Rupi Kaur

Li num tapa – num final de semana – os dois livros da poetisa indiana Rupi Kaur.

“Outros jeitos de usar a boca” preencheu minha insônia de sexta-feira e “O que o sol faz com as flores” foi leitura entre as sonecas de domingo à tarde. O projeto gráfico era exatamente o que eu imaginaria para um livro de poesia: poesia forte e contundente + ilustrações do próprio punho da artista. Igualmente fortes e contundentes.

“Outros jeitos de usar a boca” é intenso e explícito. Temas como a pedofilia, o relacionamento sexual e afetivo entre homem e mulher, o rompimento e o resgate pessoal encontram na poética de Rupi Kaur, leveza e profundidade. A fisgada é imediata. A identificação, idem.

“O que o sol faz com as flores” amplia o espectro e aborda a luta dos pais imigrantes num país estranho, a dor, o amor, o abandono, as decepções e a crença em recomeços.

Ambos os textos são divididos em ciclos bem definidos: luta/perda/sofrimento, aceitação/recomeço e resgate da autoestima.

São livros de poesia. Poderiam ser livros de autoajuda. Aliás, excelentes livros de autoajuda.

Mística

Difícil precisar o momento em que o esotérico, o místico, o mágico, o transcendental se impregnaram na pele, na alma, no dia a dia. Na vida. Talvez o primeiro contato tenha sido a Ioga, via revista Pop, via rock. O mundo fora da pacata aldeia chamada Corvo – hoje Colinas – onde nasci e cresci, fui criança e adolescente, aos poucos se apresentava em páginas que falavam sobre Saquarema, Mauá, Rua Augusta, São Paulo, Canoa Quebrada. Os primeiros hippies que trocavam as grandes cidades por aldeias – como a minha – encravadas nas montanhas ou banhadas por praias desertas, começavam a despertar em mim, um olhar para o inusitado e o diferente. Aquela galera alternativa dos anos 70, mexia comigo. Fui adolescendo, colecionando revistas e paixões por astros do rock, por filosofias orientais e apetrechos, que meus pais olhavam com a curiosidade daqueles que veem surgindo alguém com uma visão de mundo muito diferente da deles. Fui aquela que subia as montanhas pra vislumbrar o horizonte e meditar, Black Sabbat e Peter Frampton foram meus filtros emocionais, usava roupas de crepe e franjas, cozinhava sopa com vegetais que eu mesma cultivava, fazia Ioga `a beira do rio, acendia incensos e velas e curtia uma energia diferente. Namorei, engravidei, casei. Me tornei prática e objetiva. Me formei psicóloga. Aquele mundo místico e esotérico deu uma trégua. A vida me apresentava a realidade de ser mãe, mulher, dona de casa e profissional. Meu reencontro com o mundo mágico aconteceu, primeiro, pela música. Enya fazia a conexão. Voltaram os incensos e as velas. Conheci uma psicóloga adepta dos florais. Fiz um curso de florais de Bach. Ridículo. Minha base teórica era psicanalítica. Depois, sistêmica. A teoria de uma e a técnica da outra me tornaram uma profissional focada em objetivos e resultados. A magia, ainda tímida, se apresentava através do contato com a natureza. Viagens a países exóticos e a simples jardinagem ampliavam meu mundo, tornando-o plural. Nas noites quentes `a beira da piscina, bebericando vinho e observando as estrelas, o transcendental pedia mais espaço. As conversas e reflexões começavam a ganhar novos e antigos contornos e tons. Eram válvulas de escape para a responsabilidade de ser adulta. Possivelmente, foram as doenças do meu filho caçula que fizeram a maior de todas as pontes entre os diferentes mundos do meu entorno. Desesperada, fui buscar explicações fora da medicina. Li textos de novas vertentes, plantei arruda, coloquei filtros dos sonhos nos quatro cantos da casa, comprei anjos, essências, incensos, abençoei a casa, estudei chás e plantas, pintei mandalas, descobri o espiritismo, vidas passadas, o Dalai Lama. Voltei a fazer ioga e meditação. Voltei a sentir antigas e conhecidas energias. O transcendental encontrou o caminho de volta. Aprendi e acredito que nem tudo tem explicação científica. Mesmo assim, existe. Faço algumas coisas que se não fizerem diferença, mal não fazem. Mas fazem bem pra mim e se bastam por isso. Entendo que quando abraço uma árvore e sinto uma conexão energética, meus amigos me olhem com o olhar destinado aos exóticos e excêntricos. Mal não faz. Me faz bem abraçar árvores. Entendo os que não acreditam no mistério da magia do mundo que nos cerca. Não tenho explicações para esta conexão mística e mágica. O que tenho são sensações e intuições inexplicáveis. Me permitir dar vazão a este lado esotérico, me inteirou. Sinto-me mais completa somando a objetividade da ciência com a magia do mistério. O bem estar resultante desta combinação, compensa. Também aprendi que dar espaço ao que não tem explicação é algo absolutamente meu. Não preciso nem da autorização, nem da permissão de quem quer que seja. Me basta apenas aceitação. Lembro de uma amiga com síndrome do pânico, que combinava medicação psiquiátrica, psicoterapia e aroma terapia como tratamento. Ela me garantia que era perfeito assim. Acredito nela.

Só a gente sabe da gente e do que nos faz bem. Se mal não fizer, porque não fazer?

“Não comi, não rezei mas me amei”

Livro indicado por uma amiga. É o primeiro livro de autoajuda que leio em anos. E sinceramente, achei uma delícia. Gisela Rao faz sua própria viagem em busca de si mesma. Ou melhor em busca de sua autoestima. Poderia haver menos palavrões e gírias ( o que às vezes, compromete o texto) mas a ideia da autora foi brilhante. Além de criar o blog Vigilantes da Autoestima (VAE), com posts diários relacionados à evolução de sua própria autoestima ao longo de 365 dias (ou seja, durante um ano) associando dicas, ideias, pessoas, além de livros, filmes e frases de um jeito divertido e atual. Nada de papo cabeça para um assunto sério e muito batido. Gostei da fórmula usada por Gisela. Não tem como não rir das expressões e neologismos únicos mas que retratam maravilhosamente bem situações vividas pelas mulheres em busca de uma autoestima melhor. Pegando carona no sucesso de Elizabeth Gilbert – “Comer, rezar e amar “ (post do dia  05.09.2011)- o livro retrata uma jornada de autoconhecimento, tomando por base a história dos “Três Porquinhos”. Assim como eles, também nossa autoestima evolui de uma estrutura de palha para a de tijolos passando pela estrutura de madeira.