Aquela caneca com asinha estranha

Quem não conhece a expressão “Não tem bitu, vai tu mesmo?”

Adoro a caneca trazida do Santuário dos Elefantes, na África do Sul. Uso-a diariamente e ela foi inspiração para uma caneca feita em 2017. Como não conseguia encontrar quem fizesse uma alça diferenciada, a caneca de argila cor de porcelanato, serviu como porta-canetas por muito tempo.

Até que surgiu um arame.

A inspiração viu.

E agora, tenho uma versão pessoal daquela caneca africana no meu ateliê.

Retornando às aulas de cerâmica

Retorno às aulas é tudo igual. Não importa idade, não importa curso, nem série nem ano. Importa ir com material em ordem: comprado, arrumado ou lavado. Lancheira, caixa de ferramentas/apetrechos e uniformes seguem na mesma toada. Tudo a postos.

E lá vou eu.

Depois de 5 anos, decidi retomar minhas aulas com a ceramista Vânia Bueno. Apesar dos pesares, nestes anos todos, entre desistências e recomeços, entre aulas experimentais, cursos ocasionais, professoras indicadas e trabalhos autorais, meu retorno ao ateliê da ceramista era uma questão de voltar a fazer trabalhos com estilo e técnica. 

Combinamos de fazer aulas quinzenais, ou, duas aulas por mês. Começando com aulas de torno elétrico. Uma falha gritante na minha formação até este momento. E a primeira aula me remeteu à primeira de todas as aulas: uma sensação de total estranheza e uma certa insegurança quanto ao fazer cerâmico.

Lembro que saí daquela fatídica aula sem saber se retornaria. Possivelmente só retornei porque odeio deixar trabalhos inacabados. De pouco em pouco, a estranheza foi diminuindo e os resultados, aparecendo. É esta sensação que me dominou neste novo recomeço.

O que dizer do trabalho no torno elétrico?

Nada que um vídeo não esclareça com todas as letras, sons, atrapalhações e muuuuuuita sujeira. Se eu soubesse como postar.

Mas, como dizem, a prática leva à perfeição; estou contando com isso.

Tanto para o uso do torno, como para fazer e postar vídeos

Aquele armário antigo mudou de novo

Mais uma vez mudei o armário antigo da vó Angelina. Depois de resgatado de um galinheiro, gastei uma pequena fortuna para restaurá-lo. O restaurador garantiu que valeria a pena. Não valeu. Mal acomodei o móvel, o cheiro de rato e os farelos de cupim impregnaram o ambiente, e me obriguei a ser radical. Muita tinta foi usada e desperdiçada para amenizar o odor. Gimo cupim também. Ficou um horror.

Deixei o tempo passar e levei o horror para a garagem de casa. Usei produto extraforte, um removedor de tinta esmalte, e deixei a peça livre para qualquer ideia/inspiração que surgisse. Fui de provençal. Arranquei e joguei as portas tomadas pelos cupins no lixo, mandei fazer prateleiras de fórmica e adaptei o armário para o ateliê. Ele seria o depósito de materiais de arte. Num primeiro momento agradou. Mas, com o passar do tempo, o branco provençal começou a manchar e escurecer.

Quando reformei meu ateliê, voltei a trabalhar no dito cujo armário da Vó Angelina. A ideia era ousar nas cores e usá-lo para acomodar o material de Scrapbooking.

O restante dos materiais seria armazenado nas prateleiras recém compradas na Leroy Merlin.

Por ora, a quarta mexida no armário foi a que mais me agradou.

Vida longa ao velho armário da vó Angelina. 

Incensando

a vida inspira a arte. a natureza também.

tempo de deixar a argila descansar, repousar e secar.

hora de repousar também.

iniciei a contagem regressiva para o fim do verão.

o limite me avizinha.

ando sonhando com o frescor das manhãs de outono.

sonhando com o cheiro de mato orvalhado.

incensando aromas de musgo, árvores e folhas.

oh outono!!!! cadê tu?

chegue logo. chegue.

Um trabalho inacabável

Não lembro quando iniciei esta manta feita de círculos de crochê. No mínimo, 4 anos. Entra ano, sai ano, e lá vou eu futricar na dita cuja. Que anda a passos de tartaruga.

Dias atrás, finalizei todas as rodelas com a borda preta. Próximo passo é costurar uma a uma até que a manta/colcha seja finalizada. Ou seja, a parte de crochê está pronta. Acho. 

Se bem que, pensando bem, como vai ser, quando todas as rodelinhas estiverem costuradas? A borda vai ficar toda ondulada!! Vou arrematar com crochê ou com franjas?

Tictac tictac tictac …

Vou lá: tem muuuuuuita rodelinha pra costurar.

Onde eu estava com a cabeça quando iniciei esta manta tão trabalhosa? Delirando, no mínimo.

Continuo delirando, pensando possibilidades … manta? Xale? Colcha? Roupa pra árvore? Pq não? Me embrenhei neste pântano e preciso encontrar alguma saída que me satisfaça.

Quando estiver 100% pronto o que eu for decidir fazer com todo este material, vou postar por aqui.

A única recomendação garantida: espere sentado ou deitado. Pq vai demorar.

Cerâmicas orgânicas

A produção 2021, absolutamente autodidata, foi presenteada em 2022. Filhos e amigos, penso eu, agradecem. 

Aos poucos, 2023 vai se mostrando. 

Mexe daqui, mexe dali, eis que encontro mais restolhos de argila. São restos e peças quebradas (não queimadas) que foram deixadas numa caixa e sumiram nos fundos da prateleira do ateliê. Quando as descobri, logo me animei. As últimas peças foram finalizadas em 2021, e no Natal de 2022, fizeram a alegria de filhos e amigos. Me desfiz de algumas peças próprias, com a certeza de que faria novas. 

E assim será.

Hoje me animei e fiz, nada mais nada menos, oito peças. Terracota, preta e porcelanato. Oito peças orgânicas, feitas enquanto as aulas de cerâmica não recomeçam. Adoro estas cerâmicas que nascem do improviso e do simples amassar do barro. Neste ano pretendo caprichar mais na parte final de todo o processo: tanto a esmaltação como a última queima ficarão aos cuidados da minha primeira professora, a ceramista Vânia Bueno, com quem pretendo retomar aulas quinzenais já na próxima semana. 

Pacientes e mídias sociais 1

Dias atrás me dei conta que perdi dois pacientes por postar material político no Instagram. Não sei como minhas mensagens foram parar lá. Além de usar pouco esta mídia, sei que vários pacientes meus a usam. Sinceramente, devo ter dado um tilt, ou, as mídias se espelharam em algum momento. Nada está flegado, então não faz sentido. O fato é que aconteceu. Quem comentou comigo foi minha nora, usuária assídua do Insta. Pelo menos entendi por que motivo os dois pacientes – de longa data e bem engajados no tratamento psicoterápico – abandonaram suas terapias. 

Pior é que eu sabia que este assunto chegaria ao consultório. Tinha até um discurso preparado. Espero que ambos voltem, e que, mesmo atrasada, eu possa lhes explicar meus motivos para minha posição, além de trabalhar uma série de questões como confiança, respeito à opinião alheia, preconceito, etcetcetc.

Política, religião e time de futebol são temas sensíveis para quem é profissional autônomo. Sempre evitei qualquer um destes temas e pouco me posicionei. Neutra, bege, não fede nem cheira. Esta era eu com relação a estes temas. 

Sou colorada e convivo bem com os gremistas. Piadas e congratulações povoam nosso relacionamento desde sempre. 

A mesma coisa com religião. Respeito todas e sempre me senti respeitada. A crença do outro é sagrada para mim.

Penso que são temas pacificados para a maioria das pessoas. Fanáticos existem e existirão sempre. 

A política é tema novo. Adormecido há anos, explodiu em 2018, e de lá para cá, não existe consenso nem meio termo. É guerra de informação, narrativas, enganos, mentiras, agressividade e muito desrespeito. De ambos os lados. 

Acredito que o tempo, respeito e o diálogo serão o antídoto para amenizar o mal estar, as intrigas e rompimentos que tem sido inevitáveis nestes últimos tempos.

Neste ambiente de polarização e sendo uma profissional autônoma vivo um grande dilema: mantenho postagens de política ou volto a me abster do discurso político brasileiro? Dia após dia vou amadurecendo meu posicionamento. 

Sou a favor da troca de ideias, projetos e visões de mundo. Política se aprende em casa no trato, combinações e acertos entre todos os membros da família: marido e mulher, pais e filhos, entre irmãos, etcetcetc. Entre amigos. No trabalho e em todos os espaços onde acontecem relacionamentos humanos a política está presente. Aliás, o que seria da política da boa vizinhança se assim não fosse?

Ando tanto com a perna direita quanto com a perna a esquerda. Sei que minha mão direita domina a esquerda. Não sou canhota.Minha mãe e minha filha são. Já meu olho direito sofre mais do que o esquerdo. Os graus elevados de astigmatismo, hipermetropia e estrabismo são essencialmente destros. Temos órgãos essenciais a esquerda e à direita: pulmões, rins. Membros, idem. Ninguém vive sem os dois lados: a esquerda e a direita.

Espero que os opostos se entendam e aprendam a conviver em harmonia. 

Atendimento online de casais

Já estava atendendo individual online, há pelo menos um ano, quando um casal de brasileiros, morando em Londres/Inglaterra entrou em contato para fazermos sessão de casal online. Eles haviam acabado de retornar à capital inglesa depois de passarem um mês na casa de familiares aqui em Jurerê. Haviam me encontrado pelo Google e decidiram entrar em contato quando estivessem prontos para iniciar um trabalho terapêutico.

Num primeiro momento, fiquei apreensiva. Nunca havia atendido casal no formato online. Mas, como o casal estava em Londres e eu no Brasil, era a única forma possível. Marcamos a sessão. A duração da psicoterapia foi breve, com reencaminhamentos para atendimentos individuais de cada um dos membros do casal. O mesmo, teria acontecido se o atendimento fosse presencial.  A psicodinâmica do casal exigia que cada um tivesse um espaço pessoal de atendimento. Desde então, outros casais toparam esta modalidade de atendimento com excelentes resultados. Costumo fazer um período diagnóstico, no qual uso duas ferramentas chaves: um questionário de avaliação e, sempre que possível, o genetograma familiar (o mapa familiar das duas famílias, em paralelo) de cada um dos cônjuges. Utilizo papel A3 e faço o mapa de cada família. O objetivo é perceber casais que tem o mesmo padrão de funcionamento do casal em atendimento. É muito interessante, impactante até, o casal perceber que está repetindo a história de outro casal da família de um/outro/ambos. Tendemos a reproduzir comportamentos e relações familiares (pais, avós, tios) por identificação. Mesmo na sessão online, faço este mapa. O cônjuge vai me apresentando sua família e vou montando o esquema(mapa) que depois é enviado a cada um dos cônjuges, via e-mail. O mesmo é feito com o questionário. Num primeiro momento, mando o questionário, que é respondido individualmente em casa, depois me é enviado via e-mail. Costumo imprimir uma cópia de cada questionário, para ter o material em mãos. As 19 perguntas do questionário retratam o histórico do casal e do conflito.  O importante é a troca de informações: o entendimento do universo de cada um, decepções, frustrações e expectativas. 

Depois a psicoterapia segue os moldes do atendimento individual online. Com os mesmos prós e contras multiplicados por 2. 

Apesar de gostar muito do atendimento online, enquanto paciente/terapeuta, percebo que a maioria dos pacientes ainda prefere o modelo presencial. Casais ainda mais. O que muitas vezes define a escolha da modalidade é a questão do horário. Tem de haver a sincronia entre a disponibilidade de horário do coworking, do terapeuta, do paciente A e do paciente B (os cônjuges). Um equação nem sempre fácil de resolver. Outro fator é a diferença de preço. No atendimento online, praticamente não existem custos. No atendimento presencial, além da taxa paga ao coworking, existe o gasto de combustível para chegar ao local do atendimento, estacionamento, etcetcetc, algo em torno de 25% do valor da sessão. Esta quantia, acaba sendo incorporada ao preço final do atendimento.

Potes de conchas

Para quem mora à beira mar, não podem faltar elementos praianos na decoração da casa. Conchas, principalmente. Em Jurerê onde moro, nem sempre o mar nos oferta com conchas. Existem períodos em que vc não encontra nenhuma. Outros em que são encontradas conchas pequeninas. E existe o período em que as grandes aparecem. Pra quem presta atenção, sabe que por aqui as conchas grandes dão o ar da graça nos meses de outono e inverno. Nem todos os dias. Mas tem dia que a praia fica tapetada de conchas estilosas, de formatos, cores e texturas bem diversificadas. Adoro estes períodos. Mas não deixo os outros períodos passarem em branco. São as conchas pequenas que fazem o acabamento de qualquer trabalho artístico/artesanal. Por isso, não dispenso nada de interessante que o mar oferece. Nem mesmo conchas quebradas. São elas que podem fazer o encaixe perfeito. 

Além das bolas e pinheiros de Natal, adoro distribuir pela casa, em mesas, aparadores, bancadas, prateleiras, estantes e criados mudos, potes de vidros recheados de conchas. Como a colheita é feita de pouco em pouco, aos poucos os potes vão se enchendo e se multiplicando pela casa. São estes potes que irão fornecer a matéria prima para produzir tudo que a inspiração praiana mandar. E projeto é o que não falta.

Por hora, o negócio é abastecer os potes. 

Atendimento individual online

Atendimento Online – Vc sabe como funciona?

Depois de quase 3 anos convivendo com os atendimentos psicoterápicos online, primeiro como paciente, depois como psicoterapeuta, penso ser interessante escrever sobre as reflexões e conclusões que a experiência me proporcionou.

Não é um texto técnico.

Aliás, não li nenhum texto ou livro sobre o assunto, e escrevo a partir da minha vivência e experiência. Acredito que muitos estudos serão escritos sobre o assunto. Enquanto isso, vou aprendendo com a prática. Escrever sobre o tema é abrir espaço para o debate e reflexão.

Atendo nas duas modalidades: presencial e online.

Como tudo na vida existem os prós e os contras para ambas as modalidades.

Foram mais de 30 anos atendendo presencialmente. Nunca atendi no divã. Gosto do olho no olho. O corpo, as expressões, posturas, ritmos, olhares, roupas, manias, FALAM. Muitas vezes gritam. Um psicólogo atento lê esses sinais, interpreta e os usa durante a psicoterapia. O setting terapêutico – que nada mais é do que como funciona a sessão, combinações e contrato terapêutico – é outro aspecto a ser trabalhado pelo psicólogo: faltas, atrasos, não pagamento, silêncios, desvios de tema, atos falhos, omissões, esquecimentos, choro, gargalhadas ajudam o profissional na percepção do comportamento do paciente. Como dizia uma antiga supervisora “90% de tudo que vc precisa saber sobre seu paciente acontecem na primeira sessão.”

Olho, intuição e atenção no modo extremo.

Corroboro com a opinião da minha supervisora. Mas, é obvio que quanto mais tempo vc atende alguém, mais detalhes vc terá para entender e ajudar seu paciente. As reações, mudanças de comportamento, utilização variada ou não dos mecanismos de defesa, fuga de temas, a quantidade de informação obtida na própria relação terapeuta/paciente, na relação transferência e contra-transferência são guias fundamentais para o sucesso ou fracasso de qualquer terapia.

Grande parte disso fica prejudicado no atendimento online. Prejudicado: não extinto.

Muito do enquadramento presencial é mantido, basta atenção e experiência. O mesmo que para o atendimento presencial. Às vezes, elefantes voam pela sessão e o psicoterapeuta não vê/percebe. Bom saber que, independente da percepção do psicoterapeuta, o paciente vai continuar trazendo os temas(elefantes) até serem percebidos e trabalhados.

A maior parte dos pacientes online usam o Whatsapp, Skipe ou Face Time como mídia para o atendimento. É prático e quase todo mundo tem. Diria que o Whatsapp é o mais usado. No pequeno enquadramento do visor do telefone, que é o meio mais usado pela maioria, vc vê apenas o rosto do paciente, e o paciente, o seu. Existe o Zoom e o Meeting; pouco usados. A maioria tem dificuldades com estes aplicativos/ ferramentas (inclusive eu). Acaba prevalecendo o que é mais prático e conhecido.

Por outro lado, nos atendimentos online, a gama de facilidades para acontecer o atendimento contrabalançam com as dificuldades: disponibilidade de horários é absurdamente maior; já atendi paciente às 6:30h, as 21:00h, no sábado de manhã, algo inimaginável no atendimento presencial, onde vc depende da disponibilidade da sala de atendimento, do horário da clínica, da possibilidade de deslocamento casa/consultório. No atendimento online, vc e seu paciente estão onde precisam estar: cada um na sua residência, conectados um ao outro via internet. Não há interferência do trânsito, não há perda de tempo buscando a roupa perfeita para a ocasião (cansei de atender arrumada apenas da cintura pra cima), não há gasto com sala de atendimento, estacionamento, variedade de roupas e calçados. Quando o paciente não comparece, vc pode colocar em dia qualquer afazer doméstico ou profissional (costumo mandar uma mensagem no dia do atendimento para relembrar o paciente do seu horário, procedimento muito comum entre médicos e outros profissionais de saúde). Em caso de falta, costumo mandar um recado, caso a sessão tenha sido confirmada, de que estou no aguardo do paciente até o final do horário agendado. Todos são avisados sobre o pagamento em tais casos, assim como acontece nos atendimentos presenciais.

Uma das maiores vantagens do atendimento online é a grande variedade de horários e locais disponíveis para atender. A única variável é o seu tempo e do seu paciente. Já atendi paciente sentado no próprio carro, no seu local de trabalho e até com o paciente fazendo sua caminhada diária. Pacientes naturais do Brasil, mas que moram no exterior, podem manter seus atendimentos sem problema algum.

Acredito que o ideal seria fazer um mix de sessões online com algumas presenciais. Atendo muitos pacientes assim. Em algum momento do atendimento online, a sugestão de que se faça uma sessão presencial, tem sido sempre muito bem vinda. Se bem que, dias atrás, dei alta para uma paciente em atendimento online, após dois anos. Nunca nos vimos presencialmente e avalio o resultado da psicoterapia dela como na média de todos os outros.

Importante ressaltar que esse é o universo das sessões online individuais.

Mas como funcionam as sessões de casal, criança ou adolescente?

Segue num próximo post.

Retomando, revisando, reprogramando

Outro texto antigo de 14/11/2021 escrito e não publicado. textos do período em que o WordPress estava com problemas. Ou seria meu computador? ou seria eu? importante que está aqui, pra me fazer relembrar o que foi o ano de 2021.

A fase não é das melhores. O dia é de mau humor. É domingo. 14/11/2021. Ando dolorida: joelho direito entravado, nervo ciático inflamado e as emoções pululando. Acabei do voltar do RS (82 anos da mãe + tomografia do crâneo + exame cardíaco). Antes estive uma semana na Praia dos Carneiros (80 km do Recife) em Pernambuco, com amigos da Caminhada de Santiago de Compostela + Maurício e Hortência. “Cadê Susi” era o chamado diário de Lígia, nordestina da gema, que adora uma festa, muvuca, barulho, música. Enquanto isso, Susi estava refugiada onde o silêncio conseguia penetrar. Nesta reta final, a ideia é fechar ciclos, terminar trabalhos, consumir materiais. Certamente tenho me esforçado. Me esgarçado. Me sobrecarregado:

  1. O jardim da casa de minha mãe no RS está 80% pronto. O sol forte, a falta de chuvas e o verão que se inicia nos sugere uma parada. A retomada ficou para março de 2022. Retomada e revisão: alguns setores merecem novos olhares, um ajuste aqui, outro acolá. Está ficando prático, lindo, mas principalmente, convidativo.
  2. A casa de minha mãe vai precisar de uma nova investida e renovada. A recém contratada faxineira Ivete, tem sido uma benção (como diz minha mãe). Por enquanto ela mantém, avança alguns ambientes e evita que a casa volte ao que era antes de 2020. Para lá, poucas ideias. Por enquanto, lavar, limpar, organizar, sucatear materiais antigos e reaproveitar as sobras da casa de Lajeado e o apartamento de São Paulo (Felipe).
  3. A casa de Lajeado foi alugada pela segunda vez este ano. Espero que o segundo casal (um psiquiatra e uma dentista se adaptem e se apaixonem pela casa, jardim e bairro e comprem a casa após um ano de contrato, apesar de sentir  falta do meu eterno refúgio. Quando penso que deveria desopilar e dar um tempo na vida, me vejo naquela casa. Dias atrás passei pela lateral e vi que está tudo em ordem. Me surpreendi com o sistema de segurança colocado no local (cerca eletrificada e muitos cartazes de vigilância monitorada). O lugar onde me sinto amada, acolhida e protegida desperta medo e insegurança nos estranhos. Que assim seja.
  4. A casa de Floripa precisa de um gigantesco trabalho de pintura, faxina, limpeza, organização, sucateamento e reaproveitamento de materiais. Depois de 30 meses cercados/ abraçados por construções e reformas das casas dos vizinhos mais próximos, começo a vislumbrar dias sem barulho e poeira e o tempo necessário para transformar a casa tornando-a do jeito que sempre sonhei. Alguns móveis novos à vista.
  5. Neste meio tempo, estou liquidando todo material do ateliê. Dos 30kg de argila, devo ter algo em torno de 500gr para trabalhar. Como a argila é atóxica, estou finalizando algo em torno de 60 peças utilitárias que podem servir pratos, ir ao forno ou micro-ondas, ser presenteados e fazer parte da louçaria da casa. A argila ganhou forma. Algumas já foram queimadas, outras estão na esteira e as últimas estão sendo moldadas ou secando. Depois vem a esmaltação, e por fim, a última queima. Dezembro promete o encerramento deste ciclo. Depois, lavar e limpar os materiais e acomodar nas prateleiras e aguardar novo ciclo cerâmico.
  6. Esta semana devo finalizar a manta de crochê. Um trabalho entremeado com as séries da Netflix ou Prime Vídeo. A presenteada da colcha será ou a Vivi, ou a Simone. Daí me esbaldo na colcha dos círculos de crochê. Sem previsão de término. Junho de 2023, uma possibilidade.
  7. Também nesta semana, a ideia é preparar os pilotos de velas e velas redondas. Muita vela acabada precisando de reciclagem.
  8. Decoração de Natal e início dos preparativos para Natal.
  9. Felizmente, os aromatizadores de ambiente foram feitos e já perfumam a casa.
  10. O consultório vai bem. Ainda atendo muito mais via online do que presencial. Tenho escrito pouco. Estou lendo na média. Meu computador está em fase terminal. Idem para meu telefone.
  11. Minhas emoções? Em pandarecos. Mas hoje, é melhor deixar tudo como está. Amanhã será um novo dia.

Lágrimas de março

Fábio, meu cabeleireiro de 48 anos, morreu. A Covid19 o levou. Desabei. Ele era a felicidade em pessoa. Tínhamos altos papos, éramos da mesma região do RS – quase vizinhos – e falávamos de coisas que eram muito comuns aos dois. Quando soube de sua morte, foi um baque: inacreditável que o Fábio não estivesse mais entre nós. Em 2020, devo ter ido três vezes ao salão. Ele comentou que de cada 10 clientes, 7 haviam desaparecido, inclusive eu. O vi a última vez em novembro/2020. Ele vai fazer falta na minha vida. Ir ao salão e encontrá-lo era uma injeção de ânimo, uma massagem no ego de proporções consideráveis. 

Nesta mesma toada de perdas, estou acompanhando minha amiga Candinha, que sofreu um AVC isquêmico, fazem 3 semanas, e continua em coma. Já foi entubada e neste momento, o maior problema é a septicemia hospitalar. Ela não está nada bem. Todo dia pela manhã ao abrir o whatsapp fico apreensiva. Candinha e eu estreitamos nossa amizade, depois que nossos maridos se aposentaram. Temos muitas coisas em comum, além da paixão pela pintura e cerâmica. Em minhas preces, oro para que ela fique bem. O que necessariamente não quer dizer que fique viva cheia de sequelas neurológicas. Ela odiaria vegetar. Que ela fique bem.

Também morreu minha professora da pré-escola e primeiro ano primário. Edith tinha 89 anos e será sempre uma querida lembrança. Foi ela quem me apresentou os carimbos, as letras, a caligrafia, as palavras, frases, e por fim, o catecismo. Ela, assim como minha mãe, adorava as plantas e a música. Sempre que passo em frente à casa onde ela viveu e envelheceu, admiro o enorme gramado, os agapantos e as strelitzas. Entre tantos professores, Edith é sempre nome lembrado, alguém que fez diferença na minha vida.

Viviane – minha assistente doméstica – ainda não retornou ao trabalho. São 15 dias sem dar sinal de vida. Pelo menos, sei que sua filha se recuperou do trauma físico das mordidas do cachorro. Já os traumas emocionais ainda são uma incógnita. Nestes 15 dias tenho me superado nos afazeres de casa. Todo santo dia é insano.  Amanheço sem saber por onde começar. Onde quer que eu olhe tem algo a ser feito ou providenciado. Quando as pernas não aguentam meu fardo nem meu corpo, espicho o esqueleto e as levanto sobre uma pilha de almofadas. 

Aprendi a não desistir. 

O segredo é descansar e seguir em frente. 

Porque coisas boas e ruins acontecem a todos o tempo todo.

Texto de 28/03/21

Impressões sobre a evolução dos atendimentos psicoterapêuticos – do atendimento presencial ao atendimento online.

Tenho de admitir que, após muita relutância, hoje sou ferrenha defensora desta modalidade de atendimento psicoterapêutico.

Atualmente, 95% dos meus atendimentos acontecem via online.

Muito antes da COVID19, entre 2016/2017, formamos um grupo de psicólogas no Jurerê, em Florianópolis/SC, para onde havia me mudado no final de 2013. Encontrávamo-nos 1 ou 2 vezes por mês, para discutir as mais diversas questões. Ana foi a última integrante do grupo de cinco psicólogas de idades, cidades, tempo de formação e linhas de atuação diferentes. Em comum, vivermos todas a beira mar e o interesse de avivar o consultório num bairro badalado, onde crises e conflitos pareciam não existir. Os problemáticos iam ao centro se tratar. Queríamos criar um espaço terapêutico atento e disponível a toda comunidade, na própria comunidade.

Ana nos sacudiu com a modernidade da mídia na divulgação, no formato de cursos e atendimentos. Admito que fiquei chocada. Formada há mais de 30 anos, com inúmeras formações e especializações, uma vasta experiência clínica, o universo apresentado por Ana não tinha nada de romântico, nada de indicações, nada de projetos detalhados e encaminhamentos. Freud e Jung deveriam estar se remexendo na tumba com a forma moderna de entrar no mercado de trabalho, apresentar-se e representar-se. As expressões coworking, impulsionamentos no Facebook, reunião via zoom, página no Google, entre tantas novidades que, ou não registrei ou esqueci, só me mostraram o quão jurássica havia me tornado em muito pouco tempo. Uns 3 ou 4 anos. 

A conclusão: Ana era uma mercenária que só pensava em dinheiro e ser muito reconhecida num espaço de tempo recorde. Nada de 5 anos de muito trabalho, palestras, artigos e entrevistas, voluntariado até ser conhecida e ter uma agenda considerável.

O grupo estremeceu. Ana saiu do grupo. Não havia espaço para ela. 

Naquela época, Vanessa pagava o Doctoralia (uma espécie de Páginas Amarelas virtual), eu fazia projetos e encaminhava para escolas, Elaine ainda estava se encontrando entre Rondônia, coaching, psicologia e o casamento, e Angela queria montar grupos de Contoterapia. Todas providenciando cartões de apresentação e agendando com profissionais ligados a área para eventual parceria e encaminhamentos futuros. Me propus a escrever para o jornal do bairro. Angela participaria de atividades de Arteterapia no Open Shopping. Elaine nos falava sobre técnicas de coaching de emagrecimento. E a Psicologia? Ela não sabia exatamente por onde seguir, mas lia de tudo e fazia todo tipo de curso online que aparecia. Eu olhava com o rabo do olho, exausta com minha recém finalizada formação – Arteterapia – e a dúvida sobre novos cursos. Angela falava de Constelação Familiar. Elaine estava estudando, via online, Hipnoterapia. Céus, quanta heresia! Como alguém poderia trabalhar com uma técnica tão perigosa, tendo por base, um cursinho online? Constelação Familiar? Vanessa já havia constelado. O rabo do olho só aumentava. E céus, onde eu estava quando o mundo virou de pernas para o ar? 

As férias chegaram, o grupo relaxou e cada uma seguiu seu rumo. Sem prazo nem data para retornar. Todas percebemos que o Admirável Mundo Novo nos atingira em cheio. Havia uma única saída para todas nós. A adaptação. 

Ana não era uma mercenária. Era a portadora da notícia. A porta-voz do Novo Mundo.

Ao nos reencontrar, alguns meses após o final das férias, cada uma havia achado um jeito próprio de existir. Vanessa criou um coworking, onde todas atendemos por horário de atendimento; Angela criou o grupo das Lobas; Elaine se separou do marido, mudou e montou um consultório na Praia dos Ingleses. E eu? Eu me cadastrei no Google, como psicóloga em Jurerê, fiz alguns cursos online de escrita criativa, assisti algumas lives, podcasts e afins.

A procura por atendimento aumentou. A ferramenta de busca do Google é primordial para quem está recomeçando. Mas, me mantive fiel ao Setting Terapêutico: atendimento presencial com tudo que a Psicologia do final do século XX apregoava. 

Até chegar a COVID19. 

Na época, por questões pessoais, retornei ao RS e encaminhei meus 5 pacientes para minhas colegas. Foram sete meses de período sabático. Nesse meio tempo, 3 dos meus pacientes encaminhados, pediram para que eu os atendesse online. Eu mesma estava fazendo atendimento online, pois minha psicoterapeuta não estava atendendo presencial.

Ok,Ok,Ok.

Entrei em contato com o CRP-RS e me informei sobre as regras desta forma de atendimento. Busquei na internet. Me inspirei na minha própria psicoterapia. E aderi a esta forma de atendimento.

A conclusão: Amo de paixão e se puder, atendo 100% online. 

Quer saber como funciona? Vou comentar no próximo post.