Encontrei um amor onde eu menos esperava!

Poderia escrever sobre o grande amor da minha vida, meu companheiro de 29 anos, sobre meus dois amados e maravilhosos filhos, meus pais, amigos, ou algum animal de estimação. Com certeza, teria muito o que falar sobre qualquer um deles. Mas quando pensei sobre qual amor escrever, lembrei-me imediatamente de minha casa. Um verdadeiro e grande amor em minha vida, que se mostrou intenso e verdadeiro quando cogitava me desfazer dela. Parece tão material, tão impessoal, que soa estranho falar que uma casa possa ocupar um espaço tão importante na vida de alguém. Mas, nossa casa merece esta homenagem, merece esta declaração de amor. Quando decidimos construir esta casa, a quem chamamos carinhosamente de “Xangrilá”, procuramos um arquiteto amigo que nos sugeriu fazer um desenho de como gostaríamos que ela fosse. Não sei se esta é uma sugestão comum entre arquitetos e clientes, ou se, pelo fato de meu marido ser engenheiro, ele pensou que poderíamos “adiantar o serviço” e esboçar nossa ideia no papel. De qualquer forma, ele também traria uma ideia a partir do que havíamos conversado. No dia de nossa reunião levamos nosso pré-projeto e ficamos impressionados com a semelhança do projeto trazido por nosso arquiteto. Tirando alguns detalhes arquitetônicos mais arrojados, os dois desenhos eram iguais. Assim, não restavam dúvidas de como seria nossa casa. Ela havia se manifestado. O período de gestação de nossa casa foi de 3 anos. Um para a finalização do projeto e 2 para a construção. Nossa casa foi pensada e trabalhada à distância. Foram 3 anos de dedicação e economia total. Todos os nossos recursos e energias foram canalizados para ela. Quando ficou pronta, ou, parcialmente pronta, decidimos que era hora de nos mudar. E em pleno mês quente de dezembro de 1994, trouxemos nossa surrada, antiquada e pequena mudança para o nosso verdadeiro e novo lar. Voltamos para nossa terra natal, o Rio Grande do Sul. Foi um choque muito grande. Nossos móveis eram pequenos demais. Eram adequados para as mudanças frequentes (exigência da profissão nômade de meu marido, engenheiro de uma grande construtora) e gritavam com a imponência e modernidade de nossa casa. Muitas coisas pensadas no projeto como sendo maravilhosas se mostraram um desastre na prática, e eu, pensava comigo mesma, havíamos concebido um elefante branco cheio de defeitos e inadequada para nossas necessidades. Durante muito tempo pensei em vendê-la. Mas era o único lugar para onde poderíamos voltar, e eu acabei, aceitando-a. Nossa casa é ampla e espaçosa. Com poucas paredes divisórias, toda envidraçada, com pé direito altíssimo, e um enorme jardim de inverno central, que traz a natureza exuberante para dentro dela. Os primeiros dias e noites dentro de nossa casa foram um desafio aos meus sentidos. Até hoje ela é extremamente comunicativa. São estalos e barulhos, que com o tempo, identifiquei como os ruídos próprios de uma casa com uma estrutura metálica e de vidro muito grande, que trabalha conforme o clima. A sensação de pequenês dentro dela, a falta de paredes que dêem contornos aos ambientes, os janelões de vidro que trazem para dentro de casa o mundo lá de fora despertam sensações emocionais e fisiológicas muito intensas, que se acomodaram e se incorporaram de tal forma, que hoje, lugares pequenos, cheios de paredes e teto rebaixado me sufocam. Durante 12 anos vivi intensamente nosso Xangrilá. Continuar lendo “Encontrei um amor onde eu menos esperava!”