mais severos, freqüentemente existe a destrutividade, furtos e violência física. Geralmente estas crianças não se preocupam em encobrir o seu comportamento anti-social. Apresentam, freqüentemente, pensamentos, gestos e atos suicidas. Muitas destas crianças não conseguem desenvolver vínculos sociais, tornando-se muitas vezes retraídas ou isoladas, ou então, envolvendo-se com pessoas mais velhas ou mais jovem, ou ter relacionamentos superficiais com outros jovens anti-sociais. A maioria tem baixa auto-estima, embora demonstrem coragem. Estas crianças não tem preocupação pelos sentimentos, desejos e bem-estar alheios, sendo muito difícil que tenham sentimentos de culpa ou remorso por seu comportamento, procurando usualmente responsabilizar alguém pelos seus atos. Freqüentemente estas crianças, tiveram frustrações de suas necessidades de dependência, como também, não absorveram questões de disciplina. A socialização deficiente mostra-se pela sua agressividade excessiva e falta de inibição sexual. Observa-se normalmente, algum grau de patologia social ou psicológica na família. Os padrões de disciplina dos pais normalmente não são ideais, podendo variar de uma excessiva rigidez até a inconsistência ou relativa ausência de supervisão e controle.

Os critérios diagnósticos para Transtorno de Conduta são:

A.Um padrão repetitivo e persistente de comportamento no qual são violados os direitos básicos dos outros ou normas ou regras sociais importantes apropriadas a idade, manifestado pela presença de três (ou mais) dos seguintes critérios nos últimos 12 meses, com, pelo menos, um critério presente nos últimos 6 meses:

Agressão a pessoas e animais

  • freqüentemente provoca, ameaça, ou intimida os outros
  • freqüentemente inicia lutas corporais
  • utilizou uma arma capaz de causar dano físico sério a alguém (por ex.,bastão, tijolo, faca, garrafa quebrada, arma de fogo)
  • foi fisicamente cruel com pessoas
  • foi fisicamente cruel com animais
  • roubou com confronto com a vítima (por ex., bater carteira, arrancar bolsa, extorsão, assalto a mão armada)
  • forçou alguém a ter atividade sexual consigo.

Destruição de patrimônio

  • Envolveu-se deliberadamente em provocação de incêndio com a intenção de causar sérios danos
  • Destruiu deliberadamente o patrimônio alheio ( de outra forma que pelo ateamento de fogo)

Defraudação ou furto

(10)Arrombou a residência, prédio ou automóvel alheios

(11)mente com freqüência para obter favores ou bens ou para evitar obrigações legais (isto é, ludibria outras pessoas)

(12)roubou objetos de valor sem confronto com a vítima ( por ex., furtos em lojas, mas sem arrombar e invadir; falsificação)

Sérias violações de regras

(13)freqüentemente permanece na rua a noite, apesar de proibições dos pais, iniciando antes dos 13 anos de idade

(14)fugiu de casa à noite, pelo menos duas vezes, enquanto vivia na casa dos pais ou lar adotivo ( ou uma vez, sem retornar por extenso período)

(15)freqüentemente gazeteia a escola sem justificativa, iniciando antes dos 13 anos de idade.

  1. A perturbação no comportamento causa comprometimento clínico significativo no funcionamento social, acadêmico ou ocupacional.
  2. Se o indivíduo tem 18 anos ou mais, não são satisfeitos os critérios para o Transtorno de Personalidade Anti-Social.

Especificar tipo com base na idade de início:

Tipo com início na infância: Início de, pelo menos, um critério característico de Transtorno de Conduta, antes dos 10 anos de idade.

Tipo com início na Adolescência: ausência de quaisquer critérios característicos de Transtorno de Conduta antes dos 10 anos de idade.

Especificar gravidade:

Leve: poucos problemas de conduta, se existem, além daqueles exigidos para fazer o diagnóstico e os problemas de conduta causam apenas um dano pequeno a outros.

Moderado: número de problemas de conduta e efeito sobre outros intermediários, entre “leve” e “grave”.

Grave: muitos problemas de conduta além daqueles exigidos para fazer o diagnóstico ou problemas de conduta que causam dano considerável a outros.

Os distúrbios de conduta podem fazer parte de muitas condições psiquiátricas da infância, variando desde os transtornos de humor, transtornos psicóticos e transtornos de aprendizagem. A relação entre o transtorno de conduta e o transtorno desafiador opositivo ainda está em debate. O transtorno desafiador opositivo tem sido considerado como o precursor leve do transtorno de conduta. Muitas crianças não evoluem para o transtorno de conduta, mas mantém suas características oposicionistas. O que diferencia os dois transtornos é que no transtorno de conduta ocorre a violação dos direitos básicos dos outros, enquanto que no distúrbio desafiador opositivo, a hostilidade e o negativismo não chegam a violar seriamente os direitos alheios. É freqüente, que ocorram transtornos de humor em crianças com algum grau de irritabilidade e comportamento agressivo, e o transtorno de conduta pode ocorrer e ser diagnosticado durante o início de um transtorno de humor. Esta condição não está presente no transtorno desafiador opositivo. Em geral, crianças que são diagnosticadas com transtorno de conduta precocemente, que exibem sintomas em maior quantidade e os expressam com maior freqüência, tem os piores prognósticos. Em parte isto se deve, ao fato de se tornarem mais vulneráveis a desenvolverem outros transtornos mais tarde, como um transtorno de humor ou transtorno relacionados a substâncias Um bom prognóstico pode ser previsto quando o transtorno é leve, ausência de psicopatologia coexistente e funcionamento intelectual normal.

COMPREENSÃO DINÂMICA: A VISÃO DE D. W. WINNICOTT

Winnicott acreditava que é na época em que a capacidade de envolvimento está se desenvolvendo, entre os 6 meses e 2 anos de idade, que a privação ou perda pode ter conseqüências devastadoras: os primórdios do processo de socialização decorrentes de tendências inatas da criança podem se perder ou se obstruir. Winnicott reelabora de maneira própria, o conceito da “posição depressiva” de Melanie Klein, sendo uma das principais diferenças, a ênfase que ele dá ao ambiente humano (especialmente a mãe) na identificação e no fomento da tendência inata da criança para o envolvimento. A origem da capacidade de envolvimento apresenta um problema complexo. O envolvimento é uma característica importante na vida social, pois o envolvimento implica numa maior integração e maior crescimento, relacionando-se de forma positiva com o senso de responsabilidade do indivíduo, especialmente com respeito às relações em que se introduzem pulsões instintuais. O envolvimento refere-se ao fato de o indivíduo preocupar-se ou importar-se, e tanto sentir como aceitar responsabilidade. Geralmente se descreve a origem da capacidade de envolvimento em termos das relações mãe-bebê, quando a criança já constitui uma unidade estabelecida e sente a mãe, ou figura materna, como pessoa total. Todos os processos de maturação formam a base de desenvolvimento da criança, tanto o desenvolvimento psicológico, como o desenvolvimento anatômico e fisiológico. E para que este desenvolvimento aconteça de forma positiva, são necessárias certas condições externas para que os potenciais de maturação se concretizem. Ou seja, o desenvolvimento depende de um ambiente suficientemente bom, onde os cuidados maternos adequados, nos estágios iniciais, são fundamentais para saúde emocional da criança.

Winnicott ressalta que “existe algo que chamamos de ambiente não suficientemente bom, que distorce o desenvolvimento do bebê, assim como existe o ambiente suficientemente bom, que possibilita ao bebê alcançar, a cada etapa, as satisfações e conflitos inatos e pertinentes”(p.399,, da pediatria) Freqüentemente, diz-se que a mãe é biologicamente condicionada para a tarefa de lidar de modo todo especial com as necessidades do filho, ou seja, espera-se que a mãe identifique-se – consciente e inconscientemente – com o seu bebê. A tese de Winnicott é de que existe um estado psicológico, que ele denomina de Preocupação Materna Primária , na qual, a mãe atinge um estado de sensibilidade muito aguçada durante e principalmente o final da gravidez , e nas primeiras semanas de vida do bebê, em que elas “adoecem” de forma normal o que possibilitaria a adaptação sensível e delicada às necessidades do bebê já nos primeiros momentos. Algumas mães conseguem este estado de doença normal com um filho e não com o outro. Para o autor, as mães que desenvolvem esse estado de preocupação materna primária, fornecem um contexto para que a constituição da criança comece a se manifestar, para que as tendências ao desenvolvimento comecem a desdobrar-se, e para que o bebê comece a experimentar movimentos espontâneos e se torne dono das sensações correspondentes a esta etapa inicial da vida.

A falha materna em adaptar-se na fase mais primitiva às necessidades do bebê, conseguindo colocar-se no lugar de seu bebê, para assim corresponder às suas necessidades (inicialmente necessidades corporais, depois, psicológicas), pode ser sentida como uma ameaça à existência do eu do bebê, uma ameaça de aniquilação. Dessa forma Winnicott acredita que com um ambiente suficientemente bom, na fase mais primitiva do bebê, irá capacitá-lo para começar a existir, a ter experiências, a formar seu ego pessoal, a dominar seus instintos, podendo defrontar-se com todas as dificuldades da vida. Isto passa a ser sentido como real pelo bebê, que se torna capaz de ter um eu, que pode em algum momento, perder a espontaneidade ou até morrer. Diferentemente, quando o ambiente não é suficientemente bom, esse eu, pode dar-se ao luxo de morrer, sem nunca se desenvolver. Winnicott diz que “O sentimento de realidade encontra-se ausente, e se não houver caos em excesso o sentimento final será o de inutilidade. As dificuldades inerentes à vida não poderão ser alcançadas, e menos ainda o serão as satisfações. Quando não há caos surge um eu falso que esconde o eu verdadeiro, que se submete às exigências, que reage aos estímulos e que se livra das experiências instintivas tendo-as, mas que está apenas ganhando tempo”(p. 404, da ped)) Portanto, quando ocorre uma falha neste estágio inicial, o bebê será apanhado por mecanismos de defesa primitivos (falso eu) que pertencem à ameaça de aniquilação, e os elementos constitucionais poderão ficar anulados.

Winnicott afirma que quando o ambiente falha nos estágios iniciais de maturação, ocorre uma falha do ego em organizar defesas, ficando num extremo, o ego ocultando a formação de sintomas neuróticos ( criados contra a ansiedade que faz parte do Complexo de Édipo), e portanto, a doença oculta é uma questão de conflito inconsciente do indivíduo. No outro extremo, fica o ego ocultando a formação de sintomas psicóticos (splitting, dissociações, despersonalização, regressão, dependência onipotente, etc), estando a doença na estrutura do ego. Para ele, os estágios iniciais do desenvolvimento emocional estão repletos de conflito e desintegração.A relação com a realidade externa ainda não está concluída; a personalidade ainda não está bem integrada; o amor primitivo tem um propósito destrutivo e a criança pequena ainda não aprendeu a tolerar e enfrentar os instintos.No início da vida ela tem necessidade de viver num círculo de amor e força, para não sentir medo de seus próprios pensamentos e dos produtos de sua imaginação, a fim de avançar no seu desenvolvimento emocional.   Quando isto fracassa, a criança pode desenvolver a tendência anti-social. Para que a criança supere esta falha, é preciso que ela seja capaz de sentir a realidade das coisas reais, internas e externas, para o estabelecimento e integração da personalidade. Depois dessas coisas primitivas, seguem-se os primeiros sentimentos de envolvimento e culpa, bem como os primeiros impulsos para fazer reparações.

Para Winnicott o “ego” é o somatório de experiências.

O autor utiliza a expressão tendência anti-social. Para ele “A tendência anti-social sempre se origina de uma privação e representa o pedido da criança para voltar à época anterior à privação, ao estado de coisas que conseguia quando tudo ia bem.”(p.185 matu) Dito de outro modo, que em algum período ou fase do desenvolvimento em que ocorreu uma falha real de apoio ao ego, que deteve o desenvolvimento emocional da criança. Assim o processo de maturação ficou contido por causa de uma falha no ambiente facilitador.

Winnicott introduz a idéia de caráter como algo que faz parte da integração. Para ele o caráter é uma manifestação da integração bem sucedida e um distúrbio de caráter é uma distorção da estrutura do ego, com a integração mantida.O caráter da criança se estrutura sobre a base de um processo contínuo. E na teoria dos distúrbios de caráter, pode-se pensar que o indivíduo pode ser sobrecarregado com duas cargas distintas, sendo uma delas, a carga de um processo de maturação perturbado e em certos aspectos detido ou adiado. A outra, é a esperança, uma esperança que nunca se extingue completamente, de que o meio tome conhecimento e o compense pela falha específica que acarretou o dano. Assim sendo, a tendência anti-social implica em esperança, bem como, compele o ambiente a tornar-se importante. O paciente, devido a impulsos inconscientes pode encarregar alguém a cuidar dele, tarefa esta, que muitas vezes é desempenhada pelo terapeuta, através do manejo, tolerância e compreensão.

John Bowlby, assinala a relação entre a de-privação emocional (a criança é destituída de algum aspecto essencial de sua vida em família) e a tendência anti-social, o que ocorre no período entre o final da primeira infância e a época em que a criança passa a andar, aproximadamente entre um ou dois anos. Quando acontece a tendência anti-social, aconteceu uma de-privação, ou seja, deu-se a perda de algo bom, que foi retirado. Há duas vertentes da tendência anti-social. Uma das vertentes é representada pelo roubo, e a outra é representada pela destrutividade. No roubo, a criança procura algo em algum lugar, e não encontrando, procura em outro lugar, se ela tiver esperança.Na destrutividade, ela busca a quantidade de estabilidade ambiental necessária para suportar o comportamento impulsivo.

É importante assinalar que, para Winnicott, na base da tendência anti-social existe uma experiência inicial boa que foi perdida. “Com toda certeza, um dos aspectos essenciais é o de que o bebê tenha alcançado a capacidade de perceber que a causa do desastre foi devida a uma falha do ambiente. A compreensão correta de que a causa da depressão ou da desintegração é externa, e não interna, provoca a distorção da personalidade e o impulso de buscar a cura numa nova provisão ambiental. O grau de maturidade do ego que permite uma percepção deste tipo determina o desenvolvimento de uma tendência anti-social em vez de uma doença psicótica.”(p.415, da ped)

ESTUDO DE CASO

Dados de Identificação:

Nome: LFE          Escolaridade: 4ª série

Data de Nascimento: 14.05.1993

Idade: 10 a 2m

Filiação: JE(pai)                         Idade: 46 a        Profissão: Empresário

             SE (mãe)                     Idade: 44 a        Profissão: advogada

Motivo da consulta:

LF é aluno na escola onde trabalho como psicóloga escolar. Como tem acontecido muito nos últimos anos, os pais foram chamados pela coordenação pedagógica da escola, devido a comportamentos inadequados do menino, tanto em sala de aula, como nos recreios e intervalos. LF costuma atrapalhar durante a aula, conversando e brincando,e nos intervalos é comum se envolver em confusões e brigas com os colegas. Nesta ocasião, os pais foram chamados, porque LF roubou material escolar de um colega, e destruiu uma cadeira da escola. O encaminhamento para atendimento psicológico aconteceu na própria escola, e os pais decidiram que LF, deveria iniciar atendimento psicológico o mais breve possível. A escolha da terapeuta ficou a critério da família, que optou pela mesma profissional que atua na escola, o que segundo a família, poderia contribuir e facilitar o acompanhamento de LF. Quando os pais vieram para a primeira consulta, ambos estavam bastante ansiosos com a evolução da sintomatologia do filho. Ambos relatam que, LF é um menino carinhoso, que está sempre querendo chamar a atenção, e acaba se envolvendo em situações que desagradam profundamente aos pais, pois ele mente muito, não sabe brincar, não sabe perder e trapaceia nos jogos, briga constantemente com o irmão, tem poucos amigos, roubou dinheiro dos pais, fala muito palavrão, e apresenta muitas condutas efeminadas ( segundo a mãe, são gayzices) além de comportamentos como soltar gazes e arrotos , tanto em família como quando vem visitas em casa.

Impressão Geral Transmitida:

SE e JE compareceram à entrevista de anamnese bastante ansiosos e preocupados com o comportamento de LF. Falavam o tempo todo, sobre todas as situações difíceis por que já passaram devido ao mau comportamento do filho: nos aniversários de colegas, quando vai na casa de colegas ou parentes, normalmente os pais recebem queixas pelo comportamento de LF, etc. A mãe chorava em diversos momentos, demonstrando desespero em não saber como proceder com o filho, enquanto o pai mantinha-se mais calmo e tentava encontrar explicações para todos os fatos relatados, de forma racional e menos afetiva. O casal é de classe média alta, de meia idade, ambos com aparência séria, com valores morais bem definidos e limitados, e bastante preocupados e mobilizados com o comportamento inadequado do filho.

LF veio à primeira sessão e foi “adentrando” em meu consultório, pegando os brinquedos sem pedir permissão. LF é um menino pequeno para a sua idade (é o menor de seu grupo escolar), é magro e baixo, de cabelos louros e olhos azuis. Sua expressão é pesada, pois é comum abrir olhos e boca de forma exagerada, quando se exalta ou quer mostrar algo do seu interesse. É freqüente estar agitado quando brinca ou joga, xingando e reclamando quando as coisas não saem conforme o esperado, usando palavrões e tentando trapacear durante o jogo. Mostra-se hiperativo, iniciando várias coisas ao mesmo tempo, ou, não terminando adequadamente uma tarefa para já começar outra. Na sala, costuma ficar sentado no tapete, se arrrastando para pegar as coisas ou se deitando, tanto no tapete como no sofá, várias vezes durante a sessão.

História Pregressa e Atual:

LF é o segundo filho de SE e JE. É o caçula. A gravidez de LF, apesar de não ter sido planejada foi bem aceita pelo casal. No entanto, SE relata que foi um período muito difícil para ela, devido a questões profissionais. Ela define sua gravidez como “uma gravidez muito difícil”. SE trabalhava como sócia em um escritório de advocacia, e a segunda gravidez a deixou muito dividida e indecisa sobre como conciliar a maternidade e a carreira. O parto de LF foi normal sem complicações. A mãe relata um período de depressão pós-parto, que durou cerca de 6 meses e somente quando ela conseguiu definir sua vida profissional, retirando-se da sociedade no escritório de advocacia e decidindo trabalhar como autônoma em sua própria casa, é que pôde finalmente se envolver com o bebê e a depressão aos poucos foi cedendo. A mãe pouco falou sobre este período, centrando-se mais na evolução de LF, mas segundo ela, não fez tratamento para a depressão. O desenvolvimento motor de LF foi dentro do esperado. LF foi amamentado poucas semanas, pois a mãe lembra que seu leite logo “secou”. Após alguns meses, os pais perceberam que LF apresentava um problema ocular,e LF foi diagnosticado como estrábico, e passou a usar tampão durante muito tempo, até ser submetido a uma cirurgia de correção. LF sempre “odiou” usar tampão e depois os óculos. Atualmente usa lente de contato devido a miopia, não se percebendo nada de seu antigo estrabismo. Com 3 anos, LF iniciou sua vida escolar, indo para a creche. A mãe relata que LF sempre gostou da creche, e que sempre se relacionou bem com colegas e professores. Mas sempre foi um menino que lutava para chamar a atenção para si, tanto na escola como em casa. SE relata situações de ciúme intenso entre os irmãos, a ponto de os pais terem que afastá-los senão poderiam se machucar.

O irmão de LF, PA foi diagnosticado com TDAH, e está sendo medicado já há algum tempo , e tem apresentado boas melhoras, tanto em comportamento como em seu rendimento escolar. Segundo a escola, LF sempre teve bom rendimento escolar, seu maior problema sempre foram suas atitudes e comportamentos. No entanto a partir deste ano, LF começou a decair consideravelmente em seu rendimento escolar. Os pais o levaram ao mesmo neurologista que acompanha o outro filho, e num primeiro momento este diagnosticou LF como depressivo, e passou a medicá-lo com anti-depressivo durante um período aproximado de 4 meses, sem resultados. Durante este período, LF além de piorar seu rendimento escolar, também piorou seu comportamento. Uma atitude muito preocupante de LF, foi a tentativa de cortar os pulsos, com uma faca cega, quando ele não conseguiu ganhar um objeto que ele tanto queria. LF costuma mentir para chamar a atenção, fala muitos palavrões, e por várias vezes já roubou dinheiro da carteira dos pais, bem como material escolar de seus colegas, solta gazes e arrotos em sala de aula, e em casa, na presença de visitas, o que constrange demais a família, pois parece que LF acha graça do seu comportamento. Quando é chamada sua atenção ele prontamente pede desculpas, para num momento mais tarde, repetir estes comportamentos. Na escola já falsificou a assinatura dos pais em uma prova em que ele tirou nota baixa.Junto a seu grupo escolar, passou a ser visto como um menino problema, e começou a ser comum responsabilizá-lo sempre que algo de anormal acontece em sala de aula. Esta postura do seu grupo começou a mudar, pois todos perceberam que nem sempre era culpa de LF, e com o tratamento que LF iniciou, este tornou-se um pouco mais quieto, e mesmo assim muitas confusões continuaram acontecendo em sala de aula.

No último incidente que aconteceu na escola, em que LF foi suspenso por dois dias, LF além de brigar em sala de aula, desrespeitando a professora e colegas, destruiu uma cadeira do colégio devido a intensa fúria. À tarde, quando LF foi à catequese, falou todo orgulhoso e debochando dos colegas, que ele poderia ficar em casa dormindo, durante a suspensão, enquanto os colegas teriam que ir para a escola. Outro comportamento recente, mas muito comum, foi a atitude que LF tomou no banheiro, quando mostrou seus órgãos genitais para um menino de 5 anos, da pré-escola, subindo numa cadeira, e balançando o pênis para o menino ver. Este menino saiu correndo em pânico, em busca de ajuda. Seus colegas de turma acostumados com este tipo de atitude de LF, dizem que ele “fica fazendo gayzice na banheiro” e já nem se importam mais. Após a suspensão de LF, foi combinado que a família retornaria para o médico a fim de rever a medicação e possível diagnóstico. Como terapeuta de LF, encaminhei um parecer psicológico com o diagnóstico de distúrbio de conduta. O médico não confirmou o diagnóstico. Segundo ele “A hipótese mais provável para o LF é de DDO (Distúrbio Desafiador de Oposição) talvez com alguma co-morbidade, em especial ansiedade/depressão”. A medicação foi alterada, e a combinação feita com a família foi de que se num prazo de 30 dias não houvesse melhora significativa, seria feito o encaminhamento para um psiquiatra infantil.

Há um mês ele não tem comparecido às sessões. Após um período de duas semanas em que me ausentei, a mãe buscou a avaliação de um outro profissional da área da psicologia, num instituto de Porto Alegre, a fim de confirmar o diagnóstico. Por contato telefônico, ela comunicou que assim que tivesse o resultado, ela retornaria para definir como dar continuidade ao tratamento de LF.

SE também iniciou tratamento para depressão, pois segundo ela, com os problemas de ambos os filhos, tanto ela como o marido estão exaustos, mas como ela é quem fica muito mais em contato no dia-a-dia com os dois, sentiu-se extremamente fragilizada e angustiada, iniciando tratamento farmacológico no mesmo período em que o LF alterou sua medicação. Segundo dados e relatos da escola, a família de LF sempre amenizou os problemas do filho, alegando que as professoras perseguiam o filho e que ele sempre era o “bode expiatório” da turma, e que em casa ela não tinha problemas tão sérios com o filho. Com o passar dos anos, e com o agravamento dos comportamentos de LF, a família se conscientizou da realidade dos fatos e está em busca de tratamento para LF.

Evolução do Atendimento:

O processo psicoterapêutico de LF, iniciou em 28 de novembro de 2002. Após um período de Avaliação Psicológica em que foram aplicados os testes MACHOVER, H.T.P., FAMÍLIA, BENDER, FÁBULAS DE DUSS e a HORA DE JOGO, iniciamos o atendimento com uma sessão semanal para LF e uma sessão mensal com os pais, com possibilidade de algumas sessões de família, o que até agora não aconteceu. Pode-se perceber através dos testes a presença de intensa agressividade e impulsividade, ciúmes do irmão, sentimentos de inadequação e baixa auto-estima, pouco reconhecimento da autoridade paterna e materna, bem como grande confusão e pouca confiança no mundo que o cerca, dificuldade nos contatos afetivos, imaturidade e dependência. Em entrevista com os pais , foram feitas algumas combinações de manejo como a questão do respeito pela figura de autoridade do pai e da mãe, questões relativas a equiparação de mesadas (eram de valores diferentes, apesar da pouca diferença de idade dos irmãos, o que gerava grande disputa e muitas brigas e discussões),a reparação e reposição de objetos, sempre que LF destruía ou roubava, além de atitudes mais carinhosas e afetivas para dar a LF a certeza do amor dos pais, tão disputado com o irmão PA, entre outras questões. Os pais mostraram-se muito interessados, e colocaram em prática prontamente todas as combinações, que sempre foram bem discutidas em terapia.

Durante o período de festas de final de ano e férias escolares, ou seja, de dezembro a março, houveram muitas faltas e a terapia foi acontecendo de forma lenta, porém gradual. Nas primeiras sessões, e na grande maioria delas, LF sempre quis jogar o “Jogo da Vida”. No início, deixei-o jogar a seu modo, e pude perceber a sua dificuldade em perder, quando revirava o dinheiro para que não se pudesse saber quem era o vencedor; sua baixa tolerância à frustração pois ficava muito irritado, falando palavrões ou tentando trapacear para amenizar a perda. Depois de algumas sessões, passei a assinalar e a cobrar que ele jogasse de forma correta, e o jogo começou a perder a graça, em parte porque era um jogo de “gato e rato”, onde a terapeuta ficava atenta para as infrações e o paciente tentava driblar esta atenção para ganhar da terapeuta. As interpretações e associações do jogo com a vida real, parece que tiveram pouco impacto, pois o que mais mobilizava LF era o jogo, era a possibilidade de ganhar, de trapacear , de estar atento a tudo, para ser o grande vitorioso no final. Esta situação cansou aos dois. LF passou a desenhar na lousa. Vários desenhos em questão de minutos. LF desenhava e mal terminava, apagava e começava outro, de forma ansiosa e bastante desestruturada. Seus desenhos passaram a mostrar seu mundo interno, confuso e desestruturado, e questões como a agressão, o matar e o morrer, começaram a vir a tona. Numa das últimas sessões em que LF compareceu sozinho, pedi que ele desenhasse no papel ofício para que pudéssemos guardar suas produções em sua pasta. Inicialmente ele relutou, mas depois acabou desenhando uma situação em que ele mostrava sua realidade interna: dizendo “eu sou mau, há,há,há” desenhou a casa do telhado maluco, um campo minado de minas terrestres, e a frase “Sadam Husem foi morto”. Esta foi sua última sessão.E este foi um dos desenhos que LF mostrou para a mãe, muito orgulhoso.

DISCUSSÃO

Winnicott desenvolve uma teoria bastante complexa sobre a preocupação materna primária – a de-privação- os distúrbios de caráter – a tendência anti-social – a esperança. Em alguns momentos, fica-se com a impressão de que ele identifica a causa ou origem da tendência anti-social, nas primeiras semanas de vida do bebê, para num outro momento, situá-la no período, que Melanie Klein denomina de Posição Depressiva, ou seja, após os 6 meses. Ele situa a idade entre 6 meses a 2 anos. O termo tendência anti-social, utilizado por ele, e definido por ele, não como um diagnóstico, como seria o diagnóstico de uma neurose ou psicose, é o termo que se equipara àquilo que chamamos de conduta anti-social ou transtorno de conduta. Pelo menos foi assim que foi entendido, compreendido e analisado.

Quando se faz a relação entre os dados do DSM-IV, a teoria de Winnicott e o estudo de caso apresentado, várias são as questões e interrogações. Qual será o diagnóstico mais provável para LF? Transtorno de Conduta ou Transtorno Desafiador Opositivo, sugerido pelo neurologista? Onde podemos situar a de-privação que desencadeou toda a tendência anti-social de LF? De que forma a constituição desta família contribuiu para a evolução do quadro? A depressão pós-parto da mãe foi significativa para o desenvolvimento emocional de LF?

Vários são os questionamentos, quando nos deparamos com o comportamento de LF. Mas, levando-se em consideração todos os aspectos teóricos, os dados da história pregressa, e a evolução do atendimento de LF, parece que o Transtorno de Conduta é o que melhor define o quadro. Apesar da idade de LF, em todo o seu desenvolvimento parece haver uma evolução na sintomatologia, que é o que relatam os autores, quando dizem que o transtorno de conduta não surge da noite para o dia. As atitudes de roubar, mentir, destruir material escolar, mostrar os órgãos genitais para os colegas e para um menor, a tentativa de se matar cortando os pulsos com uma faca, os poucos amigos, a dificuldade de relacionar-se socialmente, a dificuldade de se responsabilizar e de sentir culpa e remorso com os constantes pedidos de desculpas, para em seguida repetir as mesmas atitudes, falsificar a assinatura dos pais, etc., quando analisados na proporção e intensidade para a sua idade, sinalizam para a evolução de um transtorno de conduta.

Possivelmente, pode-se pensar num diagnóstico de Transtorno de Conduta, do tipo com início na infância, de gravidade moderada, com prognóstico reservado, em função da idade de início e quantidade de sintomatologia associada.

Outra questão importante, que não foi analisada teoricamente, é sobre qual estrutura de personalidade estamos trabalhando. Paulina F. Kernberg e colaboradores, assinalam sobre a questão da constituição da personalidade. Enfatizam que muitos clínicos relutam em fazer o diagnóstico de transtorno de personalidade para crianças e adolescentes, pois acreditam que a personalidade ainda não se cristalizou nesta idade. Mesmo assim – e até se pensarmos sobre o diagnóstico de transtorno de conduta que parece estar adequado ao paciente – o que parece ser importante, é que, pensando na possibilidade de se cristalizar uma determinada personalidade desviante, e pensando no que poderia ser feito terapeuticamente, acredito que fazer um diagnóstico, apenas auxilia de forma significativa, a escolha de tratamentos e encaminhamentos mais adequados ao caso. Se o diagnóstico for realmente 100% confiável, possivelmente só com a idade e o desenvolvimento emocional do jovem é que saberemos.

Pode-se pensar em uma estrutura borderline, talvez até psicótica. Mas, se pensarmos em termos de Transtornos de Personalidade, e LF satisfaz muitos dos traços característicos dos transtornos de personalidade, podemos ficar atentos a um possível Transtorno de Personalidade Anti-Social. Quando pensamos no desenvolvimento emocional de LF, suas primeiras relações afetivas, sobrevém a depressão pós-parto da mãe de LF, e aquilo que Winnicott denomina de ambiente suficientemente bom, e preocupação materna primária. Pode-se pensar que, a falta de uma ambiente suficientemente ligado (ou bom), consciente e inconscientemente, entre mãe e filho, não aconteceu em sua plenitude. A mãe relata intenso conflito para conciliar questões profissionais e maternais durante toda gravidez e nos primeiros meses de vida de LF. Na teoria de Winnicott, é durante este período, que se estrutura o desenvolvimento emocional saudável – seria a estrutura de personalidade? – da criança. É neste período que a criança precisa ter criado um “bom ambiente interno”, a partir de um bom ambiente externo, pois, como a personalidade ainda não está bem integrada, o amor primitivo pode ser destrutivo e a criança ainda não aprendeu a tolerar e a enfrentar seus instintos.

Winnicott afirma, que no começo da vida, a criança tem necessidade absoluta de viver num círculo de amor e força, para não sentir medo excessivo de seus próprios pensamentos e dos produtos de sua imaginação (medo de aniquilação), para poder prosseguir em seu desenvolvimento emocional. A família de LF parece não ser uma família negligente, muito pelo contrário, ambos os pais, mostram uma grande preocupação e dedicação para com os dois filhos. Ambos mostram-se bastante severos e rígidos para com os filhos.

Na história escolar de LF, parece que houve um período em que a mãe negava os comportamentos inadequados do filho, dizendo tratar-se de perseguição das professoras, numa tentativa talvez inconsciente de compensar “alguma coisa”. Somente quando o quadro ficou totalmente fora de controle, é que a mãe e o pai, concordaram que o problema era com o filho e não da escola. Winnicott entende a atuação (acting out) como a forma que a criança encontra, num momento de esperança, de forçar o ambiente a efetuar a cura, o que acontece quando o ambiente exerce forte reação de controle, o que permite à criança sentir-se segura, contida.

Parece que é isto que LF busca. Mas, não é apenas a contenção e a provisão ambiental, mas toda e qualquer forma de proteção e afeto. Percebe-se em LF uma necessidade quase que instintiva de confirmar o amor, aquilo que Winnicott chama de sofreguidão. Ele busca este ambiente suficientemente bom em sua família, na escola, na sociedade, na terapia.

A Fórmula da Felicidade

Você sabia que existe uma fórmula para avaliar a felicidade? Entenda a teoria – via esquema – por trás da arte da felicidade.

H = S + C + V

H = HAPINESS: FELICIDADE

S = SET RANGE: limites estabelecidos (herança genética para a felicidade (bioquímica cerebral) = Você vai ser tão feliz quanto a soma da felicidade dos seus pais.

C = CIRCUNSTANCES: As circunstâncias (casamentos bons/ruins, clima, trabalho, situação financeira, saúde, educação, alimentação, gênero, idade, relações sociais) influenciam + ou – em sua felicidade.

V = VOLUNTARY: Variáveis voluntárias = Emoções positivas no tempo: ser bem resolvido emocionalmente no passado, presente, futuro.

O que são emoções positivas no tempo? Que no Passado hajam bases sólidas para gerarem satisfação, contentamento, realização, orgulho e serenidade + que no Presente possamos encontrar alegria, êxtase, calma, entusiasmo, animação, prazer, plenitude (FLOW), algo como “Viva a vida intensamente.” + Que tenhamos otimismo, esperança, fé e confiança no Futuro. Evite emoções de futuro como medo, ansiedade e preocupação.

Tipos de Felicidade:

Prazeres Físicos: É o prazer sensorial de curto prazo (momentâneo), ativado pelos sentidos: tocar, sentir gosto e cheiro, movimentar o corpo, fazer sexo, namorar, usar drogas …

Prazeres Maiores:  Alta Intensidade: enlevo, deleite, êxtase, emoção, hilaridade, euforia, empolgação, sublimidade, júbilo. Média Intensidade: animação, encantamento, contentamento, vigor, alegria, bom humor, regozijo, entusiasmo, atração e graça. Baixa Intensidade: conforto, harmonia, divertimento, saciedade, relaxamento.

Como aumentar os prazeres da vida:                                                           

Habituação: espaçamento dos prazeres físicos (comida, bebida, drogas). Para manter o prazer é preciso manter a quantidade de estímulo.                                                                                                     Apreciação: partilhamento, formação de memória, autocongratulação, aguçamento da percepção, absorção.                                                                                                            Atenção: esteja 100% presente no que você faz.

Uma das formas de se sentir feliz é sentir-se pleno. Existem várias maneiras de atingirmos este estado: realizando-se afetivamente, profissionalmente … Chamamos este estado de FLOW (sensação de plenitude).

Como identificar se você está em FLOW: a tarefa exige habilidade e é desafiadora, exige concentração, os objetivos são claros, o Feedback é imediato, o envolvimento é intenso e natural, a consciência do EU desaparece, o tempo para.

O que fazer para gerar o FLOWDesenvolver pontos fortes (forças e virtudes) + Usar forças e talentos.

Pinte o 7 em 2017

Que tal “pollockar” em 2017? Você pode não acreditar, mas a técnica de Pollock, além de fácil, é extremamente terapêutica, exclusiva e colorida. Adoro os paineis que pollockei nestes últimos 3 anos. Eles dão vida aos ambientes. E, pelo que parece, todo mundo gosta.

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Mas antes de arregaçar as mangas que tal conhecer um pouco de Pollock?

Além do link acima (em vermelho) um pouco mais do pintor americano que abalou o mundo das artes. Pollock nasceu em 1912. Foi influenciado pela pintura em areia dos índios americanos e pelos pintores mexicanos de afrescos. Em 1936 pintou telas violentamente expressionistas. Inventou processos originais aplicando imensas telas contra a parede ou no chão. Em vez de usar pincel e paleta, praticava o dripping  passeando sobre a tela com latas furadas, de onde escorria tinta. Criador da Action Painting, Jackson Pollock encarnava a fúria de uma raça embriagada por grandes espaços e afetou não só artistas  jovens, mas toda uma geração de pintores contemporâneos, inclusive mais velhos. Pollock travou uma grande batalha contra o alcoolismo e a depressão. Alguns viam nele apenas um criador de peças caóticas e isentas de sentido – a Revista Time chegou a apelidá-lo de Jack, o Gotejador. Outros, aclamaram-no como o mais promissor e impressionante pintor da América. Morreu em 1956, aos 44 anos, num acidente de carro.

Voltando à ideia de “pollockar”.

Costumo forrar o piso da garagem com lona plástica preta e arregaço as mangas durante vários dias. Compro várias telas – em formato de painel, que dispensa moldura – e vários frascos e tons de tinta. Sabe como é: quando a inspiração chegar, melhor estar preparada. Porque se tiver de me arrumar, pegar e rodar de carro, comprar tintas, telas … by by inspiração.

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Tudo devidamente forrado … hora de soltar o corpo e a imaginação. Hora de se libertar e se entregar por inteiro.

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Depois de vários dias e várias camadas de pintura – essencial esperar que cada camada seque antes de aplicar nova camada de tinta – é hora de dar acabamento com pincel nas bordas do painel.

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Depois de tudo seco e finalizado é hora de assinar e continuar usufruindo a energia da própria arte.

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Que tal? Vamos “pollockar” em 2017?

 

O fantástico mundo de Harry Potter – Uma visão psicanalítica

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RESUMO: Este artigo procura entender os motivos que levaram a estória de Harry Potter a fazer tanto sucesso, a ponto de ser vendida em 42 países e ser traduzida para 31 idiomas. Para tanto foi realizada uma pesquisa, através de um questionário, aplicado em crianças e adolescentes, de 9 a 13 anos, num total de 121 alunos, realizada em diversas escolas, públicas e privadas. Como os dados foram muito abrangentes, buscamos na interpretação psicanalítica os motivos para tanto sucesso. Assim, este artigo relê a obra de J.K. Rowling, autora de Harry Potter, através do entendimento psicanalítico, e tenta desvendar os mistérios inconscientes que levaram ao tesouro do reconhecimento e do sucesso.

A evolução de um processo

A história do órfão mágico Harry Potter fez um sucesso estrondoso em todo o mundo. Milhões de crianças, adolescentes e adultos leram os livros, assistiram ao filme, ou fizeram ambas as coisas, e a grande maioria se apaixonou e vibrou com a história e as aventuras do famoso bruxo.

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O que realmente mobilizou este exército de fãs e leitores de Harry Potter?Será o mundo fantástico e mágico da Escola de bruxaria de Hogwarts, ou será a identificação com o personagem, uma criança órfã e rejeitada, que de uma hora para outra, tornou-se uma celebridade, admirada e invejada por muitos, capaz de enfrentar e vencer muitos desafios, tornando-se um vencedor?

Para podermos entender o sucesso do personagem, foi realizada uma pesquisa em diversas escolas,tanto públicas como particulares, onde foi aplicado um questionário com as seguintes questões:

  1. Você leu algum dos livros ou assistiu ao filme do “Harry Potter”?
  2. De qual você mais gostou? Por que?
  3. Para você o que mais chamou atenção na história? Explique:
  4. Dos personagens da história, de qual você gostou mais? Por que?
  5. Pensando na história de Harry Potter, e a realidade em que vivemos, o que você gostaria de apontar?
  6. Para você, por que Harry Potter faz tanto sucesso?

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As aplicações dos questionários aconteceram de 3a. à 6a. séries, com alunos de 9 a 13 anos, num total de 121 alunos. A aplicação ficava sob a supervisão da professora da turma naquele período, ou então, os alunos respondiam em casa e traziam para a escola o questionário respondido.

Os dados que mais se repetiram foram:

  1. A maioria assistiu ao filme;
  2. Gostaram mais do filme, relataram que no filme puderam ver os personagens, os lugares e conhecer esta realidade mágica e por que tinha efeitos especiais e ação, como o jogo de quadribol, vassouras voadoras, monstros, etc;
  3. O que mais chamou a atenção da maioria dos alunos, foi a magia ,a fantasia e a vida de Harry Potter, o modo como ele era tratado pelos tios, sua coragem e capacidade de vencer obstáculos, a escola de aventuras e ousadias.
  4. Os personagens mais citados foram Harry Potter, pela sua coragem, determinação, inteligência, criatividade, pelas suas magias, por ser aventureiro, bonito e pela capacidade para enfrentar e vencer obstáculos; e também a menina Hermione, pela sua inteligência e esperteza;
  5. Alguns não encontraram relação, pois são mundos totalmente diferentes, mas muitos apontaram para o mundo de magia e fantasia, tão diferente do mundo em que vivemos, mas que tanto na história como na vida real existem desafios e problemas que devem ser enfrentados;
  6. Por que é uma história de magia e bruxos, repleta de novidades, por que mexe com a imaginação das pessoas, e também devido a grande publicidade realizada para a divulgação dos livros e filmes.

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Estes dados sugerem várias possibilidades e razões pelo sucesso de Harry Potter, retratando tanto a questão da magia e fantasia, como algo novo e bom, o enredo envolvendo uma criança que se tornou tanto uma celebridade na história como na realidade, pois mostrou que apesar das adversidades, Harry Potter conseguiu superar-se e tornar-se vitorioso.

A história de Harry Potter nos permite fazer uma leitura sob o aspecto psicanalítico encontrando razões conscientes e inconscientes, que podem ter sido mobilizadas, suscitando toda esta exaltação pelo jovem mágico.

Partindo basicamente do enfoque de Bruno Bettelheim, em seu livro “A Psicanálise dos Contos de Fadas”, procuramos encontrar respostas para todo o sucesso que Harry Potter fez.

O autor diferencia a história tipo mito ou conto. Segundo ele, o mito é pessimista, enquanto o conto de fadas é otimista. O final do mito é quase sempre trágico, enquanto é sempre feliz nos contos de fadas. Para ele, “os mitos projetam uma personalidade ideal agindo nas bases das exigências do superego, enquanto os contos de fadas descrevem uma integração do ego que permite uma satisfação apropriada dos desejos do id. Esta diferença responde pelo contraste entre o pessimismo penetrante dos mitos e o otimismo essencial dos contos de fadas”.(pg.52) É esta a essência da história de Harry Potter.

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Para ele, “há uma concordância geral de que mitos e contos de fadas falam-nos na linguagem de símbolos representando conteúdos inconscientes. Seu apelo é simultâneo à nossa mente consciente e inconsciente, a todos os seus três aspectos – id,ego e superego – e à nossa necessidade de ideais de ego também. Por isso é muito eficaz; e no conteúdo dos contos, os fenômenos internos psicológicos recebem corpo em forma simbólica.”(pg.46-47)

Bettelheim afirma que “a criança intuitivamente compreende que embora estas estórias sejam irreais, não são falsas; que ao mesmo tempo que os fatos narrados não acontecem na vida real, podem ocorrer como uma experiência interna e de desenvolvimento pessoal; que os contos de fadas retratam de forma imaginária e simbólica os passos essenciais do crescimento e da aquisição de uma existência independente.”( p.90) Ele continua afirmando que “… o conto de fadas usa símbolos universais que permitem à criança escolher, selecionar, negligenciar e interpretar o conto de formas congruentes ao seu estado de desenvolvimento intelectual e psicológico. Qualquer que seja este estado, o conto de fadas determina a forma como a criança pode transcendê-lo e o que pode estar envolvido na conquista do próximo estágio no seu progresso para a integração madura”.(p. 161-162)

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Pode-se entender, que quando a criança, o adolescente ou até mesmo o adulto lê a estória, dependendo de suas necessidades e momento situacional e desenvolvimental, o conto de fadas, poderá auxiliá-la a fim de que alcance uma maior integração psicológica e bem-estar emocional. Portanto, não existe uma razão que possa determinar o sucesso de Harry Potter. Possivelmente, existam inúmeras razões, cada uma compatível com a necessidade do leitor que leu a estória.

A história narra a trajetória de um menino, que após a morte dos pais, é levado a viver com os tios maternos. Passados muitos anos, nota-se o tratamento diferenciado entre Harry Potter e Duda, o filho natural da família Dursley.

Segundo Bettelhim, “ O conto de fadas começa com o herói à mercê dos que o desprezam e às suas habilidades, que o tratam mal ou mesmo ameaçam a sua vida, como faz a rainha malvada em “Branca de Neve”. À medida em que a estória se desenrola, o herói é freqüentemente forçado a depender de amigos que o ajudam: criaturas do mundo subterrâneo como os anões em “Branca de Neve” ou animais mágicos como os pássaros em “Cinderela”. Quando o conto termina o herói dominou todas as provas, e apesar delas, ele permaneceu fiel a si próprio, ou, ao passar por elas exitosamente, adquiriu sua egoicidade verdadeira.”(p. 159)

Em Harry Potter, o conto começa com a triste vida que Harry vive na casa dos tios maternos, que o rejeitam e o desprezam. Com a entrada na escola de Hogwarts, Harry conta com a ajuda dos amigos, Rony e Hermione, e também das figuras mágicas, como Hagrid e a coruja mensageira Edviges. Juntos enfrentam inúmeros obstáculos e no final saem vitoriosos. Harry se vê no topo das atenções, como aquele que lutou e conseguiu chegar ao final deste processo como vencedor.

Tudo começa mudar às vésperas do aniversário de 11 anos de Harry. Com a chegada de seu aniversário, cartas são enviadas ao menino informando-o de sua aceitação para o ingresso na escola de magia de Hogwarts. Existe toda uma mobilização para que o mesmo não tome conhecimento do conteúdo das cartas, pois estas revelam quem realmente é Harry Potter, seu verdadeiro passado, sua identidade familiar, enfim o informam de sua identidade de bruxo; algo totalmente desconsiderado e abominado pelos tios. Esta passagem sugere a entrada na adolescência, por volta dos 11 anos.

Segundo Aberastury,”A adolescência é um momento crucial na vida do homem e constitui a etapa decisiva de um processo de desprendimento.”(p.15). Segundo a autora, ele ”mover-se-á entre o impulso ao desprendimento e a defesa que impõe o temor à perda do conhecido. É um período de contradições, confuso, ambivalente, doloroso, caracterizado por fricções com o meio familiar e o ambiente circundante.”(p.15-16) A autora ressalta que “ante a iminência das primeiras mudanças corporais e a ansiedade que estes provocam, o adolescente faz uma fuga progressiva do mundo exterior e busca um refúgio em seu mundo interno”.(p.227) Assim, de forma transitória, o adolescente foge do seu mundo exterior para um refúgio na fantasia, no mundo interno, com o aumento da onipotência narcisista.

Aberastury diz que “em nossa fantasia inconsciente, levamos dentro um mundo formado sobre o modelo das pessoas que primeiro amamos e odiamos e que representam também aspectos de nós mesmos. Sua existência dentro de nós pode ser tanto ou mais real em nossos sentimentos inconscientes do que os acontecimentos exteriores.” (p.229) Ela se refere a Melanie Klein, e sua teoria das relações objetais, de que “essas pessoas de nosso mundo interno temo-las sentido e as sentimos individualmente como constituindo partes de nós mesmos; representam o que amamos, admiramos e ambicionamos possuir; constituem os bons e maus aspectos de nossa vida e de nossa personalidade.”(p.229) Para ela, a vida das emoções, presente em nós desde o nascimento, está baseada num modelo simples: tudo é bom ou mau; nada é neutro. Tanto os acontecimentos, circunstâncias, objetos e pessoas, e sobretudo os nossos sentimentos e experiências, sentimos como essencialmente bons ou maus.

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Quando pensamos na família de Harry e na nossa família, inicialmente observamos grandes diferenças.. Quando a criança busca sua independência , rumo à adolescência, ela normalmente precisa atacar, confrontar, agredir os pais, para entrar em contato consigo mesmo e se diferenciar. No caso de Harry, ele deixa para trás uma família que o maltratou, e, encontrou na escola uma “família” que o acolheu. Assim sendo, Harry não teve que lidar com sentimentos de culpa, ao deixar para trás esta família. Pode-se pensar em Melanie Klein, que enfatiza o objeto bom e o objeto mau. O objeto bom é representado pela família de origem de Harry que é refletida no Espelho de Ojesed, no qual é projetado o desejo de Harry, ou seja, a sua família idealizada, que contribuiu para a formação do psiquismo de Harry Potter, através dos aspectos positivos que ela transmitiu para o filho, como: a herança da magia como legado e identidade familiar, a herança financeira como a garantia do futuro e também como prova do amor, da preocupação pelo bem-estar e segurança do filho. O objeto mau é representado pela família substituta, pela forma como esta o trata, desvalorizando-o e desqualificando-o como ser humano, cujos desejos e necessidades são negados.

Segundo Bettelheim, “…. não há objeto mais adequado para pensamentos de vingança do que a pessoa que usurpou o lugar dos pais: na estória de fadas, um pai substitutivo. Se damos curso a fantasias repreensíveis de vingança contra o usurpador malvado, não há razão para sentimentos de culpa, ou temermos uma retaliação , por que aquela figura claramente merece isto. Frente à objeção de que os pensamentos de vingança são imorais e de que a criança não deveria tê-los, devemos frisar que a idéia de que não se deve ter certas fantasias nunca impediu as pessoas de tê-las. Apenas baniu-se para o inconsciente onde o dano resultante para a vida mental é muito maior. Assim, a estória de fadas permite à criança ter o melhor dos dois mundos: pode engajar-se e fluir integralmente das fantasias de vingança contra o pai postiço da estória, sem qualquer culpa ou medo em relação ao pai verdadeiro.”(p.165)

Em todo o processo de adolescência normal, existe o desejo ambivalente de pertencer e não pertencer. Ao mesmo tempo em que o adolescente ama ele também odeia, o que gera enorme conflito. Em Harry Potter este dilema é solucionado através da dissociação (objeto bom e objeto mal) . Na vida real isto não tem como acontecer, ao menos conscientemente, pois o jovem precisa saber lidar com os aspectos bons e maus, seus e de sua família. Ele precisa integrar o lado bom e mau de sua família, e também os seus, o que pode gerar muitos conflitos. Uma das tarefas básicas da adolescência é a busca de uma identidade, o que implica no desprendimento do grupo familiar. Para conquistar esta identidade o jovem se afasta da família, e busca no grupo de iguais, com quem se identifica, a força necessária e o espaço para poder se construir. Todo este processo pode gerar muitos conflitos. Para Harry esta passagem é tranqüila, retratando apenas os ganhos que ele tem com a saída do lar,e como o conto de fadas nos fala de forma simbólica, ele pode afastar-se sem culpa desta família .

Também os personagens centrais da estória, Harry Potter e Lord Voldemort, retratam os dois lados, o bom e o mal. Para Bettelheim, “O conto de fadas nos ajuda a entendermo-nos melhor, já que na estória os dois lados de nossa ambivalência são isolados e projetados em personagens diferentes.”(p. 107) Assim o personagem Harry Potter simboliza o lado bom , enquanto que o Lord Voldemort, simboliza o lado mal. Na estória, existe a dúvida e o mistério sobre o que une Harry a Lord Voldemort, pois as varinhas mágicas dos dois são as únicas feitas pela pena da mesma fênix e ambos tem poderes semelhantes. Mas Harry vence Lord Voldemort, desde bebê, nos mostrando que o bem deve vencer o mal. É curioso pensarmos que ninguém fala o nome de Voldemort, e sim, Aquele-Que-Não-Se-Deve-Nomear. Pode-se pensar que sejam as coisas, sentimentos e afetos negativos, que tanto rechaçamos e reprimimos.

Quando a criança identifica-se com o herói da estória, no caso o bruxo Harry Potter, ela “pode-se compensar – em fantasia e através da identificação- de todas as inadequações, reais ou imaginárias, do seu próprio corpo. Pode fantasiar que ela também, como o herói, pode escalar o céu, derrotar gigantes, mudar sua aparência, tornar-se a pessoa mais poderosa ou a mais bonita – em resumo, fazer seu corpo ser e efetuar tudo o que uma criança possivelmente poderia almejar. Depois que seus desejos mais grandiosos foram satisfeitos em fantasia, a criança fica mais em paz com seu corpo tal como é na realidade”.(p.73) Um dos motivos mais apontados em nossa pesquisa sobre o porquê do sucesso de Harry Potter, foi o fato de ele conseguir superar os obstáculos. No dia-a-dia de nossas crianças e adolescentes, vários são os obstáculos e desafios a serem enfrentados, e identificando-se com o herói vencedor, a criança pode em fantasia, sentir que ela também conseguirá vencer suas dificuldades.

Bettelheim cita Tolkien que descreve as facetas necessárias para um bom conto de fadas. Ele cita a fantasia, recuperação, escape e consolo. Falando do final feliz, diz ser extremamente importante, pois dá a esperança de que ela também poderá se desvencilhar dos seus desesperos. Esta seqüência acontece na estória de Harry Potter.

Com a entrada no mundo exterior a criança dá-se conta das limitações dela e de seus pais. Bettelheim assinala que “Quando isto sucede, os novos desafios apresentados à criança por suas experiências mais amplas são tão esmagadores, e sua capacidade de efetuar estas coisas novas e resolver os problemas suscitados por seus passos em direção à independência são tão pequenas, que ela necessita recorrer à fantasia como satisfação, para não ceder ao desespero.”(p.156). Assim, a criança necessita desenvolver a capacidade para desenvolver fantasias para ultrapassar o presente e alcançar o futuro, o que torna suportáveis as frustrações experimentadas na realidade. Desta forma, quando a criança é capaz de fantasiar (imaginar), surge uma solução para o seu presente, por que estabelecida a esperança no futuro, as dificuldades do presente tornam-se mais suportáveis.

A adolescência se caracteriza basicamente pela busca por uma identidade, é como vamos nos apresentar ao mundo. Para Harry Potter é neste momento que ele descobre seu passado. De uma hora para outra ele deixa de ser um menino rejeitado e passa a ser alguém com poderes especiais, um bruxo.

Assim como na nossa realidade, o adolescente busca seu grupo de iguais, para se auto-afirmar , incorporando falas, vestes, maneiras de ser e agir, também Harry Potter ao se identificar como bruxo, introjeta um novo padrão de comportamento, compatível com seu grupo de iguais. Desta forma ele se fortalece, para prosseguir em busca de sua maturidade e identidade.

Quando pensamos na escola de Hogwarts, que tem no curso de magia 6 anos de duração, podemos pensar que é este o tempo que o jovem necessita para poder se tornar um bruxo. Na nossa sociedade, este ponto corresponde ao fim do ensino médio, e é quando se espera que o jovem esteja pronto para definir o que vai ser quando adulto, ou seja, para gerenciar a própria vida. Observa-se também que, ao final dos 6 anos de estudos na escola de magia, o jovem estará pronto para enfrentar a vida, muito diferente do que acontece nos dias atuais, quando o jovem não tem esta definição clara, nem espaço para trabalho, o que normalmente prolonga a sua adolescência, ou dependência dos pais, podendo gerar conflitos pessoais e familiares.

Quando falamos em busca de uma identidade, podemos pensar na integração do nosso mundo interno.

Dentro da Escola de Hogwarts, Harry Potter pertence à Casa de Grifinória, que tem características próprias, diferentes das outras casas (Sonserina, Lufa-lufa e Cornival). No seu grupo, Harry se relaciona basicamente com mais dois personagens : Rony e Hermione.

Para Bettelheim, “O número três nos contos de fadas parece referir-se freqüentemente ao que é encarado em psicanálise como os três aspectos da mente: id, ego e superego”.(p.131) Na estória, pode-se pensar que cada um dos três personagens representa um dos aspectos do nosso aparelho psíquico: Harry parece retratar o Id, com sua impulsividade, desatenção, superação, a quebra das regras, etc; Hermione representa o Superego, pois é ela quem conhece as regras, o certo e o errado, e é quem sempre questiona se deve ou não fazer determinadas coisas, é a certinha, a estudiosa ; e Rony parece representar o meio termo, o Ego, é ele quem tenta conciliar as diferenças entre Harry e Hermione .

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O ser humano, também necessita integrar estes aspectos, para que ele possa usufruir de uma boa saúde mental e relacional. O adolescente, cada vez mais cedo, começa a querer se mostrar como ele é, e isto implica em conciliar as exigências do id, ego e superego. O pensamento mágico, a realidade, os valores, o certo e o errado. Todos estes aspectos precisam ser integrados, para que o jovem consiga enfrentar os seus obstáculos, os seus desafios, que tanto podem ser internos como externos. Isto vale tanto pra o adolescente como para a criança, e por que não dizer, para o adulto.

Na estória de Harry Potter, todos pudemos nos identificar um pouco, pois todos temos um pouco desta estória. Obstáculos a superar, amigos a conquistar, fantasmas internos a enfrentar, sentimentos de rejeição e inadequação a elaborar, coisas boas e ruins a conciliar, problemas familiares, afetivos e emocionais, pois tudo isso torna-se necessário para nos tornarmos pessoas sadias e humanas, em constante processo de formação e reconstrução.

Poderíamos dizer que muitas vezes, para conseguirmos tudo isto precisaríamos ser mágicos. E que assim como na estória de Harry Potter, também a nossa estória tivesse um final feliz. Esta é a esperança que Harry Potter nos dá.

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As 4 Leis do Universo

  1. Lei da Crença: A crença é o maior filtro. Qualquer coisa que eu acreditar com sentimento, irá se transformar em realidade.
  2. Lei da Expectativa: Também é um filtro, um comando para o seu sistema. Qualquer coisa que você desejar intensamente, irá se transformar na sua profecia autorrealizável.
  3. Lei da Atração: Qualquer coisa que pensar consistentemente você atrairá para sua vida.
  4. Lei da Reversibilidade: Tudo que acontece no mundo exterior é reflexo do seu mundo interior.

SBC – Sociedade Brasileira de Coaching

Janelas do Conhecimento – Diferentes formas de aprender

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Um texto/esquema escrito há 7/8 anos e apresentado para professores explicando e esclarecendo um pouco sobre questões da inteligência. O objetivo era fazer com que os professores encontrassem diferentes maneiras de estimular seus alunos, além de despertá-los para o aprendizado. A partir deste esquema, os professores foram convidados a trocar experiências sobre dificuldades e aprendizagens no processo de ensinar e aprender no dia a dia escolar.

slide03Do que depende a evolução do pensamento da criança?

– Genética e Hereditariedade;

– Saúde, alimentação, saneamento;

– Estimulação ambiental;

– Outros.

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Período Pré-Operatório – 2 aos 7 anos

  • A aquisição da linguagem é a grande característica deste período;
  • É através da linguagem que se operam modificações importantes nos aspectos cognitivos, afetivos e sociais da criança em seu meio;
  • O desenvolvimento da linguagem depende do desenvolvimento da inteligência;
  • O pensamento ainda é egocêntrico:”o meu carro do meu pai.”

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Período das Operações Formais – 11/12 anos em diante

  • Ampliação das capacidades adquiridas no período anterior (reversibilidade, conservação, etc);
  • Começa a raciocinar através de hipóteses com base em esquemas abstratos, executando operações mentais lógico-formais, adquirindo autonomia e consciência;
  • Para Piaget, este é o período em que indivíduo atinge o pico do desenvolvimento do pensamento, variando apenas a expansão e profundidade de conhecimentos.

O que é a Inteligência?

Segundo Wechsler, a inteligência pode se manifestar de muitas formas, e não apenas de forma única e específica, capacitando o indivíduo a agir com propósito, pensar racionalmente e lidar efetivamente com seu meio ambiente. Diferentes capacidades mentais refletem, juntas, a capacidade geral da criança.

slide10Classificação de QI (Quociente Intelectual)

  • Muito Superior – 130 acima;
  • Superior             – 120 a 129;
  • Média Superior – 110 a 119;
  • Média                   – 90 a 109
  • Média Inferior   – 80 a 89;
  • Limítrofe             – 70 a 79;
  • Deficiente           – 69 e abaixo.

Muito além do QI – Tipos de Inteligência

Nem sempre as pessoas mais inteligentes (QIs mais elevados) são as mais bem sucedidas e com melhores resultados nas diferentes áreas do dia a dia. Segundo Daniel Goleman, o QE (Quociente Emocional) é o responsável pelo sucesso ou insucesso das pessoas.

slide13Características de cada tipo de Inteligência

  1. Inteligência Linguística –facilidade de expressão escrita e oral. Apresenta alto grau de atenção e sensibilidade para entender pontos de vista alheios. Relacionada ao lado esquerdo do cérebro.
  2. Inteligência Lógica – facilidade de memorização e talento para lidar com matemática e lógica em geral. Facilidade em resolver problemas. Pessoas disciplinadas e organizadas. Relacionada ao lado direito do cérebro.
  3. Inteligência Motora – talento para expressão corporal, com noção exacerbada de espaço, distância e profundidade. Controle sobre o corpo, com movimentos complexos, graciosos, fortes, com precisão e facilidade. Relacionada ao cerebelo, com foco na coordenação e capacidade motora.
  4. Inteligência Espacial – facilidade para criar. Imaginar e desenhar imagens em 2D e 3D. Extremamente criativos e sensíveis.
  5. Inteligência Musical – facilidade para identificar diferentes padrões e notas musicais, podendo criar novas músicas e harmonias inéditas. Parecem conseguir enxergar através dos sons. Muitos aprendem a tocar instrumentos musicais sozinhos.
  6. Inteligência Interpessoal – extremamente ativas. São os líderes práticos, calmos, diretos, com capacidade de liderar equipes e grupos de forma coordenada;
  7. Inteligência Intrapessoal – Facilidade em entender o que as pessoas sentem, pensam e desejam. Exerce a liderança de modo indireto, através do carisma e das ideias, e não através das ações.

Coaching

Às vezes fica mais fácil entender o que é coaching, sabendo o que ele não é.

Coaching não é terapia, não é aconselhamento, não é treinamento nem consultoria. Coaching é um processo que visa aumentar os resultados positivos de um indivíduo, grupo ou empresa, através de metodologias, ferramentas e técnicas internacionalmente testadas e reconhecidas.

O coaching é focado na melhoria e no aumento de performance (resultados), visando auxiliar num processo de mudança ou transformação de vida, tendo como maior meta a obtenção dos objetivos traçados. Sentimentos e afetos até são trabalhados, mas ficam num plano secundário. São trabalhados missão, propósito, valores, crenças, sonhos, sabotadores internos, fraquezas e forças, oportunidades e ameaças, entre outros. Já a terapia tende a focar nos traumas, pontos de fixação, experiências, vivências, sentimentos e emoções atuais, futuras e passadas. Vale salientar que o coaching é apenas uma metodologia, nem sempre a mais indicada para a pessoa. Inúmeras situações devem ser tratadas com psicoterapia, treinamento, aconselhamento ou consultoria.

O conceito e a técnica de coaching sempre estiveram mais relacionadas ao mundo dos negócios, carreira, altos executivos, empresas e equipes, visando a obtenção de metas estabelecidas e de melhores resultados. É o chamado Coaching Executivo. A técnica tem sido muito utilizada também no plano pessoal (visando melhorias na saúde física, mental, financeira, relacionamentos e até em algumas questões emocionais). É o chamado Coaching Pessoal. Além dos nichos especializados como Coaching de Divórcio, de Peso, de Casamento, etc.

Os maiores objetivos do Coach (profissional que desenvolve a técnica) é fazer com que o indivíduo conquiste seus objetivos, de forma objetiva, efetiva e focada, a fim de que tenha uma vida mais equilibrada, prazerosa e bem sucedida. Para tanto, o profissional utiliza técnicas específicas para auxiliar o indivíduo a entender seu padrão de funcionamento, trabalhando pontos fortes e fracos, buscando a superação de barreiras, que habitualmente impedem o alcance das metas traçadas, descobrindo alternativas para transformar Sonhos e Projetos em Realidade.

Para mim a frase que marca o que é coaching é de que “não existem fracassos, existem apenas resultados.” Bons ou ruins, piores ou melhores.

Sobre a mulher

Há mais de 50 anos, nossas mães e avós sabiam exatamente o que se esperava delas no casamento. Os homens escolhiam as moças bonitas, virgens e sexualmente inexperientes, prendadas, que soubessem cozinhar, cuidar da casa, dos filhos, e se possível, ajudá-los a subir na vida.

Depois da pílula anticoncepcional e do feminismo, o mundo mudou.

A emancipação feminina em pauta desde os anos 60 nasceu em decorrência da invenção dos anticoncepcionais, que separaram definitivamente sexo/prazer de sexo/reprodução, e também, da crescente absorção das mulheres no mercado de trabalho, o que significa independência financeira.

O que é a Emancipação Feminina? Emancipar é dispensar do poder paterno ou da tutoria, tornar independente, dar liberdade à. Emancipação feminina é liberdade e independência femininas.

Como os anticoncepcionais provocaram a emancipação feminina? Sabe-se que as mulheres – no início da história da humanidade – eram o centro, o núcleo da sociedade matricêntrica. Como davam a luz e perpetuavam a espécie humana eram importantes e valorizadas. Não se sabe quando o homem descobriu seu papel na reprodução, mas, segundo estudiosos e antropólogos – a partir desta descoberta – passaram a controlar a fecundidade das mulheres e também a controlá-las como pessoas. Continuar lendo “Sobre a mulher”

Família e Creche – Parceiras na Educação Infantil

Ao longo das últimas décadas temos presenciado rápidas e intensas transformações em nossa sociedade, com importantes mudanças nas funções e relações dentro da família. Como resultado, temos visto o crescente ingresso da mulher no mercado de trabalho. Este fato decorre basicamente da necessidade da mulher contribuir para o sustento financeiro da família, além de propiciar gratificação e realização profissional à mulher, o que acontece, em parte, devido aos novos valores de igualdade entre homens e mulheres.

Paralelas e totalmente ligadas as estas transformações, ocorreram mudanças na família, como a diminuição do número de membros, maior distanciamento físico e psicológico com a família extensa, além de um crescente número de famílias encabeçadas por um único elemento (pai/mãe solteiro ou pais separados). A saída da mulher/mãe para trabalhar fora de casa associada a uma menor rede de apoio, tem levado a família a procurar soluções alternativas e complementares ao cuidado e educação dos filhos, tanto no ambiente doméstico (avós, empregadas, babás), como em instituições (escolinhas, berçários e creches).

Todos sabemos da importância que tem o vínculo e a relação mãe/bebê para o desenvolvimento físico/psíquico/emocional da criança.

Muitos criticam a atitude feminina de deixar seus filhos pequenos ao cuidado de parentes, empregados ou creches, alegando falta de competência materna, egoísmo , até mesmo falta de amor pelo filho. Apesar desta atitude não ser mais tão frequente em virtude da situação econômica e social atual, muitas mulheres sentem-se culpadas e angustiadas e incapazes de educar seus filhos. Passam a delegar para os outros esta função. Em meio à ambivalência e angústia da mãe, em querer ficar e não poder ficar, o relacionamento com o agente substituto pode se tornar difícil, podendo repercutir no comportamento da criança. Ou seja, a mãe pode e deve exigir que seu filho seja cuidado com todo zelo, carinho e atenção. No entanto, ninguém poderá substituir o papel de pai e mãe na educação e formação do próprio filho.

A família exerce um papel importantíssimo no processo educacional, pois é dentro da família que a criança aprende o mundo. Os pais são os primeiros professores dos filhos. Quando a criança vai para a escola, a família espera que a escola cumpra com as funções de educação, socialização e conhecimento. Funções estas – iniciadas com a criança – pela própria família, tão logo a criança ingresse no meio familiar. A função de educar é tanto da escola como da família.

Qual a função da creche neste processo?

Se olharmos para o passado, veremos que a creche inicialmente cumpria uma função mais assistencialista (cuidar dos filhos enquanto os pais estavam trabalhando), passou a ser um local de promoção de saúde e alimentação para as crianças de famílias mais pobres. Atualmente, a creche passou a ser concebida como uma instituição que atua em parceria com os pais e compartilha com eles a responsabilidade pela educação e cuidado integral das crianças.

A creche/pré-escola não são o Hall de Entrada da Escola, mas sim parte do processo de aprender. O período da creche e da pré-escola é um período de aprendizagem e não apenas um período em que precisamos de alguém para se ocupar e cuidar dos nossos filhos. É importante que os pais tenham com a creche e suas educadoras uma relação aberta e boa, onde haja diálogo sobre o dia a dia das crianças, e onde os pais possam demonstrar atenção e respeito com a criança e a educadora. É importante que os pais saibam o que acontece com seus filhos durante o dia na creche, que conheçam o funcionamento da mesma, qual a metodologia aplicada, se a creche é liberal ou não, pois família e creche devem apontar na mesma direção. Não adianta a creche ensinar limites, ordem, noções de higiene, se ao chegar em casa, os pais – por se sentirem culpados pelo pouco tempo que tem com seus filhos – toleram e permitem que estes façam tudo o que querem. Esta postura confunde a criança e atrapalha o processo de aprendizagem, além de gerar conflitos entre pais/criança/creche.

Muitos dos problemas de aprendizagem que acontecem na primeira série poderiam ser evitados se pais e pré-escola realizassem juntos um trabalho preventivo e de orientação. A creche e a pré-escola são tão importantes no processo de aprendizado global das crianças como o é a escola de primeiro e segundo graus, porque as primeiras dão a base para o restante da construção do aprendizado e do conhecimento.

Podemos e devemos contar com a ajuda da escola, pré-escola e creche, mas em momento algum, delegar ou terceirizar para estas instituições a função de educar nossos filhos. Esta é função e obrigação dos pais.

A adolescência e a pós-modernidade

Este texto foi escrito em 2004, como atividade proposta num curso de especialização em Psicoterapia Psicanalítica da Criança e do Adolescente, realizado na UISINOS. Na época, já chamava a atenção o uso e recomendação de algumas bibliografias, que datavam da década de 60. Depois de 40 anos, muitos temas permaneciam atuais. O mesmo acontece agora. Passados mais de 10 anos, as citações e conclusões – daquela época – ganharam mais cor e tonalidade. O que na época parecia ameno, tornou-se hoje, de um colorido ululante e contagiante. A Internet, o WhatsApp, o Facebook e todos os recursos e aplicativos virtuais e tecnológicos tornaram-se mais rápidos e modernos. Tornaram-se virais, disseminaram-se por todas as faixas etárias e classes sociais. Passaram a fazer parte vital do dia a dia de crianças, adolescentes, adultos e idosos. Parte do processo adolescente adulteceu e dominou o planeta.

A adolescência e a pós-modernidade

  1. Introdução

Nunca antes na história da humanidade as mudanças aconteceram de forma tão rápida e universal. Aquilo que acontece aqui no Brasil é instantaneamente sabido no Japão. O mundo se tornou uma grande aldeia global. A tecnologia – mocinha e vilã – une a afasta ao mesmo tempo, nos libera e nos aprisiona, facilita e complica nossas vidas. A sociedade tornou-se essencialmente narcisista, com a adoração do belo, do magro, da eterna juventude. As relações humanas passaram a ser mais egoístas, individualizadas, superficiais e banais. A sociedade consumista gera a eterna insatisfação. A mídia, o cinema, a televisão, os clips, a internet, a música, a moda, os celulares, a gíria, a comunicação virtual, a violência, todos temas afins deste imenso universo teen. O adolescente contemporâneo sinaliza profundas alterações no processo da “Síndrome Normal da Adolescência”.

O adolescente do século 21 está de cara e roupagem nova.

Possivelmente ele seja fruto de mudanças sócio culturais globalizadas, e reflita os desejos e o momento atual de toda a humanidade. Assim como é o jeito adolescente de perceber o mundo – de forma fragmentada e dissociada – onde informações e sentimentos nem sempre parecem ter começo-meio-fim, os flashes teóricos em forma de citações de vários autores, suas linhas de pensamento, ideias e teorias, retratam este jeito de ser. Cada autor, com sua linguagem (semelhante à gíria do adolescente) demonstra sua identidade teórica.

“Temos hoje no Brasil aproximadamente 30 milhões de adolescentes …” (Osório, 1992, p.37)

“Podemos dizer que o adolescente é a modernidade. Modernidade no sentido de abertura para o novo, da invenção de novas possibilidades identificatórias, de construção. Ou seja, a adolescência, longe de se caracterizar apenas como um tempo cronológico de desenvolvimento, coloca o sujeito frente ao impasse de assumir seu próprio sexo e de poder realizar as fantasias edípicas infantis que até então ficavam limitadas ao campo da promessa. Este confronto com o possível, esta reatualização das cenas sexuais infantis faz da adolescência um tempo de “explosão”, nos dizeres de Winnicott, onde o adolescente tem que “assassinar” os pais da infância em sua fantasia, para poder crescer. (Congresso Internacional, 1999, p.281) Continuar lendo “A adolescência e a pós-modernidade”

A família e seu papel na sociedade atual

A menor unidade da sociedade é a família. Ela é fundamental para a formação do ser humano, cumprindo duas funções básicas:

  1. Garantir a sobrevivência da espécie, através da proteção psicossocial (alimento, afeto, moradia, vestimenta);
  2. Transmitir o legado e cultura familiar, promovendo a formação da identidade da criança, através da aprendizagem e comunicação familiar.

Identidade não é a mesma coisa que personalidade. Pode-se pensar em termos de Identidade Familiar. Como em qualquer organização social, também na família existem regras, politicas e padrões de funcionamento. Nem sempre estas regras são verbalizadas ou estão claras. Muitas vezes estão encobertas, e nem por isso, menos presentes. Pode-se transmitir muitas informações mesmo sem abrir a boca. Nosso silêncio pode ser tão importante quanto nossas palavras, pois pode transmitir a ideia de desinteresse, apatia, falta de amor, desinformação. Nossos comportamentos, pensamentos e atitudes transmitem nossas crenças e valores: assim, pais que batem nos filhos, mostram a legitimidade da violência e agressividade; pais que mentem, autorizam o filho a mentir. Chamamos a isso de Linguagem ou Comunicação Familiar. Ela se inicia tão logo entramos na família, o que se dá via nascimento, casamento ou adoção. A criança faz seu primeiro contato com o mundo através da família, primeiramente, através da mãe. Quem transmite `a criança como é feita a interação com o meio externo são os pais, são eles os modelos a serem seguidos, copiados e imitados vida afora. Sua forma de agir, pensar e viver são introjetados como corretos. Quando a criança sai do meio familiar e ganha o mundo, inicialmente através da escola, noções de limite, respeito e moral já estão presentes, tendo como base o modelo parental. Se em casa ela não aprendeu a respeitar as regras e os limites intrafamiliares, esta dificuldade repetir-se-á mundo afora. Numa família saudável, a separação entre gerações precisa ser bem demarcada e clara: pais e filhos não são iguais em termos de autoridade e responsabilidade. Os pais são a espinha dorsal da família e devem garantir a segurança de seus filhos. Isso não quer dizer dominação. Os filhos necessitam de segurança e proteção, que pais sensatos e seguros transmitem através de uma força, que os pais sabem que tem, eles não precisam provar nem para si próprios nem para o filho. Quando o papel de pais e filhos não está bem definido, café provável que os pais busquem na força física ou psicológica um forma de controle e dominação, para deixar bem claro quem manda em casa. Demonstram sim, insegurança para exercer a paternidade e disputam com os filhos o controle familiar. A família tem sofrido profundas mudanças em sua estrutura, assim como tudo que nos cerca. Nestes últimos 50/60 anos aconteceu uma verdadeira revolução mundial em termos de valores sociais e familiares. Para a família acompanhar estas mudanças precisar ser dinâmica a fim de absorver, evoluir e acompanhar todas as mudanças sociais em curso, como também adequar-se `as inevitáveis mudanças do ciclo vital porque passam todas as famílias. Convém fazer um parêntese com relação `as mudanças pelas quais a família passou ao longo da historia da humanidade. No decorrer dos séculos, o casamento era um acontecimento familiar com conotação comercial (o casamento era um negócio). Por volta do século XVIII , aproximadamente 85% das famílias vivia no campo e era o centro da produção econômica: era ela quem produzia quase tudo que consumia (crianças, adultos e velhos dividiam tarefas e trabalho). A criança era vista como um adulto em miniatura. Assim, todos os membros representavam mais um ativo do que um passivo econômico. O trabalho familiar acontecia no próprio recinto ou imediações da propriedade e vizinhança, criando uma convivência próxima. Nesta época quanto mais numerosa a prole, maior a produção econômica (não necessariamente a riqueza), maior a garantia de sobrevivência. Nesta época, não era a família que vivia e trabalhava para seus membros, principalmente em função das crianças, mas ao contrario, todos os membros viviam em função do grupo familiar, que protegia seus membros contra os riscos da existência. Como a família era vista como uma empresa, separação e divorcio não existiam, seria o rompimento desta empresa. Com a industrialização e a urbanização, a família evolui gradativamente, ate os modelos atuais. Vemos hoje, filhos sob a responsabilidade da sociedade, decorrente da desestrutura familiar. No ciclo vital de qualquer família vários são os momentos de crise que podem desestabilizar a homeostase (equilíbrio) familiar: nascimentos, casamentos, morte, divorcio, doença, desemprego … Algumas famílias conseguem crescer, se readaptar e unirem-se cada vez mais. Outras adoecem, focalizando a acentuando o problema, estagnando seu desenvolvimento. O que determina a saúde familiar não é a presença de crises (tidas como normais e necessárias para o amadurecimento familiar), mas sim, a intensidade, rigidez, o momento em que o sintoma aparece. Desestabilizada, a família se utiliza de recursos para recuperar o equilíbrio. Um destes recursos é a sintomatização de um dos seus membros (por serem mais frágeis, adolescentes e/ou crianças podem apresentar sintomatologia como dificuldade de aprendizagem, distúrbio de conduta, etcetcetc). Vale um novo parêntese com relação `a adolescência: o processo em si data de aproximadamente 100 anos, mais precisamente, depois da Primeira Guerra Mundial (1915). Segundo alguns estudiosos, os soldados começaram a se aperceber como uma classe distinta e explorada. Mantiveram esta distinção e rebelião como forma de auto diferenciação protegida, uma maneira de se distanciarem da geração mais velha que estava no controle. Portanto, a adolescência surgiu para satisfazer uma necessidade. Ela é a criação de mecanismos sociais, operando na nossa cultura, e não pode ser considerada fora do contexto social: na época das vovós, gravidez na adolescência X ocupação, geração canguru, etcetcetc. Cada vez mais, os problemas emocionais infantis e adolescentes, são tratados no âmbito familiar, pois é na família que o individuo interage, dando e recebendo influências. Nem todos os problemas emocionais e mentais tem origem na desestrutura familiar, mas importa frisar, que a família pode ser causa, como também, um meio de cura. A criança e/ou o adolescente sintomático não pode ser entendido apenas como vítima da desestrutura familiar. Ela também se beneficia do papel que desempenha nesta família, através dos ganhos secundários (atenção, cuidados, presentes …). Independente de tempo e lugar, a família sempre será de importância capital para a formação do ser humano. Ela vai mudar e se adaptar, vai continuar existindo da forma que for possível, para preservar e manter a espécie humana.

Hormônios

Até o começo do século XVIII, não se conhecia praticamente nada sobre o climatério, já que a expectativa de vida da mulher era baixa. No século I, as mulheres mal chegavam aos 25 anos de idade. No século XX, os hormônios foram descobertos, e a partir de então, iniciaram as pesquisas e as primeiras intervenções no tratamento dos sintomas da menopausa. Considerado uma droga milagrosa, o estrogênio foi aplicado inadvertidamente nos anos 60, provocando o aumento do câncer do endométrio, mais tarde contornado com a administração da progesterona. Atualmente, a reposição hormonal continua sendo assunto polêmico : tem os que defendem, tem os que condenam. Existem vantagens e desvantagens, riscos e contraindicacoes. convém salientar que a terapia de reposição hormonal não retarda o envelhecimento e precisa de acompanhamento médico. Deve ser associada a dietas ricas em cálcio e proteínas e pobres em gorduras e açucares. Os exercícios físicos completam os cuidados básicos desta fase.