Organizando o ateliê

Faz tempo que ando às voltas com aquilo que talvez possa chamar do ateliê perfeito. Algo que não existe. Durante o ano este foi o desafio mais almejado. O projeto mais ambicioso. E tudo passava por uma reorganização de espaços. Coisa que felizmente não me falta. Originalmente, meu ateliê funcionaria na cobertura de casa. Claro e quente demais. Fazer velas era uma visita ao inferno. Scrap, só à noite. Leitura e sonecas eram sinônimos. Aquele lugar maravilhoso não combinava com aquilo que eu necessitava para me inspirar e produzir.

Mas havia um espaço promissor, porém, atulhado de tudo: sucata, material artístico, decoração de Natal, réveillon e Páscoa, material de acampamento, móveis antigos e tudo que se possa imaginar ser possível guardar porque um dia poderia precisar. No subsolo da casa, um lugar fresco e escuro. Perfeito para minhas necessidades. Ou como diria meu marido: perfeito para uma vampira. Que seja. O calor me derruba e a claridade dispara minhas enxaquecas.

Pra começar, retirei todo material distribuído pelas prateleiras improvisadas. Desmanchei as prateleiras. Esvaziei o depósito ao máximo, deixando apenas um armário pesadão e uma mesa com tampo de granito pesadézima.

O primeiro passo foi comprar prateleiras novas. Na internet comprei três delas. Um mês de espera e tempo suficiente para selecionar e descartar materiais, repaginar móveis e pintar, eu mesma, as paredes.

O velho armário da vó Angelina foi renovado. 

Prateleiras e móveis trabalhados e pintados. 

A velha máquina de costura transformada. 

Tudo pronto com prateleiras montadas e espaço pronto pra produzir.

A primeira remessa de arte já aconteceu: Conchas

A segunda está sendo gestada.

Definitivamente, amei meu novo espaço. Cheio de ideias e projetos.

Conchas

Além de inspirar poesias e reflexões e preencher potes de vidro pra decorar a casa, as conchas podem dar um toque muito especial em velas e na decoração de Natal. Em 2017 fiz a primeira remessa de árvores e bolas de Natal, por ocasião de um encontro familiar. Com a reorganização do depósito/ateliê redescobri uma caixa de conchas e uma gaveta com mais de vinte bolas de isopor. Naquela de consumir/aproveitar todo material do ateliê arregacei as mangas, vesti um avental, esparramei o material, fiz um chá, queimei incenso, coloquei um CD da Enya e mãos à obra.

Não tem segredo algum. Nas caminhadas que faço pela praia, tem dia de concha, tem dia que não tem. Lavo-as bem pra tirar o excesso de areia, depois coloco de molho na água sanitária de um dia para o outro, escorro e levo ao sol para secar. Usei dois tamanhos diferentes de base de isopor para as bolas, e dois para os pinheiros e cola quente de boa qualidade para colar. 

Voilá. 

Use da imaginação e se surpreenda. 

Retomando a cerâmica.

Quase um ano sem ceramicar. Meu último registro no blog, data de 03 de agosto de 2020. Estava eu, na época, curtindo meu recém criado espaço pra fazer cerâmica em casa e fazendo as primeiras peças para esculturas de jardim. 

O ano passou. E, quase nada aconteceu. A cerâmica hibernou. Ateliê arrumado, organizado, fechado. Nada de ideias, nem projetos. Nada de esculturas.

Hoje, mais de um ano depois, amanheci inspirada. De onde veio a inspiração, nem imagino. Talvez estivesse entediada de acompanhar a política, o crochê, as leituras e escrevinhações. Talvez precisasse colocar a mão na massa. 

E assim foi: sem grandes programações ou projetos, decidi fazer pit pots maiores e cheios de estilo que vão para a mesa do “cheff”, assim como as travessas. Se ficarem boas. 

Talvez amanhã, as peças estejam em ponto de couro e comece a modelá-las. Depois esperar secar, a primeira queima, a esmaltação e a queima final. Enquanto isso vou produzir mais peças – naquela “wibe” de consumir meus materiais – algo em torno de 30 kg de argila. 

Visualizo mais travessas, bacias, pit pots, panelinhas … 

Voltar a frequentar algum ateliê. Uma possibilidade.

primeira etapa

Ecologia caseira

Tenho um marido ecológico, como diria uma amiga, cujo marido é igual ao meu. Aposentado, é ele que insiste em ser o jardineiro da casa. Numa rápida avaliação diria que ele é ótimo com as gramas: no corte, poda e adubação. Com relação aos canteiros, uma lástima. Tudo que germina vai crescer e florescer. Desde as sementes defecadas e espalhadas pelos pássaros, até as plantas que brotam, crescem e se esparramam por todos os lados. Ninguém pode mexer. É a natureza. E assim, as fênix mais parecem buxos gigantes, as Costelas de Adão sobem paredes, os bambus viraram paliteiros no jardim, as experiências com plantas se reproduzem em escala industrial, as orquídeas viraram uma cidade de vasos, e, sempre, segundo ele (de vez em quando, segundo eu) tem uma orquídea raquítica florescendo. Tem os dinheirinhos e outros inços, que de vez em quando, são tirados à faca. Nossos amigos, quando vem nos visitar, sofrem pra chegar na área de entrada da casa: além da escada em V (um erro grosseiro de arquitetura) ainda precisam desviar das Costelas de Adão, pois é inevitável não roçar nas folhas gigantes da planta que avança sobre os degraus. Não sei exatamente o que aconteceu, pois fui eu quem comprei as Costelas de Adão, pensando que fossem do tipo mini: ou me enganaram/enganei com as mudas ou foi excesso de adubo. Só sei que minhas plantas favoritas são as Senhoras da Entrada da casa, postadas feito cavaleiros medievais em suas armaduras de aço. Depois de anos tolerando todos os excessos pelos quatro cantos da casa e abrindo mão de um dos grandes prazeres de estar e contemplar um belo jardim, dei um ultimato: ou meu marido  muda o jardim ou eu mudo. Dia a dia vou olhando com o rabo do olho todas as possibilidades e começo a projetar uma enorme reforma no jardim. De uma coisa, tenho certeza. A transformação vai acontecer. Ou muda o jardim, ou mudo eu. De casa.

Na finaleira

Enfim, depois de quase 3 meses, chegou a hora dos albinhos, fotos soltas, postais e lembranças de viagem … lembranças dos tempos em que as fotos eram analógicas: revela filme + revela foto = poucas fotos boas; muitas fora de foco, fotos preto e branco amareladas, fotos da velha e amadora Instamatic. Sim, eu tive uma!!!!! São fotos e mais fotos. A ideia é olhar todas, organizar e selecionar. Sucatear aquelas que pouco mostram (chãos, verdes, vultos). E depois preencher e completar os albinhos.

Programar a próxima etapa é tarefa para março.

Por onde começar?

Ás voltas com meu atelier, scraps e outras artes, observei a quantidade de material estocado em gavetas, armários, caixas e prateleiras: lãs, linhas, papeis, argila, pastilhas de vidro, etcetcetc. Defini assim que uma das metas deste ano é consumir o máximo deste material. Tem trabalhos iniciados e não finalizados. Tem material comprado que nunca foi utilizado. Hora de organizar a agenda e encaminhar ideias e projetos que se perderam no tempo.

Assim, neste período de limpeza e restauração, reparei vários álbuns de scrap iniciados, inacabados e abandonados. Entre álbuns comuns e antigos, mini álbuns e álbuns de scrap e foto-livros, encontrei 3 caixas de fotos, devidamente separadas e arquivadas naqueles velhos álbunzinhos que as lojas que revelavam e ainda imprimem fotos, costumavam dar de brinde. São fotos de outros tempos e outras tecnologias. Então, exagerada que sou, sei disso, resolvi que deveria digitalizar todas estas fotos antigas. Uma meta megalomaníaca, à princípio, terceirizada. Por ora. O tempo vai me dizer se vou precisar aprender a usar aquele aparelho que digita fotos – o Scanner. Com ele virão outros aprendizados …

Sei que a meta é bem ousada … Ando fora de forma com o scrapbooking. Muitos materiais estão vencidos. Desaprendi como operar alguns equipamentos … Mas, de uma coisa tenho certeza: preciso me organizar e dar o primeiro passo. 

Pq tudo começa assim: planejamento e execução.

Janeiro foi o mês de preparar o Planner: finalizado e em uso.

Fevereiro, a princípio, está reservado para finalizar a reforma e limpeza dos álbuns e fazer um balanço de fotos e álbuns a serem finalizados. Talvez adentre março … Depois deste balanço, finalizar álbuns inacabados é a próxima etapa. Tem os mini-álbuns para o Natal … Nos meus planos, talvez mirabolantes, um álbum por mês, parece meta possível. Talvez seja necessário reavaliar o processo. Bem provável.

Aprendi que é melhor parar, descansar e dar um tempo – em qualquer projeto ou meta determinados – do que desistir. Nada a ver com procrastinação. Apenas um respiro. Aprendi também que preciso de estímulo e cobrança pra fazer as coisas acontecerem. Por isso, um post com o passo a passo do scrap mensal deve servir de registro e estímulo e comprovar o cumprimento da meta.

Quando o verão passar

Depois de um mês, ontem foi dia de visitar minha mãe no RS. 

Em meio ao calor marciano, talvez vulcano, ou como diria uma amiga, tá tão quente que parece que estou abraçada ao sol (entendo a insanidade dela, sinto-me igual). O calor do RS pode ser tão medonho quanto o inferno, digo, inverno. Aliás, pra quem não sabe, no RS existem quatro estações muito bem definidas: primavera, verão, outono e inverno. Meu xodó é o inverno, o equilíbrio está nas duas meias estações (outono e primavera) e o verão é o calvário do ano. Mas, ele passa. E quando passa, a felicidade pelas estações que seguem à frente é muito bem vinda e aproveitada. E entre um calor insano e outro, despencam aquelas chuvas de canivete que só quem mora num país tropical conhece. Calor demais + chuva demais = a natureza perde suas medidas, seus modos e dimensões.

Na casa de minha mãe, fui passear no jardim – reformado de julho a outubro, cuja maior proeza foi retirar sete caminhões, tipo toco, de entulhos, árvores e plantas, o que reconheço e não me arrependo, pq o resultado compensou – e percebi o quanto a natureza metaboliza bem o excesso de sol e de chuva. Em todos os canteiros, no recém plantado gramado, nas áreas ainda não trabalhadas, o inço e as plantas cortadas e remanejadas aproveitaram o verão pra se expandir e mostrar sua força. Pequenas plantas, arbustos e árvores simplesmente voltaram a brotar e ocupar seu antigo espaço. Aqui e acolá vejo folhagens e galhos de flores crescendo e vicejando. Nem aí para nosso esforço de reformulação e paisagismo clean e contemporâneo. Sem contar as tiriricas. Malditas tiriricas!!!!!!

Sempre em comum acordo com minha mãe, a verdadeira proprietária do jardim botânico que é o jardim da casa dela, concordamos em deixar tudo florescer e aparecer. Quando o verão passar, a gente resolve o que fazer com as plantas indisciplinadas que não aceitaram suas novas posições e lugares. Com exceção das “flores da vovó” que surgiram por toda parte. Cortá-las incitou-as a vir com mais força e determinação. Elas são as preferidas da minha mãe e se crescessem no colo dela, era lá que deveriam ficar. Nem pensar em arrancá-las e replantá-las.

Não me atrevi a contestar, sequer a pensar na questão das flores da vovó ou Gengibre-Azul ou Trapoeraba-azul no colo da minha mãe. O calor cozinha meus miolos e dizima qualquer tipo de esforço físico ou mental. Resolveremos entre março, abril ou maio. Não estou preparada, nem animada para um mal-educado bate-boca entre mãe e filha. Deixamos estar por enquanto. Pra retomar o jardim, preciso no mínimo, de energia de persuasão. Neste momento tudo que quero é piscina e ar-condicionado neste caldeirão escaldante que é o Vale do Rio Taquari, no RS. 

O jardim vai esperar. Mil ideias vão brotar.

E, em se tratando de natureza, tudo tem o seu tempo. E sinceramente, não é tempo de desencavar o gengibre azul. 

Limpando álbuns de scrapbooking

A cada ano, no máximo dois, no período de férias de verão, normalmente quando minha mãe vem passar alguns dias na casa da gente – e ela adora e não abre mão de ver, absolutamente, todos os álbuns da família – aproveito e vejo também.

É sempre uma delícia. O que seria do passado, das histórias, das caras e bocas de todos nós se não pudéssemos revê-los e reinseri-los em nossas vidas? Mesmo aquelas fotos antigas, com péssima definição e resolução, fora de foco, borradas ou apagadas são motivo de risos e muita saudade.

Esse é o lado bom da coisa.

O lado ruim é que álbuns e fotos requerem cuidados, consertos e renovação. 

Esse ano, por conta da pandemia, minha mãe não veio passar nem Natal, nem Ano Novo, nem férias em Floripa. Optamos por deixá-la no interior do RS, onde a COVID19 está sob controle, e ela, aparentemente segura.

Mesmo assim, e talvez para deixar tudo preparado e arrumado para sua próxima visita, retirei todos os álbuns e caixas de fotos dos armários e os levei ao meu atelier. Primeiro para arejar e pegar sol – a melhor arma contra o mofo. Segundo para ir avaliando o tamanho do estrago e quais medidas e recursos seriam necessários para enfrentar a empreitada. Num primeiro momento, pensei que em 15 dias estaria tudo organizado e recolocado em seu devido lugar. Passaram-se dois meses e vários itens continuam à espera de conserto. A meta inicial era arrumar, limpar  e consertar os álbuns. 

O inimigo maior, à beira mar, é o mofo. Nos álbuns de scrap, as capas plásticas estão emboloradézimas e os plásticos que acomodam as páginas internas, também. Mais fácil, óbvio, seria trocar todos os plásticos. O externo e os internos. O problema são os tamanhos, o espaçamento dos furos para encadernação, a disponibilidade e o preço. Optei pelo trabalho braçal e manual: demorado e cheio de tentativas e erros.

A primeira experiência foi colocar os plásticos de molho em água com detergente, lavar com esponja, deixar escorrer e depois secar. A segunda foi usar álcool. Ambas tiveram resultados sofríveis: plásticos lambuzados, manchados e cheios de felpas. Por orientação de uma amiga professora de scrap, usei vinagre concentrado (próprio para limpeza) embebido em pano e depois sequei com papel absorvente.  O melhor resultado até agora.

Com os plásticos limpos é hora de substituir fitas dupla-faces vencidas e colar folhas, fotos e acessórios soltos, pq com o tempo, a cola/fita dupla-face resseca e descola.

E assim, retomo aos poucos, um velho e apaixonante hobby.

Um scrap-planner pra iniciar 2021

Para o ano, um Planner. Que seja prático e bem utilizado.

Para o Planner, material antigo, restos de papel, fita dupla-face, cola especial para scrapbooking, um pouco de inspiração e algum trabalho. 

Ando às voltas com meu atelier, arrumando e organizando materiais de todas as artes que me tocam. E sim, percebi que não escrevo, nem faço scrap há uns 3 anos. Outras artes tem me envolvido mais. 

E o scrap é um dos objetivos do ano: reformar, limpar e fazer álbuns novos. Alguns. E o Natal, como venho percebendo ano após ano, é logo ali. Redescobri nas prateleiras e fundos de gavetas, páginas e álbuns iniciados, mini-álbuns e material do Extravagance 2013, intocados. Visualizo presentes inesquecíveis para pessoas  igualmente inesquecíveis em minha vida. Os álbuns-presente de Natal e suas providências (basicamente a impressão de fotos) estão sendo devidamente anotados nas páginas de Planos&Metas da Planner, que aparecem no início de cada mês. Ainda não sei bem por onde começar … ou melhor, até sei. O primeiro passo é fazer um levantamento de fotos já impressas, encontrar os diários de viagens, escrever os textos, reconhecer e separar os materiais, e … a ideia é boa. 

O Planner é o projeto de janeiro. Concluído.

Planner – planejando e organizando o ano com scrap

Nos últimos anos, depois de deixar a vida profissional, sei lá, em 2º ou 3º ou 4º plano, passei a usar agendas com base em scrapbooking. Em 2020, como aconteceu nos anos anteriores, comprei a base da agenda em loja de scrap e usei-a o ano inteiro, sem preparar capas e sobrecapas em scrap, que ficaram “in natura”: todas brancas. Engana-se quem pensa que o ano passou em branco, como as capas  da agenda. 2020 rendeu de montão. Dentro da agenda, quase todos os espaços foram usados para anotar listas de providências, textos, poesias, projetos de paisagismo, de cerâmica, datas de consultas, telefones, informações … anotações das mais diversas resumem bem o agito que foi 2020. 

2021 iniciou e fiquei sem as agendas tradicionais. No loja de Jurerê onde compro este tipo de material só restaram os Planners. Adorei a ideia. Sequer sabia que existia este formato para scrap. Gosto deste tipo de agenda que mostra a semana inteira em duas páginas. Desgosto pela falta de espaço para qualquer outro tipo de anotação. 

Como cada vez mais preciso de óculos para ler qualquer alfarrábio, ando escrevendo com canetas hidrocor, em tamanho XXXG, bem ao alcance dos olhos. Óbvio, inviável ao espaço do planner, que  não acomoda anotações deste calibre. 

Para contornar este quiprocó, a ideia é usar um caderno de anotações auxiliar e ver o que acontece. Nada mais que uma recomendação do meu professor de Escrita Criativa, Tiago Novaes: ter sempre à mão um caderno de anotações pq ideias boas surgem em qualquer hora e lugar. E, assim como minha visão não  se equipara mais a de uma águia, minha memória também não se equipara mais à qualquer formato de agenda.  

E, como todos sabem, ideias boas, assim como vem, vão.

E 2021 promete tanto, ou mais agito, que 2020. 

Bora preparar o Planner.

A sala de estar

Já comentei sobre a Sala de Jantar e a Sala da Lareira. Recantos carregados de lembranças, velharias e muito aconchego. 

Mas o lugar que mais ocupo e gosto, no meu xangrilá gaúcho, é a Sala de Estar. É onde tomo café da manhã e vejo o sol nascer, onde leio e escrevo entre sonecas e devaneios, escuto música clássica e velhos LPs, onde telefono e recebo amigos, medito, converso sozinha, admiro a natureza e fico de olho nos gatos que vem mordiscar a ração comprada exclusivamente para eles. 

Gosto de me ver como a Mulher do Casarão, aquela que alimenta os gatos da vizinhança. Aquela que vem de vez em quando e retira a placa de VENDE-SE e se instala cheia de orgulho na casa abandonada, das gramas inçadas e descontroladas, cercada de lajes sujas e encardidas, arbustos fora de corte, palmeiras com galhos caídos, unhas de gato agarradas e largadas pelos muros. Pouco me importa o que pensam de mim ou da minha casa. A gente se gosta assim mesmo. E gosta também dos antigos vizinhos que vem saber das novidades. Tudo bem com vcs? Vão voltar? Já venderam a casa? Vai ficar quanto tempo. Vizinhos, que assim como nós, estão envelhecendo, com os netos chegando e as casas tentando se ajustar a novos tempos e rotinas. A gente se olha e se entende.

É deste ponto da casa que vejo o movimento do bairro: os carros que vão e voltam do centro, quem caminha, quem trabalha, as crianças que conheci e viraram adultos, os que engordaram, enfeiaram, ficaram mais bonitos, quem passeia com cachorros, quem vive ao meu redor…

Comigo chegam a faxineira, o jardineiro e o piscineiro. Juntos colocamos quase tudo no lugar, em um ou dois dias. Ou quase. Volta e meia cometo alguma extravagância e incremento com alguma novidade. Ou compro, ou restauro, ou pinto uma tela nova, ou troco tudo de lugar … faço algo acontecer pra dar vida ao lugar que ficou em silêncio por algumas semanas.

Pra remontar esta sala reaproveitei vários móveis antigos de uso próprio: panos foram trocados, o sofá recebeu assento de futton, as poltronas de rattan foram pintadas de preto, o lustre recebeu lâmpadas de filamento, a mesa de centro foi restaurada … e, por enquanto, as únicas peças de outros tempos, são a base do aparador e a cadeira preguiçosa da Velha Mári. O pé de uma máquina de costura antiga e perdida pelos porões da casa de minha mãe serviu muito bem para acomodar a prancha de madeira, comprada numa serraria da região, e meu velho aparelho de som. E a cadeira preguiçosa da Velha Mári dá o clima do lugar: preguiça e descontração.

Amo este espaço e tudo que ele me inspira.

As cores

Amo. E desde sempre. 

Aprendi a gostar do preto. A cor do luto. Do velho. Da tristeza.

Tornou-se chique. Básico. Sem erro. Assim como os tons em cinza. 

Tolero cada vez mais os beges. Teoricamente, combinam com tudo. 

Assim como o branco.

Com o passar dos anos o preto se instalou e dominou meu armário. 

Outros tons neutros começaram a chegar também. 

As cores vibrantes viraram acessórios:

Bolsas, sapatos, lenços, colares, anéis, mantas, cachecóis …

Esta invasão de básicos dominou quase todos os espaços.

Logo eu que sempre fui dos vermelhos, pinks e verdes bandeiras.

Logo eu que via no bege, a falta de opinião.

No preto, a preguiça da escolha.

No cinza, o preto desbotado.

Lá de vez em quando, solto matizes.

Volto aos vermelhos. Ao impacto da cor.

Os extremos e os vermelhos cansam.

Busco o meio termo. Encontro e descanso.

Lá de vez em quando, solto os matizes.

Monstros e fantasmas se encontram.

A sala da lareira

É a alma da casa. Central em todos os sentidos. É quem me chama para as temporadas de inverno e as noitadas em frente à lareira: um bom vinho, meditação, livros ou crochê/tricô/bordado. Um lugar de descanso. De pensar na vida, envolvida por labaredas e espocar do fogo. Já arrastei colchão pra dormir em frente ao calor do fogo. Já arrastei sofá pra me acomodar melhor. Mas melhor mesmo, é sentar na poltrona com as pés beliscando o fogo forte que sobe em labaredas nada singelas. Botas já se retorceram com o poder do fogo. Amo este fogo rebelde e o alimento sem dó. Sei que a lareira aguenta. Ela me mostra a força do elemento fogo. 

Para este espaço pintei com tinta acrílica semi-brilho preto as primeiras poltronas Sacarro que comprei, lá pelos idos anos 90; trouxe o antigo tapete egípcio (todo salpicado por fagulhas de fogo, a história de anos e anos farreando em frente ao fogo). A mesa de apoio é um pedaço de tronco de uma árvore de noz-pecan, trazida da casa de minha mãe. Talvez um dia, eu a queime na lareira, afinal, foi por isso que eu a trouxe para casa. Mas, com minha mania de adaptar, adequar e reciclar, transformei o tronco numa mesa de apoio. Por enquanto, está perfeito. Assim como o telefone, do tempo da venda do meu avô Eugênio. Tempo das telefonistas, das ligações encomendadas, dos papos rápidos com o namorado.

Se este telefone falasse!!!!

O lustre foi um presente/descarrego de alguém que conviveu muitos anos conosco e saiu de nossa convivência. Obrigada Patrícia. Por cuidar do meu filho e pela lembrança que ilumina este espaço cheio de energia.